Derrotado nas urnas, Jair Bolsonaro (PL) faz realmente de tudo para manter a fama de político do caos. Bolsonaristas contrários à derrota do atual presidente nas eleições – e com conivência do próprio – fecham desde domingo (30) rodovias pelo país, o que já vem causando transtornos para diferentes setores da economia, incluindo a hotelaria e o turismo. Fontes ouvidas pelo Hotelier News relatam um número crescente de cancelamentos e remarcações, muito embora nada ainda significativo como há quatro anos.

De acordo com balanço publicado hoje (1º) pela PRF (Polícia Rodoviária Federal), já são 271 pontos com vias obstruídas em 25 estados, aponta o G1. Durante a madrugada, os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) formaram maioria para confirmar a decisão do ministro Alexandre de Moraes que determinou à PRF e às polícias militares dos estados o desbloqueio das rodovias. Na decisão, o ministro também destacou que as PMs também podem desbloquear vias federais, multar e prender responsáveis. A PRF informou já ter desfeito 192 manifestações em estradas federais, mas não revelou especificamente onde.

Em entrevista ao Hotelier News, Roberto Bertino, CEO e fundador da Nobile Hotels & Resorts, pontuou queo número de cancelamentos vem crescendo em unidades da rede, principalmente em cidades secundárias e terciárias. “É algo natural, até porque esses mercados dependem muito de fluxo de rodovias e, com esse fluxo prejudicado, há impacto na expectativa dos viajantes, que acabam preferindo cancelar”, explica.

“Assim, temos buscado remanejar datas e manter as tarifas, de forma que não soframos com mais cancelamentos. Estamos adotando essa estratégia para reverter esse número crescente. Nas cidades abastecidas pelos aeroportos, que ainda não foram afetados pela instabilidade na distribuição dos combustíveis, o fluxo de cancelamento ainda é baixo”, complementa.

Também em conversa com a reportagem, Antônio Coradini, gestor comercial do Fazzenda Park Hotel (SC), também falou dos impactos sofridos pela hotelaria e o turismo por conta dos bloqueios das rodovias. “Temos registrado  cancelamentos e remarcações devido a esses episódios, principalmente grupos que estavam planejados para chegar nos próximos dias”, reforça.

Por outro lado, o executivo esclarece que o número de cancelamentos e remarcações no empreendimento ainda não foi tão significativo, visto que a maior parte da demanda do hotel é local. “Temos conseguido remarcar, mas é necessário estar atento à situação. Em relação a problemas de abastecimento, não tivemos nenhum impacto até aqui”, completa.

Malha aérea

A Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) emitiu alerta às autoridades para o impacto gerado na malha aérea em consequência dos protestos. As empresas aéreas estimam que, caso o cenário atual se mantenha ao longo do feriado, o setor poderá sofrer com desabastecimento de combustível.

Além disso, o transporte aéreo também pode ser afetado pela dificuldade de chegada de profissionais, tripulantes e passageiros aos aeroportos, inviabilizando a operação e prejudicando, ainda, atividades essenciais, como o transporte gratuito de órgãos para transplantes e envio de cargas.

Para reforçar essa impressão, a GRU Airport, concessionária do Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), informou que 25 voos foram cancelados nos últimos dois dias, sendo 12 ontem (31) e 13 hoje, devido à interdição parcial de um trecho da Rodovia Hélio Smidt (única via de acesso ao terminal), segundo publicado no G1. A ação dos “patriotas” compromete significativamente o turismo, que tem caminhado rumo à retomada total.

Em nota, a Latam declarou que, por conta dos atos, a situação está totalmente alheia ao seu controle, e alguns dos voos da companhia foram impactados, revela o Aeroin. Os bloqueios encabeçados pelos bolsonaristas também estão afetando os voos internacionais. A United, por exemplo, decidiu cancelar toda a sua operação prevista no aeroporto de Guarulhos para ontem e hoje. No momento, estão no terminal três aviões da companhia americana.

Movimento divide caminhoneiros

Ainda de acordo com o G1, no dia seguinte ao início das manifestações, a CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística), publicou uma nota de repúdio aos protestos, classificando-os como “antidemocráticos”.

Os movimentos pelo Brasil estão dividindo opiniões. Enquanto muitos caminhoneiros acham que os protestos são justos e legítimos para mostrar o descontentamento com o resultado das eleições, outros acreditam que o governo Lula poderá trazer melhores possibilidades de negociação para a categoria, algo que, segundo eles, não acontecia durante a gestão de Bolsonaro.

Governadores dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná já determinaram que a Polícia Militar atue para liberar as rodovias bloqueadas. “Já solicitei às nossas forças de segurança que tomem as medidas necessárias para desobstruir qualquer via ou estrada interditada por manifestações. A eleição já acabou e, agora, nós temos que assegurar a todos o direito de ir e vir e também que as mercadorias cheguem onde precisa para não haver desabastecimento”, disse Romeu Zema, governador de Minas Gerais, em entrevista ao G1.

No Rio Grande do Sul, foi montado um gabinete de crise para monitorar os bloqueios. Por meio dele, foi definido que a Brigada Militar vai usar mil policiais dos Batalhões de Choque para auxiliar a PRF na desobstrução das rodovias federais.

Vias começam a ser liberadas

Após a decisão de Moraes, policiais militares dos estados começaram a atuar na desobstrução das vias bloqueadas. No Rio Grande do Sul, o número de vias bloqueadas chegou a 42. Com a ação dos policiais, o número deve baixar gradualmente, aponta a Folha de S. Paulo.

Em Novo Hamburgo, zona metropolitana de Porto Alegre, a PRF desistiu de tentar negociar e, diante da resistência dos manifestantes, a Brigada Militar usou gás lacrimogênio para dispersar o grupo. Já em Santa Catarina, 14 pontos de manifestação já foram desmobilizados, segundo a PRF.

“Esta multa pecuniária está ajudando a convencer os participantes a se desmobilizar. Em alguns pontos, quando saímos, os manifestantes voltam e fecham de novo, e a PRF tem que retornar ao local. Seguimos trabalhando”, finaliza Adriano Fiamoncini, chefe de Comunicação da PRF-SC.

(*) Crédito da capa: Roosevelt Cassio/Reuters

(**) Crédito do vídeo: Reprodução/SBT Brasil