Quem acompanha nossas reportagens já sabe que 2022 foi positivo para a hotelaria. Agora, sempre é bom tangibilizar essa avaliação com números. Neste sentido, o InFOHB presta um grande serviço ao mercado hoteleiro, apresentando os indicadores de performance das operadoras associadas mensalmente, dando ainda um bom retrato da hotelaria como um todo. Produzida pelo FOHB, a edição nº 185 do InFOHB acaba de sair do forno e o Hotelier News teve acesso em primeira mão à pesquisa, que apresenta um balanço final do ano recém-concluído.

No geral, o setor prosseguiu o processo de recuperação iniciado no segundo semestre de 2021, acelerado ainda mais a partir do segundo trimestre do ano passado. “Sim, a variante Ômicron atrapalhou um pouco, mas dali em diante o mercado acelerou, com a volta do corporativo e dos eventos”, explica Orlando Souza, presidente executivo do FOHB, em entrevista ao Hotelier News. “Fechamos 2022 recuperando os níveis de 2019, e era para isso que toda hotelaria vinha trabalhando. Então, fazemos uma avaliação positiva do ano”, completa.

A ocupação anual dos hotéis associados ao FOHB no país, por exemplo, encerrou 2022 a 59,2%, queda de apenas 0,3% frente a 2019. Em compensação, houve uma recuperação expressiva da diária média, que avançou 21% (a R$ 282,85) na mesma base de comparação. Essa alta praticamente corrige o IPCA acumulado no período (de 24,67%), mas é bom ressaltar que algumas praças, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vitória e Recife, superam os 30% de crescimento no indicador (veja os números abaixo por região e nacional).

FOHB - dados gerais 2022 Brasil 1

Esse importante aumento das diárias ajudou os hotéis brasileiros na tarefa de recomposição dos caixas, que foram bastante machucados durante a pandemia. Mais ainda, alta nos preços guiou o crescimento do RevPar, que subiu 20,6% (a R$ 167,44) em 2022. “A recuperação da diária média foi, sem dúvidas, o ponto alto de 2022. No entanto, precisamos considerar que a inflação da hotelaria é maior do que o IPCA, que é um índice base”, comenta Paulo Mélega, vice-presidente de Operações da Atrio Hotel Management e do FOHB.

Para ampliar esse raciocínio, Mélega destaca que custos relevantes para a operação hoteleira, como alimentos, energia e dissídio coletivo da categoria, subiram acima do IPCA. “O setor tem ainda muitos contratos indexados ao IGPM, que também aumentou acima do IPCA. Ou seja, a alta nas tarifas não nos permitiu corrigir por completo o crescimento dos custos que tivemos em 2022. Ainda assim, foi um ano positivo. Não resta dúvidas!”, afirma.

“Vale destacar ainda que, frente ao pico do setor nos últimos anos, em 2014, os preços ainda estão defasados. Ou seja, o trabalho de recuperação da diária média continua”, acrescenta Souza. “É uma coisa a ser continuamente perseguida pelos hotéis, para que possam ter capacidade de caixa para investimentos importantes, como renovação dos ativos, qualificação da mão de obra e remuneração dos investidores”, completa o presidente executivo do FOHB.

Mais números

Em uma análise por praças (dados completos mais abaixo), é possível notar que cidades com perfil de lazer tiveram desempenho melhor, casos de Recife, Salvador, Florianópolis e Rio de Janeiro. A Cidade Maravilhosa, por sinal, pode ser considerada um dos principais destaques de 2022, registrando alta nos três indicadores avaliados. Em termos de ocupação, por exemplo, a capital fluminense foi um dos seis, entre os 15 municípios pesquisados, a apresentar variação positiva frente a 2019. Além disso, teve uma das maiores altas de diária média e, por consequência, de RevPar no país.

Outra praça estratégica no país, mas de perfil corporativo, São Paulo fechou com queda na ocupação frente a 2019, mas também surfou o movimento de alta nas tarifas vista no restante do mercado. Para Mélega, a diferença no ritmo de retomada das duas principais cidades do Brasil tem uma explicação lógica. “Gosto de dividir 2022 em três etapas distintas. No primeiro quadrimestre, ainda sob influência da Ômicron, os segmentos corporativo e de eventos ainda estavam lentos, o que limitou o ritmo de alta na diária média”, comenta.

“No segundo quadrimestre, vimos uma demanda forte tanto no lazer, quanto nos segmentos corporativo e de eventos. Foi a partir de maio, portanto, que a diária média passou a acelerar de verdade. Por fim, na reta final de 2022, tivemos um volume menor, com a ocupação desacelerando um pouco em função de quatro razões: eleição e o conturbado pós-eleição, com fechamento de rodovias; Copa do Mundo; chuvas fortes em algumas regiões do país; e a volta do internacional como competição para o lazer doméstico, com os brasileiros viajando novamente para o exterior”, completa.

FOHB - dados gerais 2022 1

Com a explicação de Mélega, fica fácil de entender a diferença de performance entre as duas principais cidades do país, já que o corporativo – tão importante para São Paulo – demorou um pouco mais para reagir. Já o segmento de eventos, pode-se falar que beneficiou as duas capitais quase igualmente.

Não custa lembrar os impactos positivos que o Rock in Rio e o Grande Prêmio de F1 geraram no Rio de Janeiro e em São Paulo, respectivamente. “Vale destacar que o Rio tem ainda um mercado de Óleo & Gás que faz girar bastante o segmento corporativo, além de ter sediado muito congressos e outros eventos grandes”, acrescenta o executivo da Atrio Hotel Management.

Com um perfil de demanda parecido com São Paulo, Porto Alegre também está um pouco mais atrás na retomada. A capital gaúcha não conseguiu recuperar diária no mesmo ritmo de outras cidades do país, além de ter registrado queda na ocupação, sempre na comparação com 2019.

Puxado pelo agronegócio, Goiânia foi outro grande destaque de 2022, registrando a maior alta de RevPar no país. Esse desempenho foi fruto de altas expressivas tanto na ocupação, quanto na diária média. “Tudo depende das características do fluxo de cada cidade, o que leva a essa variação entre as praças. O importante é que, no global, o resultado é positivo, com a hotelaria voltando aos níveis de performance que tinha antes da pandemia”, finaliza Souza.

(*) Crédito da capa: Daddy3D/Pixabay

(**) Crédito dos infográficos: FOHB