Encerrando o mais longo ciclo de aperto monetário, a Selic se manteve em 13,75%, informa a Folha de São Paulo. A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) não exclui a possibilidade de ajuste posterior, deixando um clima de suspense no ar que só deve passar após as eleições. Ou seja, o mercado imobiliário e hoteleiro terá que esperar um pouco mais para ter mais clareza sobre os próximos passado.

A estratégia do colegiado do BC é avaliar se a manutenção prolongada da taxa será capaz de assegurar a convergência da inflação. Isso quer dizer que, caso o processo de desinflação não transcorra como o esperado, a entidade não hesitará em retomar o ciclo de ajuste. A decisão também pode ter sido influenciada pela queda no preço do barril de petróleo no mercado internacional, além das projeções otimistas sobre a inflação.

O Copom se reunirá novamente no final de outubro para a recalibração do índice. Entretanto, especialistas afirmam que é bastante provável que a Selic se mantenha no atual patamar por um bom tempo. Para Rafael Cardoso, economista-chefe da Daycoval Asset, contudo, a indicação de incerteza do BC sobre as futuras movimentações é o ponto mais relevante do comunicado, em especial pela falta de unanimidade do colegiado sobre a decisão, em que alguns membros divergiram com viés de alta residual de 0,25 ponto percentual.

Pressões inflacionárias globais, incerteza sobre a situação fiscal do país e a pressão vinda do mercado de trabalho, são alguns dos fatores de risco para a inflação, o que pode ter causado as divergências no colegiado. Ainda assim, o BC também indicou a possibilidade de queda adicional dos preços das commodities internacionais, desaceleração da atividade econômica global mais acentuada e manutenção dos cortes de impostos projetados para serem revertidos em 2023.

Trajetória da Selic

Partindo do piso histórico de 2% ao ano, a taxa básica de juros, que pode impactar diretamente a recuperação dos serviços, chegou ao fim do ciclo no mais alto patamar em quase seis anos. De outubro a novembro de 2016, durante o governo de Michel Temer (MDB), a Selic estava fixada em 14%. Nessa trajetória, a taxa contou com 12 aumentos consecutivos entre março de 2021 e agosto deste ano, resultando em um acumulado de 11,75 pontos percentuais.

Com a decisão do Copom, o Brasil segue na liderança dos países com a maior taxa real de juros ao ano, descontada a projeção de inflação para os próximos 12 meses. Até fevereiro, o país se encontrava no topo do ranking elaborado pelo portal MoneYou e pela gestora Infinity Asset Management, sendo ultrapassado pela Rússia em março, em virtude da guerra. Em maio, contudo, o BC russo cortou a taxa de 20% para 14%, devolvendo a liderança para o Brasil.

(*) Crédito da foto: Pixabay