Em japonês, a expressão ikigai significa “razão de viver”. Esse propósito de vida é identificado na combinação de diferentes elementos, como paixão, vocação, profissão, missão e habilidades pessoais. Imigrante japonesa e naturalizada brasileira, Chieko Aoki fez do seu trabalho seu legado para a hotelaria, construindo um estilo de hospitalidade pautado no bem receber.

Aos 74 anos, a fundadora e presidente da Blue Tree Hotels encontrou na hotelaria uma forma de repassar valores de suas raízes nipônicas, mas sem perder o acolhimento que o brasileiro sabe oferecer como ninguém.

Natural de Fukuoka, a Sra. Aoki — como é conhecida no mercado — veio com os pais para o Brasil aos seis anos de idade. A família deixou sua terra natal a convite de uma tia viúva e se estabeleceu em Bastos, no interior paulista, cidade fundada para o assentamento de imigrantes japoneses.

Filha de um técnico em eletricidade e uma dona de casa, Chieko foi uma peça fundamental para a adaptação da família em terras brasileiras. Na época, o Brasil era um país de grande atividade agrícola, mas seus pais não estavam familiarizados com a prática e, dois anos mais tarde, se mudaram para a capital.

“Sentia uma grande necessidade de ajudar meus pais e aprendi português rapidamente para auxiliar na comunicação”, relembra a executiva. Desde criança, Chieko já demonstrava seu apreço pelos estudos e pelo trabalho. Além das aulas no colégio, estudava música, inglês e japonês. Para quem não sabe, a CEO da Blue Tree tocava violão — prática que ela alega ter abandonado.

Chieko Aoki e John Aoki

Chieko e John Aoki

A importância da capacitação

Já em São Paulo, o pai de Chieko passou a trabalhar na indústria e um novo capítulo de sua história começou. Quando jovem, a executiva tinha o desejo de lecionar Filosofia, mas outros caminhos se abriram para ela. “Tive uma juventude muito intensa de estudos, mas nunca me senti fazendo esforços. Estudar sempre foi um prazer”, afirma.

A profissional ingressou no curso de Secretariado da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado). A capacitação a levou a trabalhar como secretária na Ford, reforçando seu apreço pelos estudos. “Minha formação abriu portas. Sempre ressalto para minha equipe como a formação é importante. Foi um divisor de águas para mim”.

E sua trajetória acadêmica não parou por aí. Chieko também é formada em Direito na USP (Universidade de São Paulo), tirou a carteira na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), mas nunca exerceu de fato a profissão.

Nos anos 1970, retornou ao Japão para estudar Administração na Universidade Sofia, em Tóquio. “Queria entender mais sobre a cultura, o jeito de fazer negócios e a forma como o país mantém uma sociedade tão coesa”, explica.

Mergulho na hotelaria

Na mesma década, a executiva casou-se com o empresário japonês John Aoki, presidente da Aoki Corporation, que atuava nos ramos da construção civil e hotelaria. A empresa era detentora de alguns negócios, como os hotéis Caesar Park. E foi dessa união que nasceu a dama da hotelaria brasileira.

“Viajei muito pelo mundo com meu marido e tive a oportunidade de conhecer muitos hotéis. Essas viagens me trouxeram uma bagagem muito rica de inspiração para o modelo de hospitalidade que temos hoje”, conta a executiva. “Conheci grandes hoteleiros que me apresentaram o dia a dia de diferentes empreendimentos”, relembra.

Já inserida no setor, Chieko cursou Administração Hoteleira na Cornell University, nos EUA. Nos anos 1980, a bandeira Caesar Park era conhecida por seus serviços de luxo em hotéis cinco estrelas no Brasil — até que a executiva assumiu a diretoria de Marketing e Vendas da marca em São Paulo e, em seguida, a presidência da rede.

Na mesma época, a Aoki Corporation adquiriu a Westin Hotels & Resorts — empresa que Chieko também presidiu — chegando a ser responsável por mais de 80 hotéis em 19 países.

Árvore azul

Os negócios iam bem, até que John Aoki teve um AVC que o deixaria com sequelas graves. A crise econômica no Japão combinada às dívidas da expansão internacional da empresa resultaram na venda dos hotéis da rede.

“Meu marido ficou hospitalizado, mas eu tive que continuar. Em 1997, veio a Blue Tree Hotels com a perspectiva de oferecer hotéis de padrão premium que navegassem no segmento quatro estrelas, mas com a possibilidade de tarifas menores e padrão focado sempre no cliente”, acrescenta Chieko.

O nome Blue Tree significa “árvore azul” ou “aoki” em japonês — uma forma da executiva perpetuar seu sobrenome. Chieko e John não tiveram filhos, contudo, a CEO da rede considera os hotéis seu verdadeiro legado. “Os hotéis são meus filhos, que me dão trabalho e muitas alegrias”, brinca.

Com 21 empreendimentos no Brasil, a Blue Tree Hotels vem acumulando bons resultados, como o crescimento de 191% em receita em 2022 frente ao ano anterior. E o sucesso é creditado ao bem receber da empresa, orientado pelo que a presidente chama de Alma Blue Tree.

“Acredito que a Alma Blue Tree é algo que faz parte de mim. Busco ser uma pessoa melhor para ser uma profissional melhor. Para receber bem, temos que ser gratos aos clientes de maneira genuína, pois ele poderia estar em qualquer outro lugar, mas escolheu o seu hotel. Não importa qual o motivo”, avalia Chieko.

Chieko Aoki, Luiza Helena Trajano e integrantes do grupo Mulheres do Brasil

Chieko e integrantes do Grupo Mulheres do Brasil

Protagonismo feminino

Em 2002, Chieko Aoki foi incluída na lista da revista de economia e negócios Latin Trade, que selecionou 44 dirigentes de grandes corporações na América Latina. No mesmo ano, o Valor Econômico também incluiu a executiva dentre os Executivos de Valor, além de ganhar o troféu Mulher Influente pelo jornal MG Turismo e ser eleita Personalidade de Turismo 2002, na categoria Hotelaria Nordeste pela Folha do Turismo.

Eleita em 2013 pela revista Forbes como “a segunda mulher de negócios mais poderosa do Brasil”, também foi escolhida pelo Valor Econômico como uma das maiores executivas brasileiras.

Visando fomentar o protagonismo feminino no mercado corporativo, a executiva é uma das fundadoras do Grupo Mulheres do Brasil, que conta com a participação de lideranças de diferentes setores. E Chieko não esconde sua admiração por outras profissionais de expressividade na economia brasileira.

“Muitas pessoas me inspiram, mas gosto de destacar a Sônia Hess e a Luiza Helena Trajano. Aprendemos muito umas com as outras. As mulheres têm a capacidade de fazer diferente com muita sensibilidade e sabem chegar onde querem sem nenhum tipo de agressividade”, avalia a executiva.

Chieko também fez parte do Unidos pela Vacina — iniciativa encabeçada pela fundadora do Magazine Luiza para levantar fundos para acelerar a vacinação contra Covid-19 no Brasil, que reuniu diferentes segmentos.

Em seu tempo livre, a executiva diz que “inventa” com o que trabalhar, mas o apreço por viagens segue vivo. “Gosto de encontrar pessoas, viajar para mim é uma grande fonte de aprendizado”.

Entre seus destinos favoritos no mundo, Chieko destaca o Japão, França e Inglaterra. “Cada país tem suas características. Gosto de lugares onde posso comer bem e aprender sobre a cultura local. Me encanto por países que amam e respeitam suas tradições”.

(*) Crédito das fotos: Divulgação/Blue Tree Hotels