Mulheres são mulheres o ano todo. Negros são negros o ano todo, LGBTQIA+s são LGBTQIA+s o ano todo, indígenas são indígenas o ano todo, PCDs são PCDs o ano todo. Mas infelizmente estes grupos são lembrados apenas nas datas ou meses de conscientização, também sendo esquecidos como potenciais consumidores, mesmo sendo minorias sociais. E no turismo, quando chega a alta temporada de lazer, são praticamente “esquecidos”. Basta observar as propagandas de divulgação das viagens para este período do ano, com pouquíssima representatividade.

Por mais que toda estratégia comercial inteligente foque no mix de clientes, geralmente no turismo e hotelaria o foco ainda é direcionado para um perfil prioritário de cliente com qual os setores estão tradicionalmente acostumados. E na hotelaria nacional não seria diferente, ainda mais porque cada vez mais as estratégias de vendas das redes, hotéis e meio de hospedagens estão distantes da venda direta, muito dependentes dos intermediários. Vejo como uma exceção o Airbnb, que trabalha muito bem o marketing direto, com boa representatividade nas suas divulgações. E deixo aqui a pergunta para reflexão: sua rede, hotel ou meio de hospedagem tem estratégias para captar hóspedes dos grupos de diversidade e inclusão na alta temporada?

Se você, gestor, questiona do porquê da necessidade de uma estratégia dedicada a estes grupos, a resposta é simples: porque estas pessoas, quando vão consumir, principalmente serviços no qual se enquadra o turismo, a tendência é de que sofram algum tipo de preconceito na sua experiência. No caso do turismo de lazer, torna o cuidado da escolha ainda maior. E para comprovar o que citei acima, basta fazer uma busca simples, por exemplo, no caso de mulheres que viajam sozinhas, casos de racismo no atendimento, preconceito com LGBTQIA+s, etc. E geralmente na alta ocupação, os cuidados com a excelência no atendimento diminuem. Os consumidores destes grupos darão preferência para empresas que focam neles como clientes. Para os que não desenvolveram esta estratégia, aconselho a reverem seu planejamento de marketing e vendas, pois estão desprezando o Marketing de Nicho.

Mas como estamos no início de dezembro, ainda existe a oportunidade para captar estes clientes, pois se juntar todo potencial de consumo destes grupos, a demanda é alta, porém a oferta de produtos pensado para eles é pouca. Algo importante de ressaltar é: cada vez mais estas pessoas e aliados destas causas estão aderindo ao consumo identitário, que reconhece e valoriza as diferenças, promovendo a inclusão e igualdade de oportunidades para todos. Às vezes sou repetitivo em algumas afirmações aqui nos meus textos, mas realmente me impressiona como a hotelaria ainda ignora estas oportunidades, que, reforço, devem ser pensadas para o ano todo, porém não são. Mas ao mesmo tempo estas pessoas viajam a lazer, nas férias, na alta temporada também e têm o direito de ter opções de hospedagens pensadas para elas. Convido a nossa hotelaria a refletir, pensar e agir para que tenhamos uma hospitalidade diversa e inclusiva todos os dias.

Hubber Clemente é fundador da startup Afroturismo HUB, focada na inclusão e diversidade racial no turismo, atuando a mais de três anos com o tema. Hoteleiro , com mais de 25 anos de carreira no setor, com atuação profissional na Accor, Blue Tree Hotels , Maksoud Plaza, Decolar e outras grandes empresas do turismo, hospitalidade. Especialista em vendas e marketing, com formações em Gestão de Viagens e Eventos Corporativos, Big Data, Design Thinking, Diversidade & Inclusão e LinkedIn Creator Acelerado.

(*) Crédito da capa: Arquivo pessoal