Mesmo ainda em julho, o Hotelier News já avisava: novembro será muito bom para a hotelaria de São Paulo. Na ocasião, a confirmação dos shows da cantora Taylor Swift provocou uma enxurrada de buscas por voos e hotéis na cidade (relembre no GIF mais abaixo), como mostravam números da Lighthouse. Poucos meses depois veio a confirmação dessa previsão, só que com resultados bem além do esperado.

Alguns dos hoteleiros ouvidos pelo Hotelier News apontam novembro como o melhor mês da história da hotelaria paulistana. E, de fato, propriedades ouvidas nesta reportagem registraram mesmo o melhor resultado desde a abertura. Voltaremos a esses números detalhadamente daqui a pouco, porque o importante agora é explicar o contexto que levou a esse desempenho extraordinário. E, para resumir em quatro palavrinhas, a força dos eventos!

Com certeza, os shows do furacão pop norte-americano ajudam bastante para diferenciar um mês de qualquer outro no calendário, mas não se pode esquecer que novembro ainda teve um Grande Prêmio de F1, que sempre turbina a ocupação e as diárias dos destinos por onde passa. E, para melhorar mais este cenário, houve ainda grandes shows de bandas como RDB, Red Hot Chilli Peppers e do cantor Roger Waters, além da realização de uma edição do UFC em São Paulo após quatro anos. Isso tudo sem contar a agenda usual de feiras e congresso. Foi realmente uma tempestade perfeita.

São Paulo - furacão Taylor Swift

Anúncio do show de Taylor Swift impulsionou as buscas

Fontes com acesso a dados da Omnibees, um dos principais canais de venda online do país e com uma base de hotéis clientes expressiva na cidade, confirmaram à reportagem que o volume de check-ins cresceu quase 30% na comparação anual, lembrando que novembro de 2022 também teve GP de F1 e bons números na hotelaria paulistana. Frente a março de 2023, outro mês histórico em São Paulo, a alta foi de quase 10%.

A pedido da reportagem, a STR enviou um relatório com dados acumulados até o dia 26 de novembro. Segundo a empresa, as diárias médias chegaram a mais de R$ 1 mil por quatro dias consecutivos (de 2 a 5 de novembro). Em relação à ocupação, o mercado registrou seis dias seguidos de índices acima dos 80%, havendo ainda duas datas acima de 90% e um pico no dia 8 (90,5%). Ainda segundo o levantamento, a média acumulada até o dia 26 é de 70,6%, ainda abaixo do recorde histórico de março deste ano (73%) – e repetido em agosto de 2019.

Ainda falando em preço, segundo números da Lighthouse, a tarifa pública média em São Paulo bateu em R$ 1170 ao fim novembro, maior valor bruto já registrado pela plataforma desde o início do monitoramento da cidade, em 2013. “Além disso, a tarifa pública foi 12% mais alta na comparação com março, que era o recorde anterior”, acrescenta Ricardo Souza, Team Leader Latam da empresa de data intelligence. Para ter um referencial do bom desempenho, a diária média da capital paulista no acumulado até outubro é de R$ 474,72, de acordo com dados do InFOHB. Em março, foi de R$ 542,74.

Obviamente, caros leitores, os números do InFOHB são apenas referências, pois, do contrário, estaríamos comparando laranjas com maças, e sob vários aspectos. Ainda assim, a análise ajuda a dimensionar corretamente o tamanho de novembro para a hotelaria de São Paulo, ainda mais após anos de dureza em função da pandemia, que fez consumir o caixa da esmagadora maioria dos empreendimentos mundo afora.

“Novembro foi um mês recorde em São Paulo, impulsionado pelos grandes shows internacionais, que aconteceram por 10 dias, e eventos. Só para citar um deles, a F1, tivemos um RevPar 2,5 vezes superior no sábado que antecedeu a corrida frente a um sábado comum do mês anterior”, comentou Guilherme Marques, diretor de Revenue Management & Distribuição da Accor Américas na divisão Premium, Midscale & Economy, em contato com a reportagem

São Paulo – reservas info STR

E, diante de uma performance tão boa, é natural pensar que o segmento de short-term rentals também tenha se beneficiado. E isso de fato aconteceu. Segundo dados da Lighthouse, a ocupação de novembro chegou a 68%, recorde desde o início do monitoramento feito pela empresa, com picos de 90% ao longo do período.

Por toda cidade e categoria

Assim como outros segmentos foram beneficiados, pode-se falar também que todas as regiões da cidade lucraram com a forte demanda do mês passado. Donos de seis hotéis no Centro de São Paulo, entre eles o Reinales Plaza Hotel e o Lux Hotel, Antônio Reinales conta que novembro apresentou, de longe, os melhores resultados desde o arrefecimento da pandemia.

“A ocupação nos hotéis independentes do Centro estiveram alta. Nas nossas propriedades, variando de 80% a 85%”, revela Reinales, que também é membro da diretoria da ABIH-SP. “O resultado tem relação com os eventos na cidade, mas, como estamos no final do ano, o turismo de compras na 25 de Março também veio muito forte”, completa.

São Paulo - Guilherme Martini

Martini: São Paulo puxou receita da AHI

Além de se espalhar pela capital paulista, a forte demanda também favoreceu hotéis de todo tipo de categoria, do econômico ao luxo. Na Atlantica Hospitality International, por exemplo, receita de novembro avançou 21% frente a média mensal de 2023 e, embora a rede tenha registrado bons números em diferentes praças do país, os grande impulsionadores desse desempenho foram os empreendimentos localizados em São Paulo.

Com um portfólio de 49 propriedades na cidade, entre hotéis e residenciais, a rede paulista viu a ocupação no período do show da Taylor Swift superar os 80%.

“Os grandes eventos em algumas cidades brasileiras, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro, apresentaram grande ocupação em toda a rede, além de movimentar toda a economia local. Estamos confiantes com a nossa estratégia de negócios e os indicadores são reflexo desse otimismo”, diz Guilherme Martini, vice-presidente de Operações, Vendas e Marketing da Atlantica, para o Hotelier News.

Já no luxo, tanto o Palácio Tangará, quanto o Grand Hyatt São Paulo, registraram o melhor mês desde a inauguração, por exemplo. “Em receita, tivemos crescimento de 40% sobre 2022 e de 30% acima do budget projetado para o mês. Olhando para a diária média e para a ocupação, a alta obtida foi de 10% e de 16%, respectivamente, na comparação anual. Foi nosso melhor mês em 21 anos de operação”, revela Eduardo Bressane, diretor geral do Grand Hyatt São Paulo.

Diretor geral do Palácio Tangará, Celso Valle conta que a propriedade da Oetker Collection teve no RDB a sua Talyor Swift. “Em função do show da banda mexicana, foram 15 dias de lotação para nós. Além disso, tivemos nossa melhor ocupação para o período de F1. Comic Com e Primavera Sound também geraram boa demanda, o que nos possibilitou registrar a diária média mais alta do ano”, destaca Valle, acrescentando que o indicador fechou novembro a R$ 3080, enquanto a ocupação bateu em 84%. “Novembro foi como uma tempestade perfeita.”

Próximo ao Estádio do Morumbi e “numa reta só” para o Autódromo de Interlagos, o Novotel Morumbi também apresentou excelente desempenho. Gerente geral da propriedade da Accor, Raphael Martini conta que, na comparação com março deste ano, que já havia sido um mês histórico para a hotelaria paulista, a receita total do empreendimento avançou 13%. “Desde que estou à frente do hotel, é nosso melhor mês. No período, a diária média cresceu 11% frente a março, com a ocupação subindo 2% na mesma base comparativa”, acrescenta.

São Paulo - ocupação STR

Como pode ser visto no infográfico acima, a ocupação no segmento de short-term rentals também foi excelente em novembro. Um dos principais players desse mercado em São Paulo, a B.Homy teve o melhor mês de seus oito anos de operação. “Em relação ao mês imediatamente anterior, tivemos aumento de 57% em RevPar, de 21% em ocupação e de 30% na diária média”, revela William Astolfi, fundador e CEO da B.Homy, que vai fechar o ano com 500 apartamentos sob gestão na cidade, ao Hotelier News.

“Se compararmos com outro mês em que tivemos grande demanda em São Paulo, caso de março deste ano, quando houve os shows do Coldplay e o festival Lollapalooza, mesmo assim o resultado foi bem superior. Nesta base comparativa, registramos aumento de 33% em RevPar, de 10% em ocupação e de 22% em diária média”, continua Astolfi.

Maré positiva e dever de casa

Sim, o hoteleiro paulistano tem que iniciar dezembro celebrando. O resultado do mês passado auxilia bastante os empreendimentos locais na tarefa de recomposição do caixa, totalmente dilapidado durante o período pandêmico. A boa parte dessa história toda é que, para 2024, as perspectivas são positivas no segmento de eventos de São Paulo, que está entre as 30 melhores cidades do mundo para sediar feiras e congressos.

Dados do SPCVB compilados até 6 de novembro apontam que, para próximo ano, já existem 220 encontros confirmados na capital paulista. Entre eles, 55 são congressos, 49 eventos técnicos e científicos, 84 feiras e 32 de outras categorias, com previsão de atrair mais de 18 milhões de visitantes.

Que os hotéis da cidade tenham sabedoria para usar bem os recursos que entraram no caixa em 2023 e entrarão no ano que vem proveniente dessa boa projeção oriunda do segmento Mice. Há desafios importantes a serem superados, como investimentos em mão de obra e ajustes para melhorar a qualidade do serviço, que teve percepção de queda na visão do consumidor.

Mas tudo bem. Deixa isso para 2024, embora o trabalho deva começar o quanto antes. Por enquanto, vamos celebrar. Obrigado Taylor Swift!  

(*) Crédito da capa: Vinicius Medeiros/Hotelier News 

(**) Crédito da foto: arquivo HN

(***) Crédito dos infográficos: Divulgação