Levantamento realizado pelo BC (Banco Central) mostra que os brasileiros estão com uma vida financeira complexa, a começar pelo elevado número de desempregados. A situação faz com que muitos deles recorram a empréstimos para complementar a renda e quitar dívidas. Ainda assim, a inadimplência em nível recorde desacelerou a demanda por crédito no primeiro trimestre deste ano, aponta o G1.

Neste cenário, o cartão de crédito aparece como um dos principais vilões. Em 2021, a procura foi a maior em 10 anos, somando R$ 224,7 bilhões, segundo dados do BC. O crescimento coincide com a alta dos juros, da inflação e endividamento das famílias.

Especialistas apontam que a cautela dos bancos para liberar crédito é uma situação de curto prazo e deve mudar proporcionalmente às melhoras no cenário econômico brasileiro, previstas para ocorrer no fim deste ano.

Indicadores e expectativas

O levantamento aponta ainda que as concessões de crédito com recursos livres para pessoas físicas específicas para cartão de crédito somaram R$ 151 milhões em janeiro, o que representa queda mensal de 9% (R$ 166 milhões) e alta anual de 35% (R$ 112 milhões).

Já a concessão de crédito total para pessoas físicas registrou queda mensal de 17,5% de dezembro de 2021 a janeiro deste ano (de R$ 445 milhões para R$ 367 milhões). Já na comparação anual, houve aumento de 36%.

Vale ressaltar que em janeiro de 2021, o Brasil ainda sentia os efeitos da pandemia da Covid-19, o que explica a diferença entre as comparações mensal e anual. Luiz Fernando Castelli, economista sênior da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), ressalta que, apesar de inadimplência estar subindo, ainda está em um baixo nível histórico e não deve comprometer o sistema financeiro.

Dados divulgados pela entidade apontam que a estimativa para expansão da carteira de crédito em 12 meses apresentou pequeno recuo em março frente ao mês anterior: de 16,3% para 16%. “Devemos ter uma estabilização do índice de inadimplência nos próximos meses porque novos estímulos na economia estão equilibrando o aumento dos juros. Estamos vivendo um momento mais difícil da economia, mas com a melhora da situação do país, por volta de 2023 e 2024, a taxa de juros deve cair”, explica Castelli.

Planejamento dos bancos

Nos balanços do quarto trimestre do ano passado, quatro dos cinco principais bancos do país – responsáveis por 70% do crédito do sistema financeiro – previram prejuízos devido ao aumento da inadimplência. A previsão de confirmou nos primeiros meses deste ano, com o indicador avançando de 2,3% em dezembro para 2,5% em janeiro, nas operações de crédito, o maior patamar desde agosto de 2020 (2,7%), segundo o BC.

Em 2021, o Bradesco estimou crescimento de 10% a 14% na carteira de crédito. O banco também indicou provisão para devedores duvidosos, de R$ 4,28 bilhões, o que corresponde a alta de 27,5% na comparação trimestral e queda de 6,2% na anual.

O Santander, por sua vez, seguiu na mesma direção, provisionando crescimento de 0,5% para devedores duvidosos no relatório do terceiro para o quarto trimestre do ano passado. O montante passou de R$ 3,67 bilhões para R$ 3,69 bilhões.

Já o Itaú Unibanco informou em seu balanço que as despesas com provisões somaram R$ 6,82 bilhões no quarto trimestre de 2021, avanço de 21% na comparação anual. Em nota, o banco informou que “orienta os clientes sobre uso consciente do cartão de crédito, adotando medidas de controle de endividamento na concessão de novos créditos e realizando eventuais ajustes quando necessário”.

Por fim, no Banco do Brasil, o custo da provisão de liquidação duvidosa caiu. A despesa atingiu R$ 2,5 bilhões de outubro a dezembro de 2021. O resultado representa queda trimestral de 3,4% e anual 26,5%. De acordo com o banco, nos últimos 12 meses, foi observada evolução de 47% na carteira de crédito.

(*) Crédito da foto: Obsahovka/Pixabay