Frequentada por um público pouco afetado financeiramente pela pandemia, a hotelaria de luxo vive um momento de ebulição. Tanto hotéis urbanos, quanto empreendimentos litorâneos e de campo, vêm performando com ocupações aquecidas e diárias explodindo, mantendo um movimento ascendente mesmo com as fronteiras de destinos internacionais prontas para receber turistas brasileiros.

Um exemplo claro é o Palácio Tangará, que acumulou recordes em 2022, com 91% de incremento na diária média frente a 2019 e 32% em relação a 2021, enquanto a ocupação chegou a 54%. E, ao que tudo indica, o hotel paulista prevê um 2023 com mais espaço para crescimento de receita em dois dígitos.

Ainda que conte com apenas nove propriedades no Brasil, a LHW (Leading Hotels of The World) somou US$ 26,5 milhões em vendas no mercado brasileiro em 2022 — um salto de 38% frente a 2019. Considerando apenas os resultados da América Latina, essa fatia representou 53% dos negócios da coleção de hotéis de luxo.

João Annibale, diretor regional da LHW para o Brasil, revelou em entrevista ao Hotelier News que os números devem ser ainda mais impressionantes em 2023. Apenas nos primeiros meses do ano, os hotéis brasileiros já venderam o equivalente a US$ 17,9 milhões. Ou seja, o crescimento de dois dígitos, seguindo o ritmo atual, também é uma certeza.

“Estamos vivenciando um momento em que o Brasil se mantém ativo em negócios, conferências, shows e grandes eventos. Apesar de todos os problemas, temos muito potencial de movimentação. Esse grande mix faz do lazer um segmento importante, com o bleisure em crescimento constante”, salienta Annibale.

O executivo cita eventos como o Lollapalooza e os shows do Coldplay, que lotaram os hotéis de luxo da capital paulista. “O luxo sempre chega à ocupação máxima primeiro. Temos uma nova geração ganhando espaço no consumo, com dinheiro para gastar e tempo. É um público mais jovem, que trabalha remoto e que fez de suas casas uma extensão do escritório”, acrescenta.

luxo - joão annibale

Annibale: Brasil está ativo em eventos

Promoção como estratégia

Com 65 associados, a BLTA (Brazilian Travel Luxury Association) acredita que o Brasil precisa retomar seus trabalhos de promoção para manter o movimento no setor. Para Simone Scorsato, CEO da entidade, é necessário um equilíbrio comercial entre a saída de brasileiros e a entrada de estrangeiros.

“A pandemia trouxe grandes surpresas, onde tivemos esse aquecimento da indústria de viagens de forma global. Existe uma competitividade mundial e acredito que vamos conseguir traçar ações estratégicas de promoção do Brasil para posicionar o destino melhor perante o mercado. Precisamos competir diretamente com concorrentes como Peru, Costa Rica, Colômbia e alguns países caribenhos”, avalia a executiva.

A CEO da BLTA explica que é difícil mensurar a performance dos associados, uma vez que cada empreendimento vive um momento distinto. “Não dá para colocar todos na mesma situação. Estamos em fase de fechamento de dados de 2022 para entender esse movimento”.

Com o retorno à normalidade e a abertura das fronteiras, Simone afirma que 2023 começou diferente em relação aos anos anteriores. “Estamos observando o aquecimento de brasileiros viajando para produtos de esqui. Existe sim uma demanda nacional que voltou a viajar para fora. E essa percepção fica ainda mais clara quando entramos em contato com as agências”.

Se em 2021 o turismo de luxo nacional explodiu, em 2022 a demanda se manteve aquecida, porém em 2023 a tendência é que o mercado retorne a patamares mais reconhecíveis em relação à pré-pandemia.

Demanda internacional

Detentora de três resorts de luxo no Nordeste, a Carmel Hotéis revela que 2022 foi um ano atípico. Com resultados catalisados pela demanda reprimida, a rede teve incrementos expressivos de ocupação e diária média, segundo Humberto Egydio, gerente Comercial da empresa.

“Nossa demanda varia muito de acordo com a sazonalidade, mas conseguimos manter uma ocupação estável ao longo de 2022 em todas as unidades. Alcançamos bons resultados do que foi projetado e sentimos diferenças frente a 2019. Os brasileiros passaram a valorizar mais o Brasil, logo, nossos produtos se tornaram ainda mais conhecidos”, salienta o gerente.

E os turistas estrangeiros estão retornando ao Nordeste. Egydio destaca que a Carmel Hotéis percebeu o aumento de visitantes internacionais em suas propriedades no início deste ano. “É uma parcela importante para nós. Temos o desafio de atrair esse público e o Nordeste é muito procurado para a prática de kitesurf, logo, essa demanda cresce no segundo semestre, época propícia para a prática do esporte”.

Em linhas gerais, a rede vem performando com ocupação semelhante em seus três produtos, com hóspedes nacionais oriundos de destinos como São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Goiânia.

Na capital paulista, o Rosewood São Paulo chega ao seu segundo ano de operação. Promessa da hotelaria de luxo da maior cidade do país, o empreendimento encerrou 2022 com 25% de sua demanda composta por clientes estrangeiros. Segundo Silvio Araújo, diretor de Marketing da propriedade, esse percentual deve avançar em 2023.

“Os grandes eventos têm um impacto enorme e sempre conseguimos ocupações altíssimas. Durante os shows do Coldplay, ficamos lotados, assim como no Lollapalooza. Já na Fórmula 1, existe um mix de público e patrocinadores”, diz o executivo. “Os EUA ocupam o primeiro lugar, pois está relacionado ao corporativo, seguido por países europeus, como França, Inglaterra e Itália. Mas recebemos muito pouco da América do Sul. No internacional, estamos com 40% de lazer e 60% corporativo”.

luxo - simone scorsato

Brasil precisa ser competitivo, diz Simone

2023: novas perspectivas para o luxo

Aberto no final de 2021, o Rosewood não abriu números, mas garante que fez um bom 2023 e pondera que a propriedade operou parte do ano fora de sua capacidade total. “Fizemos um ano maravilhoso em um período de muitas incertezas. Fechamos com o que tínhamos disponível, com ocupação de 70%, 20 pontos percentuais acima do planejado”, conta Araújo.

Ao final de 2022, o empreendimento já operava com 146 apartamentos e diária média oscilando entre R$ 3.500 e R$ 3.800, 20% acima da concorrência, de acordo com o diretor. “Nosso hotel é peculiar, pois se trata de um produto com a mesma qualidade encontrada lá fora. São clientes que buscam o mesmo nível de serviços, mas sem pagar as diárias de uma hospedagem internacional”, avalia o executivo.

Araújo acredita que os brasileiros estão aceitando melhor pagar as tarifas dos hotéis de luxo nacionais, principalmente no lazer. Em contrapartida, o profissional prevê certa redução de demanda no segundo semestre. “O cenário está em fase de normalização. Houve uma mudança de comportamento do consumidor de poder aquisitivo, que viajava para o exterior mesmo em feriados. Hoje, essa fatia está mais relutante para sair em pequenos períodos por conta de logística, locomoção, etc. É um cliente que vai optar por viajar para fora nas férias e períodos de sazonalidade”.

(*) Crédito das fotos: Divulgação