No dia 1º de janeiro de 2023, um novo governo se inicia. Enquanto os trabalhos de transição são desenvolvidos, a dúvida ainda permeia sobre quem ocupará a cadeira de ministro do Turismo ao longo do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Após mudanças na liderança da pasta durante a gestão de Jair Bolsonaro, o trade turístico faz suas apostas para traçar o perfil ideal para o novo chefe da pasta.

Até a data de posse dos novos ministros, Carlos Brito, ex-presidente da Embratur, segue no comando do ministério. Brito foi nomeado por Bolsonaro após Gilson Machado Neto deixar o cargo para concorrer ao Senado nas últimas eleições. Vale lembrar que o governo atual realizou três trocas de gestão na pasta, somando ainda o mandato de Marcelo Álvaro Antônio, exonerado em dezembro de 2020.

Ainda que o sucessor de Brito não tenha sido definido, é certo que o próximo ministro do Turismo terá uma série de desafios à frente. Afinal, o setor sofreu duros baques nos últimos anos por conta da paralisação das atividades, fechamento de hotéis e retração brusca da demanda durante os períodos mais agudos da pandemia.

ministro do turismo - orlando souza

Conexão com o setor é importante, diz Souza

Mais técnico ou mais político?

A reportagem do Hotelier News entrou em contato com representantes do setor e profissionais da hotelaria para entender quais as expectativas para o novo líder da pasta. Entre as fontes ouvidas, a preferência por um nome que seja ao mesmo tempo técnico e político é unânime.

“Precisa ser alguém político para ter trânsito, visando às emendas, pois o orçamento para o setor será de parcos recursos. O próximo ministro também tem que estar aberto para ouvir o trade, seus funcionários e servidores. O Conselho deve ser uma ferramenta para difundir boas práticas e implementar políticas”, comenta Alexandre Sampaio, presidente da FBHA (Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação).

Para Orlando Souza, presidente do FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil), o nome ideal deve ser de um parlamentar, em atividade ou não. “Alguém que tenha trânsito dentro dos órgãos governamentais e dentro da base do governo vigente. É importante que seja um nome com currículo político sólido, mas que, de preferência, seja vinculado ao turismo de alguma forma. Assim, teremos uma pessoa que entende as dores do nosso setor”.

Falando em nome da Resorts Brasil, Marcelo Picka acredita que um bom time técnico pode ser a saída para nomear um ministro com um trânsito político mais consistente. “O ministério é composto por uma equipe. É importante que o ministro complemente esse time. Acredito que seja difícil encontrar alguém técnico e com trânsito político ao mesmo tempo”, avalia, com boa dose de razão, o presidente da entidade.

Indo na contramão de seus colegas, Gustavo Syllos acredita que o turismo não deveria ser um ministério, mas uma secretaria ligada à pasta da Fazenda. “É importante e estratégico demais pra ser apenas uma ferramenta política. Em países como México e Alemanha, a porcentagem do setor no PIB é bem maior que no Brasil, provando que não é preciso um custo enorme, mas gente capacitada, para que funcione”, destaca o sócio-diretor da Forma & Conteúdo.

Com as trocas de gestão no último governo, Gabriela Schwan ressalta que o novo ministro do Turismo precisa estar comprometido com o cargo. “Sem dúvida, precisa ser alguém técnico, que domine o setor. Precisamos de um nome que transite entre os dois lados e faça conexão política, mas que não mude seus interesses no meio do caminho”, acrescenta a CEO da Swan Hotéis.

Para saber a opinião dos leitores, o Hotelier News realizou uma enquete no LinkedIn. Do total dos respondentes, 66% dão preferência por um nome mais técnico, enquanto 29% desejam uma pessoa com bom trânsito político.

Gustavo Syllos

Turismo deveria ser uma secretaria, avalia Syllos

Nomes cotados

A criação do Ministério do Turismo veio em 2003, no primeiro mandato de Lula. O primeiro a assumir a liderança da pasta foi Walfrido dos Mares Guia, ainda relembrado pelo trade como um líder competente, mesmo sem perfil técnico e domínio do setor. Para o próximo governo alguns nomes estão cotados e dividindo opiniões.

Ontem (12), o PSD anunciou a indicação de Pedro Paulo, deputado federal do Rio de Janeiro, como possível ministro do Turismo para o governo eleito, revela o Valor Econômico. Nos bastidores, lideranças do partido já dão a nomeação do parlamentar como certa.

Participantes da equipe de transição do governo Lula para o turismo, o deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ) e Arialdo Pinho, secretário estadual de Turismo do Ceará, são outros nomes considerados para a cadeira.

Ex-ministro do Turismo durante a gestão Michel Temer, Vinicius Lummertz foi um dos nomes citados pelo trade em nossas entrevistas. “O profissional precisa ter background no setor e experiência com administração pública, além de contar com vocação turística e capacidade de fomentar parcerias entre as iniciativas pública e privada. Lummertz e Eduardo Sanovicz são alguns exemplos”, cita Roland Bonadona, CEO do Bonadona Hotel Consulting.

Vale ressaltar que Lummertz, também ex-secretário estadual de Turismo de São Paulo, é um profissional de perfil técnico, sendo o nome ideal para o cargo na visão de Caio Calfat. “Infelizmente, ele não está cotado. Acredito que esta será uma decisão política, mas não deveria. Temos profissionais como o Toni Sando, que também seria excepcional”, comenta o presidente do Conselho da Adit Brasil, que relembrou outros ex-ministros da pasta como Mares Guia e Luiz Barreto como exemplos de boa gestão.

Substituto de Chieko Aoki na equipe de transição, o presidente do SPCVB (São Paulo Convention & Visitors Bureau) está em Brasília para entregar o relatório de diagnóstico do setor para o governo Lula. Para 2023, Sando prevê um ano positivo para o turismo se a nova gestão seguir as recomendações previstas. “É importante interagir com o parlamento e outras pastas. Com um time capacitado e competente, o resultado vem naturalmente. O mercado está propício para o turismo e eventos. Precisamos de promoção turística, redução tributária e infraestrutura para que isso aconteça”.

(*) Crédito da capa: reprodução/Anesp

(**) Crédito das fotos: Divulgação