Já esperada por muitos economistas para o fim deste ano, a desaceleração da economia brasileira começa a dar sinais mais nítidos de já ocorrer. Segundo relatório do Itaú Unibanco, que se baseia em gastos dos clientes do banco com cartões de crédito e débito, a atividade econômica no país atingiu seu pico em maio e, desde então, já recuou 7,35%.

A perda de fôlego deu seus primeiros sinais no setor de bens, cuja atividade caiu 8% no período, informa o Itaú Unibanco. Na sequência, a queda foi sentida no segmento de de serviços, que inclui a hotelaria e retrocedeu 7,3% até agora.

Natália Cotarelli, economista do Itaú Unibanco, afirma que o desaquecimento no segmento de bens, que depende de acesso a crédito, ficou ainda mais evidente no fim do segundo trimestre. Já no de serviços, os sinais foram percebidos no fim do terceiro.

A hotelaria parece viver caminho inverso, como mostram números recentes do FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil). Outros dados otimistas do setor são o bom desempenho observado no feriado da Proclamação da República e na F1 em São Paulo. A grande questão é se isso será sustentável no médio prazo.

Vale destacar que, historicamente, o desempenho da hotelaria segue em linha com a performance do PIB (Produto Interno Bruto). Mais ainda, após a reação recente do mercado, o setor volta novamente a ser regido pela lei da oferta e da procura, que tem relação direta com a atividade econômica.

“Há evidências de que há uma desaceleração em curso, o que vai ficar claro no PIB do terceiro trimestre, que vai crescer menos do que a média do primeiro semestre”, diz Alessandra Ribeiro, sócia da consultoria Tendências, em entrevista ao Infomoney. “Esse cenário deve se aprofundar no quarto trimestre”, completa.

Mais números

Para corroborar a impressão, os dados mais recentes do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do BC), divulgados esta semana, mostram que a economia brasileira ficou praticamente estável em setembro. Frente ao mês anterior, o indicador registrou variação positiva de 0,05%, mas ao menos ficou no azul depois de ter contraído 1,13% em agosto na mesma base de comparação.

Ainda assim, o IBC-Br terminou o terceiro trimestre com crescimento de 1,36% em relação aos três meses anteriores, depois de uma expansão de 0,69% no segundo trimestre.

As projeções de muitos economistas, contudo, divergem das do BC. Segundo avaliação da consultoria Tendências, por exemplo, o PIB deve crescer 0,6% no terceiro trimestre frente ao verificado no segundo. Para os últimos três meses do ano, há expectativa de de retração, fechando o período com queda de 0,4%.

Analistas dizem que dois fatores explicam, em grande parte, a desaceleração da economia brasileira. O primeiro é o patamar elevado da Selic, que está atualmente em 13,75% ao ano. Isso porque juros altos inibem o consumo das famílias e os investimentos das empresas, uma vez que o custo do dinheiro está mais caro.

O segundo tem a ver com o cenário macroeconômico global. A atividade nos Estados Unidos e na Europa também dá sinais de desaceleração, com um quadro de aperto monetário evidente. No Velho Continente, o conflito na Ucrânia torna o cenário ainda mais instável.

(*) Crédito da foto: joelfotos/Pixabay