Recentemente, as principais redes hoteleiras do mercado internacional divulgaram seus resultados do terceiro trimestre. O que mais chama atenção, no entanto, é a resiliência em relação ao pipeline de desenvolvimento de hotéis, mesmo em meio a pressões inflacionárias e previsões de recessão global. De acordo o Skift, as empresas pintaram quadros otimistas em relação a novas construções, conversões e contratações de franquias.

No mercado dos Estados Unidos, por exemplo, a Choice Hotels – que tem forte presença no país – revelou que encerrou setembro com aumento anual de 23% no número de concessões de contratos de franquia doméstica. Embora a maioria destas sejam de conversões, a demanda por novas construções aumentou cerca de 30% no terceiro trimestre, frente ao mesmo período do ano passado.

Ainda assim, as notícias nem sempre são boas. O pipeline de construção de hotéis segue em desaceleração nos EUA, principalmente nos estados do norte do país. Entre os motivos, estão as interrupções na cadeia de suprimentos, problemas trabalhistas e alta das taxas de juros, o que dificulta o financiamento de projetos.

Diferentemente do Brasil, segundo Paul Edgecliffe-Johnson, diretor financeiro do IHG, os proprietários americanos tendem a obter financiamento por meio de bancos regionais, que apresentaram lentidão para aprovar empréstimos este ano. “Em contrapartida, proprietários de Oriente Médio e Ásia-Pacífico, que buscam empréstimos por meio de relacionamentos com bancos baseados em vínculos com outras empresas, tiveram menos problemas”, pondera.

Já o balanço da Hilton – única a apresentar crescimento no acumulado do ano em seu pipeline em construção, segundo dados da STR – revela que a empresa superou suas expectativas para o trimestre. Foram mais de 20 mil quartos assinados, elevando para um recorde de 416 mil acomodações, metade dos quais estão em construção. Ainda que as contratações internacionais estejam abaixo da média histórica, a empresa ainda prevê crescimento unitário líquido de cerca de 5% para o ano.

Conforme revelado pelo balanço do IHG, a empresa está seguindo sua meta de ter crescimento anual de 4%. Edgecliffe-Johnson antecipou que poderia ainda incorporar alguma empresa com portfólio de hotéis de valor médio ou acima. Caso isso não se concretize, a empresa provavelmente fechará o ano com crescimento de 3%.

No caso da Hyatt, a empresa espera sustentar o crescimento anual de 6,5%. “As coisas estão se firmando e temos aberturas reais para apontar no curto prazo, e temos outros negócios de portfólio nos quais estamos trabalhando, tudo o que nos dá grande confiança de que vamos sustentar esse crescimento de quartos líquidos em ano que vem”, disse Mark Hoplamazian, presidente e CEO da Hyatt.

Turbulências europeias

Como demonstrado por Sébastien Bazin, CEO da Accor, 2022 foi o ano da empresa, mesmo em meio às turbulências recessivas da Europa – onde se concentra a maior parte do portfólio da empresa. “Apesar de um ambiente difícil de taxas de juros, vemos nossas perspectivas de desenvolvimento como muito sólidas”, relata Jean-Jacques Morin, vice-presidente e diretor financeiro da Accor, ao revelar a previsão de crescimento anual líquido 3,5% no número de quartos.

Para algumas empresas, a piora da situação econômica nem sempre é negativa. É o caso da rede britânica Whitbread, que aumentou suas metas de desenvolvimento de longo prazo em função da possibilidade de hoteleiros independentes assinarem sua bandeira Premier Inn. A recessão também pode levar viajantes para o segmento onde a marca se encontra.

A cautela ficou por conta da rede sueca Scandic. Embora tenha atingido recorde histórico ao abrir 10 hotéis este ano e crescido o portfólio em 6% ao ano, a empresa abrirá apenas um hotel no próximo ano. Isso não quer dizer que a empresa congelou seu pipeline, mas que adiará as aberturas para anos posteriores.

Recuo chinês

Como era de se esperar, as restrições da China impactaram o desenvolvimento hoteleiro no país. Além disso, os mercados imobiliários chineses enfrentam severa turbulência, que pode alterar a estratégia de desenvolvimento de várias empresas, impactando indiretamente algumas redes internacionais, como Accor e Radisson Hospitality.

Todavia, o IHG afirma ter dobrado suas aberturas no país. “A maneira real como o desenvolvimento é feito na China ainda é uma cultura cara a cara, então isso está afetando nosso nível de contratações no momento”, disse Kevin Jacobs, diretor financeiro e presidente de desenvolvimento global do IHG.

“Há muita demanda por nossas marcas, principalmente Hampton e Home2, que estão apenas começando e, em seguida, estamos lançando a franquia Hilton Garden Inn. É uma longa maneira de dizer que achamos que a trajetória está positiva no longo prazo. Mas no curto, verificamos alguma instabilidade”, complementa Jacobs.

Entretanto, outros países da região seguem otimistas. Em Cingapura, por exemplo, a receita combinada de acomodações de US$ 1,4 bilhão no acumulado do ano é superior ao dobro do ano passado, fomentando novos investimentos.

Pipelines estáveis ​​são desejáveis ​​porque as empresas geralmente começam a obter receita marginal com cada unidade aberta.

(*) Crédito da foto: C Dustin/Unsplash