O balanço do terceiro trimestre foi bem claro: a performance dos hotéis da Accor na América do Sul acelerara como carros da F1. E, com boa parte da oferta de quartos da rede francesa na região concentrada no Brasil, dá para cravar com segurança que o país vem sendo o motor desse momento positivo no mercado sul-americano, deixando no ar um otimismo para 2023.

“O Brasil está bem avançado comparado com outras regiões”, comentou Thomas Dubaere, em entrevista exclusiva para o Hotelier News. No bate-papo, ocorrido durante a etapa brasileira da F1, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, o CEO da Accor para América do Sul mostrou (com números) que a rede francesa já está na quinta marcha há um tempinho.

“Em função da Ômicron, o primeiro trimestre de 2022 foi ainda complicado, mas já havia uma tendência positiva. O segundo e o terceiro, por exemplo, foram excelentes. Em setembro, o RevPar fechou 40% acima de 2019”, destaca o belga Dubaere, já com um português bem respeitável e fazendo cada vez menos uso de palavras em inglês para se fazer compreender.

Os números apresentados pelo executivo estão em linha com o balanço do terceiro trimestre da Accor. No período, os hotéis econômicos e midscale das Américas – e o Brasil concentra boa parte desse inventário – registraram alta de 30,4% e de 24,4% no RevPar, respectivamente. Na mesma base de comparação, a diária média subiu 26% e 24,7%, respectivamente.

“Conseguimos elevar bem a diária média no Brasil, o que era bastante necessário em função da inflação. Neste momento, o país sofre menos pressão inflacionária do que outras regiões do mundo, o que nos passa um otimismo para 2023”, comentou Dubaere, enquanto o carro da Alpha Tauri fazia uma simulação de pit stop logo abaixo do camarote da Accor.

Projeções

Para 2023, o executivo revela que o orçamento prevê crescimento de RevPar acima da inflação no Brasil, a despeito dos desafios macroeconômicos desenhados para o ano que vem. “O mercado doméstico é muito grande por aqui e o país não depende do internacional como outras regiões. No próximo ano, queremos repetir o que fizemos neste, ou seja, crescer o RevPar a partir da alta da diária média”, comenta.

Ainda assim, Dubaere vê espaço para alta também na ocupação, e esse otimismo é amparado, entre outras coisas, pelo recente lançamento do programa de assinatura. “Outro fator é o nosso programa de fidelidade, que cresceu bastante nos últimos meses. Hoje, 50% dos nossos clientes vêm do ALL, percentual que havia caído para 42% durante a pandemia”, revela.

Otimismo - Accor para 2023_Thomas Dubaere interna

Dubaere: RevPar precisa subir puxado pelas diárias

Agora, três fatores-chaves explicam o orçamento otimista feito para 2023, segundo o CEO. “Primeiro, o segmento de lazer voltou bem acima de 2019, e deve se manter assim. Segundo, já temos visibilidade de que o Mice volte ainda mais forte em 2023, e isso empurra o corporativo. Por fim, as viagens de negócio devem seguir abaixo do pré-pandemia, mas temos confiança que vai crescer em relação a este ano. Agora, é importante mencionar que estimamos um resultado melhor em cima de uma base já elevada que está sendo 2022.”

Um dos temas mais estratégicos do setor atualmente também foi tema da conversa: mão de obra. Após as demissões ocorridas na hotelaria em função da pandemia, os hotéis de todo o mercado reabriram com times mais enxutos. Agora, mesmo diante da escassez de mão de obra atual, a Accor volta a operar com equipes do mesmo tamanho do período pré-Covid?

“Estamos de 10% a 12% abaixo do número de colaboradores que tínhamos em nossos hotéis no pré-pandemia. Não creio que a indústria vá superar o patamar do passado, mas chegaremos perto”, acredita Dubaere. “No entanto, é possível prever que esse número vá crescer com outras funções. Serão menos posições administrativas e mais vagas ligadas a entretenimento e coworking, por exemplo”, completa.

Pipeline

Quem também estava presente na principal prova do automobilismo nacional era Abel Castro, que atualizou a reportagem sobre o pipeline da rede francesa. Segundo o vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios da Accor América do Sul, a região deve repetir este ano a média de crescimento global da empresa.

Otimismo - Accor para 2023_JoJoe abertura

JO&JOE Largo do Boticário abriu em setembro

“Entre os hotéis que entraram e saíram da base, nosso crescimento este ano deve ser de 3% a 4%, bem em linha com a performance global do grupo, de 3,5%”, destaca Castro. “Na região, já abrimos este ano 22 unidades, com um total de 3 mil apartamentos, dos quais 1 mil quartos foram conversões”, completa o executivo, acrescentando que houve 14 inaugurações no Brasil.

Para 2023, Castro vê um potencial de expansão similar na América do Sul e no Brasil, a despeito do patamar mais alto dos juros por aqui. “Para o mercado imobiliário, a Selic bateu no teto e vai cair, com uma retração mais aguda nos próximos 18 meses, chegando a 8%”, diz. “Vivemos de acordo com a rentabilidade dos nossos ativos. Na década, posso dizer que crescemos de forma conservadora. Agora, com ritmo mais forte previsto no setor, com bons resultados, o desenvolvimento hoteleiro tende a acelerar”, acrescenta Castro.

Ele também disse que repetirá a estratégia de desenvolvimento traçada nos últimos anos no mercado brasileiro, com um racional bem claro. “Buscaremos crescer por meio de franquias em praças secundárias e terciárias. Para mercados urbanos mais centrais e hotéis de luxo, contratos de administração.”

Dubaere, que passava perto na hora da entrevista, ressaltou que parceiros estratégicos serão vitais para colocar esse plano de pé. Segundo ele, o mercado brasileiro está amadurecendo e estão aparecendo operadoras competentes, casos da Atrio, Grupo Pires e BuP Hotéis. “Estando em busca e temos que encontrar mais parceiros como eles, e vamos encontrá-los”, finaliza.

(*) Crédito das fotos: Vinicius Medeiros/Hotelier News