O que parecia certo volta a ser duvidoso quanto à retomada dos eventos no Brasil. Com o surgimento da variante Ômicron e uma nova explosão de contágios por Covid-19, o setor estremeceu diante de mais incertezas. Para a hotelaria, cancelamentos, remarcações, mudanças nos formatos, além de impactos nas demandas futuras assombram o ano que teria tudo para ser o clímax da recuperação da crise.

Os primeiros indícios vieram com o cancelamento das festas de Réveillon, o que aparentemente teve pouca repercussão nas hospedagens. Um exemplo claro é o Rio de Janeiro, que mesmo com as mudanças chegou a quase 100% de ocupação na virada do ano. Quanto ao Carnaval, ainda é cedo para dizer como o setor vai reagir.

No segmento Mice, o cenário é diferente. A Alagev (Associação Latino Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas) confirmou a 17ª edição do Lacte para março, em formato híbrido. Por outro lado, a WTM-LA retorna aos moldes presenciais em 2022, em evento que promete reunir 500 expositores e 8 mil visitantes no Expo Center Norte, em abril.

Com o surgimento da Ômicron, fornecedores e organizadores de eventos iniciaram um movimento de apoio à realização das ações. A Alagev emitiu uma nota à imprensa, assinada por Giovana Jannuzzelli, diretora executiva da entidade, recomendando que parceiros e associados mantenham suas datas.

O texto reforça o avanço da vacinação no Brasil e destaca que o setor tem as ferramentas necessárias para promover eventos de forma segura. “O segmento corporativo já foi muito afetado por conta da pandemia da Covid-19. Nestes dois anos, aprendemos como realizar encontros com organização e proteção para todos os participantes e colaboradores. O Brasil já tem quase 145 milhões de pessoas com a segunda dose da vacina (67,93% da população) e mais de 31 milhões (14,65% da população) com a dose de reforço. Estamos pensando no bem-estar de todos os envolvidos, e sabemos que somos capazes de fomentar encontros de forma controlada e monitorada. Inclusive, tais práticas foram comprovadas com os eventos-teste realizados ao longo dos meses anteriores”, diz o comunicado.

eventos-raffele-cecere

Decisões precisam ser baseadas em dados, recomenda Cecere

Nada de pânico

Detentor de um portfólio de 47 hotéis parceiros, o Grupo R1 contabilizou 30 eventos adiados e cinco cancelados até o momento. Apesar do susto, Raffaele Cecere, presidente da empresa de audiovisual, pondera que as remarcações estão acontecendo a curto prazo e que não há motivo para pânico no setor.

“O momento é diferente do que vivemos em 2020 e 2021. Os clientes estão cancelando menos e adiando para o mês seguinte, o que é positivo. Precisamos tomar decisões baseadas em fatos e dados, e não com emoção. Notamos que as pessoas estão mais conscientes e otimistas, olhando para o cenário pandêmico com mais racionalidade”, pontua Cecere.

Ele ainda salienta que o segmento absorveu diferentes aprendizados ao longo dos últimos anos, o que gera maior confiança para a continuidade dos eventos em 2022. “Precisamos voltar a normalidade, pois é necessário economicamente e psicologicamente falando. Eu aposto na experiência do setor a nosso favor, mas sempre com cautela e seguindo os protocolos e boas práticas”, acrescenta o executivo da R1.

Em sua maioria, os eventos remarcados ou cancelados são de grande porte, com uma média de 500 pessoas. Recentemente, o governador de São Paulo, João Doria, recomendou que os organizadores limitem a capacidade dos espaços para 70%.

“Evento é uma palavra muito genérica, visto que temos diferentes perfis no setor. No caso de eventos fechados, essa regra é válida. No corporativo, essa retração de público é um fenômeno que deve se perpetuar, visto que muitas empresas descobriram o impacto positivo do formato híbrido. Uma estratégia é recompensar os participantes presenciais de alguma forma, como experiências no hotel ou resort”, sugere Cecere.

eventos - brenno medeiros

Na Rede Tauá, 20 eventos foram adiados, conta Medeiros

Impacto na hotelaria

Na segunda semana de janeiro, um dos ápices da nova onda de contágios, a Rede Tauá de Hotéis recebeu uma série de pedidos de remarcações. De acordo com Brenno Medeiros, gerente Regional de Vendas, em toda a rede, cerca de 20 eventos foram adiados. “Tivemos muitas solicitações de remarcações para eventos que seriam realizados em janeiro e nos primeiros dias de fevereiro. A maioria dos organizadores está optando por mudar para março e abril, então, estamos otimistas”.

Do montante, quase 100% são ações corporativas, visto que a rede quase não recebe eventos sociais. Do portfólio do Tauá, a unidade de Atibaia foi a mais afetada por receber um volume maior de solicitações devido a sua estrutura para convenções, com capacidade para acomodar até três mil pessoas.

“Estamos operando com 60% da capacidade dos espaços e trabalhamos de acordo com as indicações dos governos. Seguimos as diretrizes estaduais e municipais. Para as remarcações, sugerimos um novo período, alinhando junto ao cliente as datas futuras e ajustes nas agendas”, explica Medeiros.

A Rede Tauá afirma que manteve todos os protocolos, como controle de ocupação, redução de capacidade e demais medidas sanitárias. “Não fizemos nenhuma mudança quanto aos protocolos, que seguimos de maneira bastante rigorosa”, complementa o gerente.

Um dos principais espaços para eventos no setor hoteleiro paulistano, o Sheraton São Paulo WTC encerrou dezembro com cerca de 15 contratos assinados. Entretanto, em janeiro o número de solicitações caiu drasticamente. Fernando Guinato, diretor do empreendimento, revela que não recebeu pedidos de cancelamentos, mas que as demandas para remarcações e mudanças de formatos ganharam espaço.

“Não tivemos cancelamentos, mas alguns clientes optaram por mudar a data de seus eventos. Outros preferiram adotar o formato híbrido como forma de evitar a proliferação do vírus. De fato, o principal impacto que sentimos foi na assinatura de novos contratos, pois muitos organizadores estão esperando passar essa nova onda para a tomada de decisão”, pontua o diretor.

Assim como o Grupo R1, a Rede Tauá sentiu o maior baque em eventos de grande e médio porte. Medeiros diz que a maioria dos clientes está remarcando suas ações para a segunda quinzena de fevereiro. “Em linhas gerais, o setor está aquecido. Sentimos que os organizadores estão querendo promover seus eventos e que o pior já passou. Temos uma expectativa positiva para a manutenção dos eventos futuros, com novos pedidos e cotações”.

(*) Crédito da capa: headway/Pixabay

(**) Crédito das fotos: Nayara Matteis/Hotelier News e Divulgação/Rede Tauá de Hotéis