Com a taxa de juros básica em alta no Brasil e no mundo, além do aumento significativo no custo das matérias-primas no pós-pandemia, o pipeline de desenvolvimento hoteleiro sofreu forte desaceleração no ano passado. Ainda assim, segundo a Lodging Magazine, os executivos ao redor do mundo continuam esperançosos de que alguns dos fatores limitantes sejam mitigados no futuro. 

“2022 foi um ambiente realmente desafiador para o desenvolvimento”, pontua David Messersmith, diretor da PAD Real Estate, empresa de desenvolvimento imobiliário focada em hospitalidade. De acordo com dados da STR sobre o mercado norte-americano, por exemplo, a expansão hoteleira só começou a dar sinais de recuperação apenas em novembro e dezembro de 2022, após 25 meses consecutivos de queda. 

“É um mercado fluido agora. A rota segura e mais fácil para o crescimento é comprar um ativo existente em vez de desenvolver do zero”, recomenda Messersmith. “Em 2023, no entanto, vejo alguns obstáculos que desaceleraram o desenvolvimento talvez não desaparecendo, mas definitivamente se tornando obstáculos menores”, acrescenta.

Bryan Easter, por sua vez, cita os fatores que silenciaram o desenvolvimento. “A combinação incomum de alta inflação, taxas de juros mais altas, interrupções na cadeia de suprimentos e pouca disponibilidade de mão-de-obra desacelerou o financiamento e a construção de novos hotéis”, lista o vice-presidente de Planejamento de Desenvolvimento da Kimpton Hotels & Restaurants. “Ainda não vimos uma correção acentuada no atual aumento dos custos de  matéria-prima”, pontua.

Com mais de 40 novas propriedades Kimpton nacionais e internacionais em andamento, Easter ainda demonstra preocupação com os aumentos gerais de custos que ocorreram nos últimos anos. “A indústria hoteleira está familiarizada com custos flutuantes e desafios econômicos. Em muitos casos, as taxas de construção aumentaram de 5% a 10% e os custos aumentaram 50% desde 2018, e esse impacto está se traduzindo em custos mais altos por chave”, explica.

“Tudo o que ouvimos é que os preços estão se estabilizando e a cadeia de suprimentos está se estabilizando”, alega Brian Quinn, diretor de desenvolvimento da franqueadora Sonesta. “Então, alguns desses desafios que seis meses atrás você talvez não conseguisse descobrir, como concreto, aço, madeira e cronogramas, parecem ter diminuído um pouco”, completa.

Efeitos dos juros

Messersmith concorda com a declaração de Quinn, apontando que o custo dos materiais de construção praticamente se estabilizou. Contudo, o que mais parece ser problemático para as novas construções é o aumento da taxa de juros. “Não ouço as queixas que surgiram seis ou sete meses atrás sobre os custos, mas as taxas de juros são o novo ‘fator X’ lançado no cálculo total. Se não tivéssemos a parte da taxa de juros, acho que estaríamos tendo uma conversa diferente”, complementa Quinn.

“Afinal, você não pode dobrar o custo do empréstimo e dizer que isso não afetará o desenvolvimento. Isso afetará todos os segmentos do setor imobiliário e afetará as novas construções no espaço hoteleiro, mas não há muitos lugares para o capital ir, visto que o  Varejo e os escritórios estão enfrentando outras questões”, avisa Quinn. “Por isso, acredito que os investidores estarão dispostos a obter um retorno um pouco menor para administrar a inflação, os preços do produto e as taxas de juros”, pondera.

Messersmith também compartilha do otimismo de Quinn. “As taxas de juros, com certeza, estão prejudicando tanto o desenvolvimento quanto as aquisições. No entanto, muitos de meus colegas esperam que a dívida diminua neste verão e as taxas de juros se tornem mais competitivas”, disse ele, acrescentando que as exigências dos credores aumentaram, já que a maioria agora exige 35% a 40% de capital inicial como parte do negócio. Em função disso, o executivo espera ainda que ocorra um aumento no número de hotéis para arrendamento.

(*) Crédito da foto: Divulgação/Kimpton Hotels & Restaurants