Desde agosto de 2023, a 123 milhas vem vivendo uma crise sem precedentes. Após dar entrada em um pedido de recuperação judicial, que já está há sete meses parado, a agência de viagens online voltou a ser acusada de irregularidades. Segundo divulgado pelo UOL, a empresa também deve a operadoras de reservas.

Fontes internas alegaram que “é golpe dentro do golpe”, e que a 123 milhas fez um “caixa dois”. No suposto esquema, a empresa recebia o pagamento pela reserva, mas não repassava os valores para a operadora. Quando havia cancelamento, a OTA também não reembolsava o cliente.

A 123 milhas transferia a culpa pelos cancelamentos argumentando que as operadoras cancelavam as reservas de forma unilateral, uma vez que muitas sequer receberam os devidos pagamentos.

De acordo com o veículo, a estratégia foi adotada na época em que a agência entrou com pedido de recuperação judicial, com cerca de R$ 2,5 bilhões em dívidas, além de 16 mil ações judiciais. Procurada, a 123 milhas alega ter todos os créditos referentes às reservas realizadas antes de 29 de agosto de 2023, que serão incluídos no processo.

A 123 milhas deve mais de R$ 130 milhões a operadoras hoteleiras, segundo levantamento feito pelo UOL. Entre as maiores estão Iterpec (R$ 25 milhões), Ezlink (R$ 15 milhões) e Diversa (R$ 13 milhões). A agência afirma que “sempre honrou seus compromissos com fornecedores e operadores”.

Desencontro de informações

Há relatos de reservas canceladas em diversas cidades no Brasil e até no exterior. Casos foram judicializados na Bahia, Paraíba e Rio, entre outros. Alguns clientes efetuaram reservas e apenas descobriram no momento do check-in o cancelamento, precisando pagar por um novo quarto.

De acordo com o diretor de uma operadora, esse desencontro de informações se tornou recorrente. “E a 123 milhas me expôs: ela mandou print do meu voucher, uma informação interna de sigilo empresarial, para clientes, dizendo ‘oh, quem cancelou foi essa empresa, processa ela”, diz o executivo. Questionada, a agência não se manifestou.

Em agosto de 2023, dias antes do fim do Promo123, a linha promocional que catalisou a crise da 123 milhas, a agência tentou tranquilizar as operadoras, relatam empresários ouvidos pela reportagem. Os casos de cancelamento continuaram até o Carnaval.

A Iterpec rompeu relações com a 123 milhas e sentenças judiciais favoráveis às operadoras forem expedidas, alegando que os cancelamentos foram de responsabilidade da agência.

“Prover conteúdo para uma empresa que claramente não blindou seus clientes e expôs seus fornecedores é dar combustível para que práticas como essas se repitam”, afirma Roberto Esteves, CEO da Iterpec.

As fontes apontam que a agência já não era bem vista pelo setor hoteleiro há algum tempo. Antes da crise, a 123 milhas mantinha negócios com mais de 20 operadoras, que intermediavam a relação com os hotéis.

(*) Crédito da foto: Estadão Conteúdo