A Casai, startup latinoamericana de short-term rental que levantou mais de US$ 50 milhões desde sua fundação em 2019, anunciou o fim de suas atividades na semana passada. Nico Barawid, fundador e CEO da companhia, fez o comunicado em um post no LinkedIn e uma nota foi publicada no site da empresa.

O executivo disse que as propriedades da Casai estão sendo adquiridas por outras operadoras, incluindo Blueground, Charlie, Wynwood, House, Capitalia e Oasis Collections. Alguns dos funcionários também estão migrando para essas companhias, revela o Phocuswire. Fechamentos e consolidações no segmento de short-term rentals não são exatamente uma novidade. Nos últimos anos, exemplos incluem o fechamento do Stay Alfred e do Lyric, apoiado pelo Airbnb, e o Frontdesk assumindo as propriedades do WanderJaunt.

Outras empresas, como Sonder e Selina, fizeram um lembrete preocupante dos desafios de sustentar o crescimento de um setor em amadurecimento, que foi impulsionado pela pandemia. A Selina estreou nos mercados públicos em outubro passado a quase US$ 41 por ação. Hoje, cada ação está sendo negociada a menos de US$ 1. Recentemente, a rede recebeu aporte de US$ 70 milhões do grupo holandês de universidades GUS (Global University Systems) e tem boas perspectivas com essa união.

Fim das operações

A franqueza da Barawid em reconhecer o que poderia ter sido feito na Casai é algo que raramente é ouvido de fundadores de empresas e pode fornecer informações valiosas para outras pessoas que estão tentando construir companhias de viagens. Até cerca de um ano atrás, a Casai parecia pronta para continuar crescendo.

A empresa baseada na Cidade do México estava se movimentando em ritmo acelerado para expandir seu modelo de acomodações de luxo fundidas com tecnologia inteligente. Depois de levantar US$ 48 milhões em uma rodada liderada por Andreessen Horowitz em outubro de 2020, a Casai começou a adquirir outras empresas, como as operações brasileiras da empresa dinamarquesa Q Apartments e a startup de aluguel Roomin em 2021.

“Em nosso auge, estávamos contabilizando quase US$ 30 milhões em receita. No nível operacional, tivemos margem de cerca de 25% e estávamos a caminho de ser uma empresa lucrativa em janeiro/fevereiro deste ano. Tínhamos forte demanda de viagens corporativas”, pontuou Barawid na publicação no LinkedIn.

No verão passado, contudo, os problemas eram aparentes. Em julho de 2022, a Casai demitiu cerca de 60 pessoas no Brasil, segundo a Bloomberg Línea, e depois se fundiu com a empresa brasileira Nomah. A fusão, inclusive, foi considerada como uma operação de emergência para salvar a Casai.

Outras mudanças ocorreram em janeiro desse ano, quando a empresa encerrou suas operações no Brasil. Em sua postagem, Barawid também pontua que assume a responsabilidade das decisões que tomou como CEO e que agora as caracteriza como erros que usará como lições para o futuro.

“O nosso negócio era complexo pela nossa forte componente operacional, com as frequentes e pequenas dívidas que isso implica. E nossos recebíveis foram distribuídos em vários canais com seus próprios cronogramas de pagamento idiossincráticos. Previsão de dinheiro e chegar a uma única fonte de verdade eram pesadelos. Durante alguns anos, tentamos construir módulos internos de ERP (software de gestão) e contratamos consultores para fazer isso por nós. Mas quem já tentou implementar ERPs sabe que a adoção é fundamental”, afirma.

“Eu gostaria de ter investido mais em nossa equipe. Comecei a Casai muito preocupada com cultura e feedback, mas meu calcanhar de Aquiles era que via o RH funcionar como um empecilho corporativo desnecessário. Então, acabamos tendo que recuperar o atraso nos principais motivadores de nossa equipe: clareza e nivelamento de carreira, estruturas de bônus, benefícios, insights de análise de pessoas e marca do empregador com poucos recursos”, finaliza, ressaltando que ao longo de 2021, “as sirenes do capital abundante e do crescimento livre cantaram melodiosamente”, o que levou a empresa a diversos problemas.

(*) Crédito da foto: Divulgação/Casai