Para uma indústria que lutou pela sobrevivência, a afirmação chama atenção, certo? No entanto, os sinais positivos estão por todos os lados, seja em praças de lazer ou mesmo nas mais corporativas. Para a Atlantica Hospitality International, os resultados estão tão bons que até a base de comparação mais visada um ano atrás deixou de fazer sentido. “Agora, miramos a performance de 2014, que podemos dizer que foi o pico de desempenho do setor”, comenta Eduardo Giestas.

O CEO da operadora paulista recebeu a reportagem do Hotelier News em seu escritório, em Barueri (SP), na semana passada. Na pauta da conversa, um balanço dos resultados da Atlantica em 2022, previsões para o ano seguinte e as razões do otimismo atual, integração das marcas adquiridas recentemente e a aposta no crescente mercado de short-term rentals no Brasil.

Abaixo, seguem highlights da conversa com Giestas, que trazem um retrato fiel do desempenho dos hotéis de rede no Brasil. Recomendamos ler até o final!

Resultados de 2022

Segundo o executivo da Atlantica, o ano fica marcado por alta na diária média, margem de GOP (lucro operacional bruto, na tradução livre) na casa de 35% e faturamento quase duplicando frente ao ano anterior. “Temos como prática refazer nosso orçamento a cada três meses. O ano começou com o desempenho afetado pela variante Ômicron, mas em linha com o orçado. A partir de abril, nossas reprojeções só surpreenderam”, revela Giestas.

Ele aponta ainda, que a receita revisada este ano vai bater em R$ 1,75 bilhão, alta de 93% ante 2021 e 17% acima do orçado inicialmente. Um cenário mais fiel desse bom resultado, que “desconta” o efeito do crescimento da base de hotéis e do faturamento oriundo de outras linhas de negócio, o RevPar avançou 65% na mesma base de comparação. “Em relação a 2019, por exemplo, a receita total vai fechar o ano 52% acima”, acrescenta Giestas, que destaca a contribuição decisiva do aumento de 33% na diária média frente a 2019.

“É um número muito positivo no valor das diárias, o que representa crescimento real diante da inflação. Já a ocupação deve encerrar o ano na casa de 57%, sendo que nos dois últimos trimestres superou 60%. Acreditamos, contudo, que esse é um patamar já muito próximo do teto para esse indicador”, afirma. “Então, nossos hotéis voltaram a ter boa geração de caixa, repondo recursos dos fundos consumidos durante a pandemia”, completa.

Otimismo para 2023

Uma combinação de fatores faz Giestas acreditar em um 2023 positivo. Embora reconheça o cenário macroeconômico desafiador, com perspectivas de baixo crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), ele crê que o Brasil inicia, antes de outros países, um ciclo de queda dos juros, até porque a inflação está gradualmente se aproximando da meta do governo. Além disso, para ele, o câmbio deverá permanecer no patamar atual, o que estimula as viagens domésticas.

Giestas - performance e perspectivas Atlantica - interna

Giestas: receita deve superar R$ 2 bilhões em 2023

“A grande pergunta em aberto é se a acelerada demanda atual fica nesse mesmo nível. Particularmente, acredito que reduza um pouco, mas seguirá em um patamar favorável. Agora, veja, antes mesmo da pandemia o setor estava muito defasado. Então, há espaço para recuperar o desempenho dos picos históricos”, avalia o executivo, fazendo coro à afirmação do título da matéria.

Para acrescentar, o CEO da Atlantica faz uma análise a partir de outras variáveis da nossa indústria. “O lazer voltou antes, como sabemos, mas pode crescer mais diante do câmbio desfavorável. Temos como objetivo aumentar a volumetria no segmento, que hoje representa cerca de 25% da base de hotéis.” O mercado de multipropriedade, como publicado outro dia, é um caminho para crescer essa presença. “Já o corporativo também sinaliza uma retomada mais forte. Aquelas viagens de geração de negócios, que foram substituídas na pandemia pelo online, vão voltar, assim como capacitações e ações de networking”, completa Giestas.

Sobre os números orçados para 2023, ele adiantou alguns. O faturamento projetado, por exemplo, é de R$ 2,2 bilhões, o que representaria alta de 25,7% frente a este ano. Para chegar lá, a Atlantica prevê repetir a receita que funcionou em 2022: RevPar crescendo a partir do aumento da diária média, associado à expansão da base de hotéis. “A meta é subir a diária média acima da inflação, que deve ficar entre 6% e 8% ano que vem, chegando a algo próximo de 15%. Ou seja, novamente um crescimento real. Já o GOP estimado é de 40%, enquanto a ocupação deverá ficar em 61%.”

Aliança THG

Em um deal que movimentou o mercado no segundo semestre de 2019, a Atlantica assumiu os contratos de gestão do THG (Transamerica Hotel Group). O negócio acrescentou 24 hotéis (4304 apartamentos) ao portfólio da operadora paulista, que com isso superou as 170 propriedades (27 mil quartos) sob administração.

À época, muito se falou sobre a possibilidade de a Atlantica converter algumas das unidades do THG para suas bandeiras próprias (Go Inn e E Suites), mesmo tendo o direito de explorar e desenvolver, com exclusividade, a marca Transamerica. Outra possibilidade era incluir – em especial os flats de São Paulo – na sua plataforma de short-term rentals.

“Em abril deste ano já havíamos concluído a transição e integração dos hotéis e times. Pesquisas na época do negócio mostravam que a marca Transamerica tinha grande brand awareness. Então, mantivemos com a mesma bandeira”, revela Giestas. “Hoje, existem 26 hotéis em operação com bandeira Transamerica. Devemos chegar a 30 até o meio do ano que vem.”

Short-term rentals

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Giestas quer crescer também nos residenciais

Lançada em 2020, a plataforma da Atlantica já conta com aproximadamente 350 apartamentos em operação. Com o mercado agitado e atrativo para novos investimentos, a operadora paulista tem uma estratégia bem definida para expandir no segmento: concentrar os quartos em menos edifícios (para facilitar a gestão), o que passa por firmar parcerias com incorporadoras imobiliárias. Mitre, Yuni, Even, Riva, One, Global Realty são algumas delas em São Paulo. Fora do mercado paulistano, Tarraf (São José do Rio Preto) e Basesul e Pride (Curitiba) são outros exemplos.

“Nosso objetivo é ter de 4,5 mil a 5 mil apartamentos sob gestão nos próximos cinco anos. Estamos estreitando as negociações fora de São Paulo e 2022 foi um ano recorde no número de assinaturas de contrato”, conta Giestas, acrescentando que os residenciais representaram 40% de tudo que o time do Ricardo Bluvol fechou ao longo do ano.

Questionado como os investidores hoteleiros, principalmente de condo-hotéis, veem a atuação da Atlantica no semento de short-term rentals, o executivo disse que essa grande oferta de studios no mercado já “está dada”. “Esse é um negócio de hospitalidade, que cresce no mundo todo. Mais ainda, os lançamentos estão aí e serão absorvidas por proptechs ou administradoras como nós, que temos expertise.”

Giestas reconhece, contudo, que mesmo sendo um negócio de hospitalidade, o mercado de short-term rentals tem suas especificidades e complexidades operacionais. “A grande novidade dessa operação é que ela é mais desintermediada do que a hoteleira, com uma experiência bastante digitalizada no nosso caso. Além disso, a relação com os investidores é diferente e individualizada”, comenta.

“Ainda assim, no fim da linha, minha missão é a mesma nos hotéis: preciso maximizar a distribuição de dividendos para os proprietários”, finaliza.

(*) Crédito das fotos: Divulgação/Atlantica Hospitality International