Hotelaria vive nova onda de mudanças e remarcações de eventos
31 de janeiro de 2022O que parecia certo volta a ser duvidoso quanto à retomada dos eventos no Brasil. Com o surgimento da variante Ômicron e uma nova explosão de contágios por Covid-19, o setor estremeceu diante de mais incertezas. Para a hotelaria, cancelamentos, remarcações, mudanças nos formatos, além de impactos nas demandas futuras assombram o ano que teria tudo para ser o clímax da recuperação da crise.
Os primeiros indícios vieram com o cancelamento das festas de Réveillon, o que aparentemente teve pouca repercussão nas hospedagens. Um exemplo claro é o Rio de Janeiro, que mesmo com as mudanças chegou a quase 100% de ocupação na virada do ano. Quanto ao Carnaval, ainda é cedo para dizer como o setor vai reagir.
No segmento Mice, o cenário é diferente. A Alagev (Associação Latino Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas) confirmou a 17ª edição do Lacte para março, em formato híbrido. Por outro lado, a WTM-LA retorna aos moldes presenciais em 2022, em evento que promete reunir 500 expositores e 8 mil visitantes no Expo Center Norte, em abril.
Com o surgimento da Ômicron, fornecedores e organizadores de eventos iniciaram um movimento de apoio à realização das ações. A Alagev emitiu uma nota à imprensa, assinada por Giovana Jannuzzelli, diretora executiva da entidade, recomendando que parceiros e associados mantenham suas datas.
O texto reforça o avanço da vacinação no Brasil e destaca que o setor tem as ferramentas necessárias para promover eventos de forma segura. “O segmento corporativo já foi muito afetado por conta da pandemia da Covid-19. Nestes dois anos, aprendemos como realizar encontros com organização e proteção para todos os participantes e colaboradores. O Brasil já tem quase 145 milhões de pessoas com a segunda dose da vacina (67,93% da população) e mais de 31 milhões (14,65% da população) com a dose de reforço. Estamos pensando no bem-estar de todos os envolvidos, e sabemos que somos capazes de fomentar encontros de forma controlada e monitorada. Inclusive, tais práticas foram comprovadas com os eventos-teste realizados ao longo dos meses anteriores”, diz o comunicado.
Nada de pânico
Detentor de um portfólio de 47 hotéis parceiros, o Grupo R1 contabilizou 30 eventos adiados e cinco cancelados até o momento. Apesar do susto, Raffaele Cecere, presidente da empresa de audiovisual, pondera que as remarcações estão acontecendo a curto prazo e que não há motivo para pânico no setor.
“O momento é diferente do que vivemos em 2020 e 2021. Os clientes estão cancelando menos e adiando para o mês seguinte, o que é positivo. Precisamos tomar decisões baseadas em fatos e dados, e não com emoção. Notamos que as pessoas estão mais conscientes e otimistas, olhando para o cenário pandêmico com mais racionalidade”, pontua Cecere.
Ele ainda salienta que o segmento absorveu diferentes aprendizados ao longo dos últimos anos, o que gera maior confiança para a continuidade dos eventos em 2022. “Precisamos voltar a normalidade, pois é necessário economicamente e psicologicamente falando. Eu aposto na experiência do setor a nosso favor, mas sempre com cautela e seguindo os protocolos e boas práticas”, acrescenta o executivo da R1.
Em sua maioria, os eventos remarcados ou cancelados são de grande porte, com uma média de 500 pessoas. Recentemente, o governador de São Paulo, João Doria, recomendou que os organizadores limitem a capacidade dos espaços para 70%.
“Evento é uma palavra muito genérica, visto que temos diferentes perfis no setor. No caso de eventos fechados, essa regra é válida. No corporativo, essa retração de público é um fenômeno que deve se perpetuar, visto que muitas empresas descobriram o impacto positivo do formato híbrido. Uma estratégia é recompensar os participantes presenciais de alguma forma, como experiências no hotel ou resort”, sugere Cecere.
Impacto na hotelaria
Na segunda semana de janeiro, um dos ápices da nova onda de contágios, a Rede Tauá de Hotéis recebeu uma série de pedidos de remarcações. De acordo com Brenno Medeiros, gerente Regional de Vendas, em toda a rede, cerca de 20 eventos foram adiados. “Tivemos muitas solicitações de remarcações para eventos que seriam realizados em janeiro e nos primeiros dias de fevereiro. A maioria dos organizadores está optando por mudar para março e abril, então, estamos otimistas”.
Do montante, quase 100% são ações corporativas, visto que a rede quase não recebe eventos sociais. Do portfólio do Tauá, a unidade de Atibaia foi a mais afetada por receber um volume maior de solicitações devido a sua estrutura para convenções, com capacidade para acomodar até três mil pessoas.
“Estamos operando com 60% da capacidade dos espaços e trabalhamos de acordo com as indicações dos governos. Seguimos as diretrizes estaduais e municipais. Para as remarcações, sugerimos um novo período, alinhando junto ao cliente as datas futuras e ajustes nas agendas”, explica Medeiros.
A Rede Tauá afirma que manteve todos os protocolos, como controle de ocupação, redução de capacidade e demais medidas sanitárias. “Não fizemos nenhuma mudança quanto aos protocolos, que seguimos de maneira bastante rigorosa”, complementa o gerente.
Um dos principais espaços para eventos no setor hoteleiro paulistano, o Sheraton São Paulo WTC encerrou dezembro com cerca de 15 contratos assinados. Entretanto, em janeiro o número de solicitações caiu drasticamente. Fernando Guinato, diretor do empreendimento, revela que não recebeu pedidos de cancelamentos, mas que as demandas para remarcações e mudanças de formatos ganharam espaço.
“Não tivemos cancelamentos, mas alguns clientes optaram por mudar a data de seus eventos. Outros preferiram adotar o formato híbrido como forma de evitar a proliferação do vírus. De fato, o principal impacto que sentimos foi na assinatura de novos contratos, pois muitos organizadores estão esperando passar essa nova onda para a tomada de decisão”, pontua o diretor.
Assim como o Grupo R1, a Rede Tauá sentiu o maior baque em eventos de grande e médio porte. Medeiros diz que a maioria dos clientes está remarcando suas ações para a segunda quinzena de fevereiro. “Em linhas gerais, o setor está aquecido. Sentimos que os organizadores estão querendo promover seus eventos e que o pior já passou. Temos uma expectativa positiva para a manutenção dos eventos futuros, com novos pedidos e cotações”.
(*) Crédito da capa: headway/Pixabay
(**) Crédito das fotos: Nayara Matteis/Hotelier News e Divulgação/Rede Tauá de Hotéis