Apesar do otimismo sobre a Black Friday, o desempenho do e-commerce ficou abaixo do esperado. Na sexta-feira (25), tradicional data que antecede o Dia de Ações de Graças dos Estados Unidos, o volume de vendas foi cerca de um quarto (-23%) abaixo de 2021, segundo dados da NielsenIQ|Ebit, divulgados pelo jornal O Globo. Entre os motivos para a queda, apontam especialistas, estão a alta taxa inflacionária, a inadimplência, os descontos fracos e Copa do Mundo.

Apesar dos resultados insatisfatórios, o mês de novembro como um todo compensou a falta de fôlego na Black Friday em si. De acordo com o relatório da consultoria, realizado em parceria com a empresa de pagamentos digitais Bexs Pay, o acumulado do mês recuou apenas 1%, quase estabilidade. Segundo a empresa responsável pela pesquisa, o resultado reforça a tendência de que novembro se tornou atrativo para compras.

“Ao considerarmos que a economia brasileira vive um momento desafiador e que, em 2022, as lojas offline estão de volta para competir com o e-commerce, é interessante perceber que a queda de -1% demonstra, na verdade, estabilidade”, aponta Marcelo Osanai, gerente de e-commerce da NielsenIQ. “É como se o e-commerce, por ter uma força extra, mantenha-se vivo e forte na data especial”, acrescenta.

Quanto aos produtos impactados pelo recuo da data, o segmento de Eletrônicos foi destaque negativo ao registrar queda de 26,7%. Em seguida, Alimentos e Bebidas caíram 22,1% na data, sendo ainda a única categoria a registrar baixa (-3,3%) no acumulado dos 25 dias de novembro, apesar do aumento nos pedidos. Atrás destes, está Casa e Decoração, com recuo de 10,5%, e Games, com variação positiva de 0,7% e apresentando resiliência e o melhor variação no acumulado do mês (+27,8%).

Mas, por que?

Em entrevista à Folha de S. Paulo, o especialista em varejo e sócio da Varese Retail, Alberto Serrentino, afirma que não foi uma Black Friday muito eufórica. “O calendário deste ano ficou um pouco confuso com a sobreposição da Copa, o que era preocupação para boa parte do varejo. No entanto, não acredito que isso tenha afetado negativamente a Black Friday, porque trouxe uma demanda concentrada em áudio e vídeo e esportes”, alega.

Para o presidente do Reclame Aqui, Edu Neves, no entanto, a Copa do Mundo mais atrapalhou do que ajudou. “O jogo do Brasil fez o acesso ao site cair 80% durante a partida. Ao final, o fluxo voltou 20% inferior”, argumenta o executivo, que também considera a incapacidade do mercado de oferecer descontos atraentes durante a data.

Fora o campeonato mundial, a demanda foi limitada por uma gama de fatores que abrangem o cenário macroeconômico desafiador. Além das dificuldades dos comerciantes oferecerem grandes descontos em virtude da alta inflacionária, o ambiente de juros elevados também reduz a renda disponível das famílias para consumo de bens e serviços. Fora isso, grande parte dos consumidores estão de mãos atadas em virtude de contas atrasadas.

Agora, resta esperar para ver como as redes hoteleiras e hotéis independentes performaram na Black Friday. Em muitos casos, no ano passado, o desempenho foi recorde.

(*) Crédito da foto: CardMapr.nl/Unsplash