O ano de 2020 foi um marco na carreira de João Eça Pinheiro. O português boa praça completou uma década à frente do Tivoli Ecoresort Praia do Forte e um ciclo de importantes contribuições para o empreendimento e para sua vida pessoal. Apaixonado pelo Brasil, o executivo fala sobre as expectativas para o futuro no resort e a superação de desafios em um dos momentos mais difíceis de sua carreira.

Natural de Lisboa, mas cidadão do mundo, Pinheiro ainda criança já demonstrava sinais de interesse pela hotelaria. O pai, funcionário de uma multinacional da indústria petrolífera, mudou-se com a família muitas vezes para diferentes países, o que deu a oportunidade do filho passar por muitos hotéis ainda na infância. “Eu e meus irmãos brincávamos de room service em uma das casas onde moramos. Ter o contato ainda pequeno com tantos hotéis despertou o meu interesse pelo funcionamento dos locais. Acredito que foi nesta época que minha paixão pela hotelaria começou”, relembra.

Na época, os pais sonhavam que o pequeno João se tornasse médico, engenheiro ou economista, mas a vida guardava outros planos para ele. “Hotelaria naquele tempo não era algo para ser estudado. Você até poderia ganhar experiência e virar diretor um dia, mas não era uma área para formação, mas foi a minha decisão”.

Ao se mudar para os EUA com a família, Pinheiro começou a trabalhar em restaurantes depois da escola como lavador de pratos e, em seguida, garçom. Formou-se como barman profissional até retornar para sua terra natal, onde continuou trabalhando no setor de gastronomia.

Em 1985, terminou o curso de Gestão Hoteleira no Centre Internacional de Glion em Montreux, na Suíça e, anteriormente, já tinha concluído o curso de Recepção na Escola de Hotelaria de Lisboa. Depois de ter estagiado no Hotel Du Palais, em Biarritz, na França, e no hotel Meridien, na capital portuguesa, iniciou suas atividades no Lisboa Penta Hotel (hoje Marriott de Lisboa). Depois seguiu para Algarve para trabalhar em resorts, onde permaneceu por 24 anos, até surgir o convite para dirigir o Tivoli EcoResort Praia do Forte.

“Em Algarve tive a oportunidade de ter contato com muitas culturas diferentes, algo que sempre me impressionou, além de viver perto do mar, que é algo que eu adoro. Lá também me apaixonei pelo golfe, pois é um dos principais centros do esporte do mundo, com campos de altíssima qualidade”.

joão eça pinheiro - tivoli

                                 Tivoli Ecoresort Praia do Forte possui 35 anos de história

João Eça Pinheiro: a chegada ao Brasil

Em 2008, com a chegada da recessão econômica, Portugal também foi atingido. Na época, Pinheiro atuava no Algarve e não tinha nenhuma pretensão de sair de onde estava, então, o primeiro convite para atuar no Tivoli Ecoresort Praia do Forte foi recusado. “As coisas estavam tão bem pra mim que agradeci, mas a minha vontade não era sair de Portugal”.

O Brasil já era um velho conhecido do executivo, que há mais de 30 anos passava férias por aqui. Dois anos mais tarde da primeira proposta, surgiu uma nova oportunidade para atuar no resort baiano. “Vim uma semana em abril de 2009 para conhecer o hotel e decidir se eu queria mudar de vida e aceitar o desafio, não só de estruturação, mas também de gestão”.

Durante a visita, Pinheiro passou a enxergar a região com outros olhos, o que foi fundamental para sua decisão. “Caminhei com minha esposa pela praia, vimos uma igreja perto do mar, o que achei fantástico. A vila, cheia de lojas e restaurantes, me surpreendeu. Juntos, resolvemos ficar cinco anos. E isso já faz uma década”.

Apesar da semelhança da língua, o diretor afirma que de início sentiu dificuldades de comunicação. “Todos olhavam pra mim calados e eu tinha certeza que ninguém tinha entendido nada”, diverte-se. “As pessoas são muito cordiais e, quando você se enquadra em um país diferente, é você quem precisa se adaptar a elas, e não o contrário. Foi um desafio e um crescimento pessoal e profissional fantástico”.

Sobre a década à frente do resort, o executivo afirma que cada ano foi uma conquista diferente. “A cada passo eu aprendo duas vezes mais que no ano anterior. Os outros têm muito a nos ensinar. Hoje, me considero preparado para qualquer hotel em qualquer parte do mundo”.

O futuro no resort

João Eça Pinheiro define os últimos 10 anos como um período de evolução do empreendimento e de sua vida profissional. Para ele, sua maior preocupação era avançar sem perder a identidade que faz o resort ser o que é. Segundo o profissional, manter as raízes sem mudanças radicais é fruto da capacidade de adaptação de todos e do entendimento da cultura local.

“Crescemos muito do ponto de vista de qualidade, de serviços, infraestrutura e experiência do cliente. Ponderar tudo isso com a alta procura aponta que estamos no caminho certo. Entender os outros me levou a entender o hotel”.

Sem fazer futurismos, o diretor destaca a criatividade como o segredo do sucesso. “O que são 10 anos perto dos 35 de história do resort? Quero que a gente trabalhe mais, que sejamos mais criativos. Esses 35 anos nos empurram para o futuro e com esse sentimento não estaremos acomodados. Temos trabalho para renovar constantemente e trazer novas experiências aos clientes”.

Pandemia e projetos pessoais

Reaberto em 1º de setembro após paralisações devido a pandemia, o Tivoli Ecoresort vem se recuperando bem do baque causado pela crise. “Estamos acima das expectativas graças aos brasileiros. 2020 foi o ano mais desafiador da minha vida, pois ninguém estava preparado para esse momento. Minha primeira conclusão é que tudo é possível e somos pequenos frente ao universo e ao futuro. Ficamos mais humildes e precisamos nos unir para reagir aos momentos de dificuldades, sempre olhando para frente”.

O executivo ainda destaca o potencial turístico do Brasil e garante que está empenhado em ajudar no desenvolvimento do mercado nos próximos anos ao lado da Minor Hotels. “Olho para o Brasil e vejo um potencial enorme. Fico triste que os brasileiros não achem. Se tem um país que tem oportunidades, é aqui. Estamos todos com dificuldades, mas espero colocar em prática projetos de desenvolvimento com as marcas da Minor. Estou empenhado em fazer o país crescer”.

Casado há 33 anos com uma portuguesa, João Eça Pinheiro ainda revela o sonho antigo de abrir seu próprio hotel, sem revelar se o empreendimento seria aqui ou em Portugal. “Estou bem onde estou. Gostaria de finalizar minha carreira com um projeto pessoal. Se um dia eu sair, tenho certeza que quem chegar o sucesso será garantido. Quando você não é mais fundamental é sinal que o dever foi cumprido”.

(*) Crédito da capa: Divulgação/Minor Hotels