De acordo com levantamento divulgado hoje (31) pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), o número de famílias com dívidas a vencer atingiu 77,5% neste mês. O resultado é o maior nível registrado nos últimos 12 anos. Há um ano, o percentual era de 67,3%, 10,3 pontos percentuais abaixo do resultado atual.

Ainda de acordo com os dados da entidade, os números apontam tendência de alta no endividamento, mesmo com juros de mercado elevados, o que encarece o crédito. Dados do Bacen (Banco Central) apontam as taxas médias de juros nas linhas de crédito com recursos livres às pessoas físicas avançaram de 39,4% em janeiro de 2021 para 46,3% no primeiro mês deste ano.

“Essa inflação alta, persistente e disseminada mantém elevadas as necessidades de crédito para recomposição da renda, fazendo com que as famílias encontrem nos recursos de terceiros uma saída para manutenção do nível de consumo”, pontua José Roberto Tadros, presidente da CNC, sobre a pressão inflacionária no orçamento das famílias brasileiras.

Outros indicadores

A proporção de famílias com dívidas em atraso também alcançou o maior patamar da pesquisa. Segundo a CNC, o percentual registrado em março foi de 27,8%, crescimento de 0,8% em relação ao mês anterior e 3,4% frente a março de 2021. Em comparação a fevereiro de 2020, o número é ainda maior, atingindo 3,7%.

O número de famílias que declararam não ter condições para pagar suas dívidas subiu de 10,5% para 10,8% na comparação mensal. Já no recorte por rendimentos, a pesquisa observou que, entre as famílias com ganhos acima de dez salários mínimos, a proporção de endividados atingiu 73,7%, o maior nível da série, com avanço mensal de 1,5%, o maior desde 2019.

No grupo com renda até dez salários mínimos, o índice atingido foi de 78,5%. Considerando os indicadores da inadimplência, 31,1% das famílias de menor renda encerraram o primeiro trimestre de 2022 com algumas dívidas em atraso, outro recorde histórico. No grupo com maior renda, o percentual foi de 13,2%, o maior desde abril de 2016.

Cartão de crédito responde pela maior fatia do endividamento

Em relação aos tipos de dívida, o cartão de crédito seguiu como destaque, respondendo por 87,0% do total de famílias endividadas do país. O índice avançou 0,5% em relação a fevereiro e 6,7% na comparação com março de 2021. Nas famílias com ganhos acima de dez salários mínimos, o uso do cartão de crédito teve o maior crescimento mensal – de 2,4% – e anual, de 8,1%, chegando ao total de 89,3% de famílias endividadas nessa faixa de renda.

Nas de menor renda, o percentual permaneceu em 86,5%, o mesmo observado no mês anterior. Os avanços aconteceram nas modalidades do crédito pessoal (0,3%) e cheque especial (0,2%).

Izis Ferreira, economista responsável pela pesquisa da CNC, afirma que a retomada do consumo, especialmente de serviços, pelo grupo de maior poder aquisitivo, ajuda a explicar o maior uso do cartão de crédito por esses consumidores. Além disso, ela pontua que o panorama de endividamento elevado deve se manter, dado o cenário de inflação alta.

“O crédito continuará caro, com a manutenção dos juros altos por mais tempo, em razão do novo choque nos preços aos consumidores. Somando-se à fragilidade apontada no mercado de trabalho, a dinâmica da inadimplência dos consumidores nos próximos meses seguirá sendo negativamente afetada”, finaliza.

(*) Crédito da foto: AhmadArdity/Pixabay