Os novos caminhos da rentabilidade hoteleira
16 de agosto de 2023O primeiro semestre de 2023 e o ano passado têm algo em comum. Sim, todo hoteleiro percebeu que a venda de quartos a preços crescentes era feita sem muito esforço, com a demanda reprimida pós-pandemia levando a hotelaria nacional e mundial – como mostram balanços das redes internacionais – a resultados acima da inflação. Ao que tudo indica, 2024 tende a ser diferente e mais desafiador diante de um processo de desaceleração visível no mercado. Então, fica a pergunta: como seguir garantindo a rentabilidade hoteleira?
Bem, para especialistas em RM (Revenue Management) participantes do painel RM mais corajoso, ocorrido, na semana passada, durante a Hotel Data Conference, três caminhos tendem a garantir melhores margens neste novo cenário pós-demanda reprimida elevada. São eles: trabalhar o aumento das receitas auxiliares; mirar o incremento do faturamento total em vez do RevPar; e investir em tecnologia para ter mais eficiência no negócio.
Antes de melhor elaborar essas questões, vamos dar um toque brasileiro ao tema. Parceria do Hotelier News com a OTA Insight, os dados do primeiro relatório do Hotel Trends Stats (acesse aqui) apontam que várias praças no país já têm dificuldade de sustentar o mesmo nível de demanda e de preço nos próximos meses frente a 2022. Agora, 2024 tende a ser mais desafiador para os hotéis em todo o mundo, como mostra o debate no evento promovido pela STR, na semana passada.
“Se você ainda administra hotéis com as mesas estratégias de dois ou três anos atrás, ajuste isso o quanto antes”, recomenda Gilbert Arredondo, vice-presidente sênior de Estratégia de Receita da Remington Hospitality. “É preciso levar o uso de dados a outro nível para preservar suas margens daqui para frente”, completa.
Vice-presidente de Receita e Estratégia de Distribuição da Pyramid Global Hospitality e também participante do painel, Priya Chandnani corroborou as palavras de Arredondo, mas foi além. Ela disse que investir em análise de dados ajuda a melhor entender e avaliar as tendências de gastos dos clientes já dentro do hotel. “Isso pode ser percebido como um risco, mas é uma oportunidade valiosa para analisar o gasto real do cliente em vários canais e não apenas na receita de hospedagem.”
Novo foco
A executiva da Pyramid acrescentou que, nos últimos anos, a operadora tem priorizado a receita total por quarto ocupado em vez do RevPar. Segundo Priya, essa mudança tem permitido à empresa fazer melhores comparações baseadas no desempenho de receitas auxiliares, como do A&B (Alimentos & Bebidas) ou up grade de quartos.
“Seus fluxos de receita auxiliares acompanharam a taxa de inflação no mesmo ritmo da sua diária média? Caso contrário, você provavelmente terá a oportunidade de voltar, analisá-los e ajustá-los para tentar elevar seu faturamento total”, complementou Arredondo. “E o que isso faz é realmente aumentar suas margens de lucro, porque não há mais custo envolvido, como de mão de obra, para gerar essa receita adicional.”
Já Kari Carr, disse que o aperto das margens no auge da pandemia forçou os profissionais de RM a buscar o aumento das receitas adicionais. Segundo as vice-presidente de Asset Management da Pebblebrook Hotel Trust, atrair o cliente certo que gastará mais em serviços extras acelera (em muito) o retorno de investimento para chegar lá.
“No final do dia, você precisa de boas margens para trazer bons resultados e, principalmente, pasta continuar a reinvestir, seja no ativo, em tecnologia ou nas pessoas”, avalia Kari. “É algo que estamos desafiando nossas equipes a redefinir o que significa ser o hóspede ideal em seus hotéis e, então, quais são as estratégias de geração de receita para atrai-los e fazê-los gastar mais e mais na propriedade.”
Risco e prêmio
Gerente sênior de Desenvolvimento de Software da IDeaS, Tom Crider ressaltou também no painel que é impossível fala de mudanças na estratégia de qualquer empresa sem falar de pessoas. É, neste sentido, ele vê um ponto-chave para colocar em prática as três estratégias citadas no texto é deixar o time confiante para assumir riscos.
“Em uma organização onde as pessoas cuidam umas das outras, onde o sucesso de uma pessoa não é percebido como o fracasso pela outra e vice-versa, isso é alcançado com mais facilidade. Ou seja, é criar um ambiente onde o time compete com nossos concorrentes e não entre eles”, comenta.
Já Chandnani acrescentou que ter confiança para assumir um risco é vital, assim como aprender com isso quando não dá certo. Ele destacou ainda que algumas decepções no passado vieram quando o time de RM tentou atingir uma meta sem a ajuda de outros departamentos. “Ou seja, não aprendemos a arte da colaboração. Hoje, posso dizer que temos a capacidade de dizer que somos uma equipe.”
“Não tenha medo também de ligar para um colega de outra empresa e dizer: ‘estou tentando isso, você quer fazer fazer também?’”, disse a executiva da Pyramid. “E nós testamos juntos porque acho que muitas ideias incríveis vêm da colaboração”, finaliza.
(*) Crédito da capa: nattanan23/Pixabay
(*) Crédito da foto: Hotelier News