Desde o fim das eleições de 2022, que consagraram Lula como presidente eleito, Brasília vive dias de tensão. Em dezembro, terroristas realizaram uma série de atos de vandalismo na capital federal, mas nada comparado aos crimes contra a democracia e aos Três Poderes vistos ontem (8). Como já era esperado, o terrorismo praticado por apoiadores de Jair Bolsonaro causarão, novamente, prejuízos à nação.

De acordo com a Folha de São Paulo, analistas de investimentos apontam que o vandalismo por parte dos bolsonaristas trazem à tona a ruptura política que permeia o país desde o impeachment de Dilma Rousseff, mas com um componente golpista desde o fim das eleições passadas. Na avaliação desses economistas, esse novo cenário abre uma nova dimensão de incertezas, que devem levar a muitas consequências, entre elas a fuga de capital estrangeiro.

Representantes do mercado financeiro falam em “cautela e observação” quanto aos desdobramentos do terrorismo que estampou manchetes do mundo todo hoje (9). Perante a depredação e violência nos principais símbolos da democracia brasileira, a imagem negativa para os investidores é inevitável.

“O investidor não está acostumado a esse tipo de evento, de natureza política – e nem nós estamos, na verdade”, Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, em entrevista à Folha de São Paulo. “Passa uma imagem muito ruim da situação do país e pode afugentar o investidor estrangeiro, que é quem investe na bolsa.”

Borsoi afirma que a invasão aos prédios do governo em Brasília, uma versão brasileira dos atos no Capitólio norte-americano, era considerada possível, mas pouco provável. “É negativo para os ativos brasileiros, porque significa que existe algo de muito errado na política, que não encontrou alternativas pacíficas e deixou que o cenário chegasse a este nível”.

Vandalismo - brasilia

Bolsonaristas invadem Congresso, STF e Palácio do Planalto

Desdobramentos econômicos

Para o economista, o triste episódio em Brasília aumenta a incerteza política e ressalta que é preciso acompanhar as reações do atual governo. Em contrapartida, os investidores passarão a exigir um prêmio de risco maior, causando impacto negativo no mercado.

“Na bolsa, todos os setores devem ser afetados. É um risco sistemático, que afeta em especial os ativos mais ligados ao ciclo doméstico, como setor imobiliário, varejo, locadoras e bancos”, afirma, o que inclui o setor de turismo e hotelaria.

Analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman reforça a fala de Borsoi. “Quando se pensa em Brasil, um dos argumentos para atrair capital é termos uma relativa estabilidade em relação a outros mercados emergentes”, diz. “Agora bolsa e dólar vão nos dizer o quanto eventos como o deste domingo comprometem esta imagem.”

Ainda que o cenário seja preocupante, Arbetman pondera que o momento é de cautela em vez de pânico. “O fato de estarmos em um momento delicado para o mercado de ações no mundo todo e sermos uma economia emergente, dependente do capital estrangeiro, pode pesar ainda mais na bolsa”, acrescenta. “A constatação de uma maior instabilidade política contribui para a foto ficar mais turva.”

Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos, destaca que é preciso observar as reações do governo Lula frente aos atos de vandalismo em Brasília. “Há um temor que elas possam se espalhar por todo o país, inclusive com o bloqueio em rodovias, repetindo as cenas que nós vimos nas eleições”.

Vale lembrar que os bloqueios bolsonaristas após a eleição de Lula afetaram diretamente o turismo do país, causando cancelamentos e remarcações no setor hoteleiro. “Se o movimento ganhar força e bloquear as estradas, isso trava a economia e gera impactos negativos em diversas empresas, que dependem principalmente das rodovias”, alerta Carvalho.

(*) Crédito da capa: Pedro Ladeira/Folhapress

(**) Crédito da foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil