IV Fórum Nacional da Hotelaria: cenário macroeconômico pode favorecer hotelaria brasileira

Fechando a programação do IV Fórum Nacional da Hotelaria, promovido pelo FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil) em parceria com o Grupo R1, o economista Ricardo Amorim apresentou o painel Cenário Macroeconômico.

Iniciando a palestra, o profissional apresentou diversos aspectos que desenham o mapa no qual o turismo e hotelaria irão atuar para captar demanda. “É mais fácil um país emergente crescer muito do que um desenvolvido avançar de forma significativa”, destaca.

“No mundo, existem apenas cinco emergentes, com grande potencial de crescimento: China, Rússia, Índia, Brasil e Indonésia”, acrescenta.

Durante a explanação, Amorim conceituou o processo de abertura de mercado, que retrai a inflação global e estimula a globalização. “Na prática, com a guerra da Ucrânia e outras que possam vir a acontecer, o Brasil hoje é o único mercado seguro do mundo, o que tem reflexos diretos no turismo. O brasileiro está viajando pelo país, e os estrangeiros também estão olhando para cá como um destino interessante, por conta da moeda barata”, explica.

Desafios

Amorim destaca a inflação como um dos grandes desafios para desenvolver o mercado brasileiro. “A economia brasileira não cresceu praticamente nada no ano passado. Porém, os juros em outros países estão crescendo bem mais do que aqui. E como consequência, estamos conseguindo reverter o cenário inflacionário e elevar nosso PIB (Produto Interno Bruto)”, ressalta.

“Também temos notado diminuição substancial no desemprego no Brasil. Isso significa mais pessoas com dinheiro para gastar, o que por sua vez significa mais pessoas viajando, reservando hotéis e, por fim, aquecendo os setores”, complementa.

IV Fórum Nacional da Hotelaria - Palestra_Ricardo_Amorim

“Brasil tem uma oportunidade de ouro nas mãos”, comenta Amorim

 

Assim, Amorim explica que, por conta deste movimento, a hotelaria e turismo precisam investir em elevar a experiência do viajante. “E isso também contempla a parte de trabalho, visto que o nomadismo digital está crescendo cada vez mais. É uma grande oportunidade para os hotéis”, finaliza.


A falta de mão de obra na hotelaria e turismo

Dando prosseguimento à grade de palestras do IV Fórum Nacional da Hotelaria, Mariana Aldrigui, professora doutora da USP (Universidade de São Paulo) e presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), apresentou o painel A Crise da mão de obra.

“Passamos quase três anos falando de ‘novo normal’, achando que eles iria nos surpreender. E ele nos surpreendeu, mas não da forma como esperávamos, e provocou êxodo na mão de obra do turismo. E não dava para dizer que isso não estava previsto”, explica.

“Estudos apontam que o Brasil é um dos países em destaque no quesito falta de mão de obra qualificada. E a hotelaria está entre os setores que mais sofrem com a falta de profissionais”, acrescenta.

No painel, a palestrante explica que, nos últimos dois anos, houve aceleração tecnológica e crescimento das vagas de trabalho “digitais”. “Hoje, anúncios com vantagens como trabalhar de casa chamam mais atenção”, destaca.

Desafios

Durante a apresentação, Mariana afirmou que a hotelaria e o turismo não na lista das carreiras mais promissoras para este ano. “Também temos registrado grande queda no número de alunos e cursos, com 1400% de retração, e isso tem impacto direto no mercado de trabalho”, reforça.

“Também temos a falta de investimento nos programas de treinamento da hotelaria. As empresas precisam perder o medo de criar mão de obra capacitada e perder o funcionário para a concorrência. Para isso, é preciso desenhar os programas de capacitação de forma mais inteligente e interessante”, complementa.

A profissional também elencou, entre os desafios, a jornada de trabalho. “Na hotelaria e turismo, jornadas de 6×1 não são mais razoáveis para muitos profissionais. Por fim, as empresas também precisam criar formas de fidelizar, de garantir que o funcionário faça carreira e transite por várias funções. Resumidamente, mostrar perspectivas de evolução”, finaliza.


Os benefícios da inovação aberta

Seguindo com a programação do IV Fórum Nacional da Hotelaria, Eduardo Lorea, fundador e CEO da Numerik, ministrou a palestra Turistech: a oportunidade da Inovação Aberta no Turismo.

Durante a explanação, o executivo destacou que todas as empresas – hotéis, startups, OTAs – têm como maior desafio a captura de valor, ou seja, soluções que acrescentam relevância ao serviço oferecido. “É uma avalanche de empresas entrantes no mercado, que buscam um mesmo resultado”, pontua.

“Não tem sentido submeter diariamente organizações de longa história a inovações que podem ser ‘modismos’, como realidade aumentada, blockchain, NFT, metaverso, entre outras”, complementa.

IV Fórum Nacional da Hotelaria - Painel_Lorea

Lorea: empresas precisam investir na criação de ecossistemas de inovação

 

Lorea destaca que inovação está diretamente relacionada a produtividade, com estratégias de automação, otimização de processos, gestão inteligente, racionalização de recursos, agregando valor e personalizando experiências.

Inovação aberta

Em sua fala, o executivo citou algumas vantagens de trabalhar com inovação aberta. Entre elas, capacidades externas, recursos de terceiros, escala global e celebração de risco versus oportunidade (experimentação).

“Por esses motivos, essa inovação tende a ter mais versátil. Nesse ambiente, o risco é celebrado, pois significa oportunidade de inovar processos. Além disso, as startups estão dispostas a experimentar novas ideias e aceitar falhas”, conclui.

As turistechs brasileiras geram mais de 4,4 mil postos de trabalho. Das 162, 13 se destacaram e receberam investimentos de mais de R$ 1 bilhão.


Diversidade em foco

Continuando a programação do IV Fórum Nacional da Hotelaria, foi apresentado o painel ESG (Enviromental, Social and Governance). Participaram do debate Cris Kerr, CEO da CKZ Diversidade; Carol Ignarra, CEO e fundadora da Talento Incluir; Celso Athayde, CEO da Favela Holding; Eduardo Marson, CEO da Global Forest Bond; e Reinaldo Bulgarelli, fundador do Fórum de Direitos LGBTQIA+.

“Quando tiramos uma pessoa com deficiência da invisibilidade, estamos contribuindo com a pauta ESG. Além disso, quando estamos nas organizações, começamos a mostrar necessidade de lugares mais acessíveis. Quando falamos de acessibilidade, estamos falando de algo maior que estrutura arquitetônica. Uma pessoa cega precisa conseguir comprar uma hospedagem, por exemplo”, explica Carol.

“É necessário sempre batalhar pela criação de uma cultura cada vez mais inclusiva. Por onde passa uma pessoa com deficiência, passa todo mundo. Do contrário, nem sempre é possível. Acho que acessibilidade é um dos principais pilares do ESG”, completa.

Em seguida, Athayde comentou sobre sua trajetória enquanto líder comunitário e empreendedor. “Criamos a Cufa (Central Única das Favelas) para fomentar o desenvolvimento das pessoas da comunidade por meio de diversas ações, sempre pensando no ESG, ainda que não soubéssemos direito na época o que isso significava”, pontua.

Estímulo à cidadania

Dando continuidade à palestra, Bulgarelli destacou sobre as ações de fomento à cidadania das pessoas LGBTQIA+. “E isso perpassa inclusive pela construção de negócios. Quando a gente considera todas as pessoas e realidades distintas, aprendemos a lidar melhor com todas essas questões durante a gestão de uma empresa”, afirma.

“Uma das questões mais graves da nossa invisibilidade é o país não perceber quantos somos. Há 15 anos trabalho empregando pessoas com deficiência e é um número que só cresce e não é reportado oficialmente. Um ambiente mais acessível é bom para todos e todas”, complementa Carol.

“A tecnologia hoje atua muito a nosso favor. Temos aplicativos para atender a pessoas surdas, que podem contemplar inclusive as recepções de hotéis. E isso é só um exemplo para mostrar que as pessoas com deficiência podem ser atendidas de forma mais humana. Imagina chegar em um hotel e não conseguir entrar no banheiro por ser deficiente? Isso acontece, e muito”, endossa.

Criando oportunidade na hotelaria

Bulgarelli destaca que uma alternativa para estimular a diversidade nos setores de hotelaria e turismo é fazer ações afirmativas focadas em grupos sociais desfavorecidos. “É interessante pensar o setor como empregador, no sentido de garantir esse espaço de oportunidades iguais, tratamento justo e respeitoso, aprendendo a lidar com essas demandas. Por meio desse movimento eu melhoro o todo. Junto com a demanda, vem a inovação”, diz, destacando a Accor como empresa atuante neste sentido.


Panorama revela otimismo do setor hoteleiro

Dando continuidade à programação do IV Fórum Nacional da Hotelaria, aberto hoje, Cristiano Vasques, sócio-diretor da HotelInvest, apresentou o painel Panorama da Hotelaria HI e FOHB, apontando alguns dos principais dados do setor.

No recorte trimestral, cinco cidades tiveram RevPar superior, no segundo trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2019: Curitiba, Rio de Janeiro, Goiânia, Vitória e Recife. “Isso acontece principalmente em função do retorno dos eventos. Por outro lado, é necessário relembrar que 2019 não foi um ano exatamente brilhante. Havia potencial para o mercado crescer ainda mais.

Entre os assuntos mais comentados do momento, o executivo destacou que há aumento de 55,2% de oferta de short-term rentals desde fevereiro do ano passado. Hoje, o número de quartos e estúdios e apartamentos de um dormitório é de 44,5 mil, lançados em 2019, 2020 e 2021 em São Paulo. São 8,9 mil quartos disponíveis.

IV Fórum Nacional da Hotelaria - Painel_Vasques

Vasques: momento é de recuperação e desafios para a hotelaria

 

“Quando surge demanda reprimida e alguma empresa atende a essa demanda, há crescimento evidente. Neste caso, as incorporadoras viram grande possibilidade de lucro neste mercado”, destaca o executivo.

Além disso, o desempenho dos hotéis de luxo, divulgado pela BLTA (Brazil Luxury Travel Association), mostra grande recuperação do segmento nos últimos anos. No ano passado, por exemplo, o RevPar foi 50% superior ao observado em 2019. Já a ocupação, na mesma base comparativa, também superou o ano pré-pandemia, atingindo 57%.

Euforia no mercado atrai novos atrativos

Em sua palestra, Vasques destacou também que o otimismo que tomou conta do mercado de lazer trouxe novos atrativos para o país. “É uma janela de oportunidade, com diversos parques temáticos abrindo, no Sul, Centro-Oeste, Sudeste, mostrando que tem muita coisa acontecendo.

Neste cenário, o mercado de multipropriedade aparece como um dos principais destaques, com 115 empreendimentos e VGV (Valor Geral de Venda) de R$ 34,1 bilhões. “A diminuição na sazonalidade, com volume de hóspedes muito grande, tem permitido o surgimento de novos empreendimentos, completando a oferta turística dos destinos”, explica.

“A Lei de Multipropriedade possibilitou que o segmento se organizasse cada vez mais. A venda de multipropriedade depende de fluxo. Então, algumas das principais empresas do setor passaram por dois anos muito complicados”, acrescenta.

Desafios

Entre os principais desafios e expectativas, Vasques afirma que a hotelaria urbana em 2023 deve ter clara recuperação de diária. Além disso, ele afirma que os estúdios que entrarão no mercado de short-term rentals deverá se voltar para a hotelaria, com empresas utilizando short-term rentals em acordos corporativos.

“Também vimos grande euforia no mercado de lazer, mas é interessante nos questionarmos até quando isso vai se sustentar. Se fizermos um bom trabalho com o trade, com certeza iremos conseguir trazer o estrangeiro para o Brasil, o que estimulará grandemente o setor”, destaca.

Por fim, o palestrante afirma que a última grande tendência diz respeito ao mercado de multipropriedade, com diversas empresas buscando investimento para construir empreendimentos. “Justamente por conta deste movimento, a oferta de multipropriedade deverá crescer bastante”, finaliza.

(*) Crédito das fotos: Lucas Barbosa e Peter Kutuchian/Hotelier News