O embate com a hotelaria tradicional é antigo e rende muita briga mundo afora. Independentemente disso, não há como negar que o Airbnb mudou o setor de hospitalidade global. Mais ainda, cada vez mais a plataforma se posiciona entre os principais players digitais da indústria de viagens. O tamanho exato desse potencial ficou mais claro ontem (16), quando a empresa entregou a papelada para registrar seu esperado IPO (Initial Public Offering).

Os documentos apresentados indicam que o Airbnb está pronto para se colocar lado a lado do duopólio Expedia Group e Booking Holdings. Ao mesmo tempo, a papelada ajuda também a entender o impacto da pandemia no segmento de aluguel por temporada. E, de fato, este não foi nenhum pouco pequeno, embora a empresa aparente estar à frente das rivais na retomada. Agora, antes da “porrada” do coronavírus, vamos aos números de faturamento e reservas.

Nos últimos cinco anos, por exemplo, o valor bruto das reservas subiu, em média, 36% ao ano. No período, o montante acumulado pulou de US$ 8,05 bilhões, em 2015, para US$ 37,9 bilhões no ano passado. Como leva uma comissão na casa de 13% em cada transação, o Airbnb atingiu uma receita de US$ 4,8 bilhões em 2019. Agora uma comparação: maior operadora em atuação no país e uma das Big 4 global, a Accor faturou € 4,049 bilhões no ano passado.

De volta ao faturamento do Airbnb no ano passado, frente a 2018 o indicador subiu 29,7%, quando a receita foi de US$ 3,7 bilhões. Na comparação com 2017, o avanço é ainda mais expressivo: alta de 86,4%. Colocando esses números lado a lado com Booking e Expedia, podemos perceber como a plataforma pode postular a formação de um triopólio.

Para efeito de comparação, Booking e Expedia faturaram US$ 15,1 bilhões e US$ 12 bilhões em 2019, respectivamente, mostra reportagem da PhocusWire. Com base nas receitas de 2019, o Airbnb seria algo em torno de um terço do tamanho da Booking Holdings e pouco menos da metade do Expedia. Com essa base de crescimento anual e os recursos levantados com o IPO, essa diferença pode cair. Por isso, a estratégia de aproximação com a hotelaria independente é tão importante para a plataforma diminuir essa distância.

Sobre o IPO, de acordo com informações da Bloomberg, a empresa de San Francisco listou o tamanho da oferta em US $ 1 bilhão. O montante, contudo, pode mudar conforme o mercado de capitais teste a demanda pelas ações. Segundo a publicação norte-americana, e baseado em fontes próximas à empresa, o objetivo é levantar até US$ 3 bilhões com a oferta, programada para dezembro.

Airbnb e o impacto da pandemia

A papelada entregue na SEC (Securities and Exchange Commission) confirma os danos causados pela Covid-19. O valor bruto das reservas para os nove meses encerrados em 30 de setembro cedeu para US$ 18 bilhões, queda de quase 40% frente igual período de 2019. Ainda assim, no acumulado de 2019, o Airbnb conseguiu gerar US$ 2,5 bilhões em receita, contra US$ 3,7 bilhões nos três primeiros trimestres de 2019 (-32,4%).

Mais números que o documento entregue à SEC traz luz. O Airbnb teve prejuízo líquido de US$ 697 milhões sobre a receita de US$ 2,5 bilhões até setembro. Exatamente um ano antes, a plataforma reportou perda líquido de US$ 323 milhões sobre uma receita de US$ 3,7 bilhões.

Apesar dos desafios impostos pela pandemia, a Airbnb teve lucro operacional de US$ 418 milhões no terceiro trimestre de 2020. O resultado se deu graças a uma rápida ação de corte de custos. Um bom exemplo foi o corte de 25% da força de trabalho global e a redução dos investimentos em marketing e publicidade.

Ainda assim, numa análise com os concorrentes, há motivos para otimismo. Em setembro, por exemplo, o Airbnb viu suas reservas brutas caírem 17% em comparação com o ano passado. No terceiro trimestre de 2020, o Expedia Group e Booking Holdings viram o indicador ceder 68% e 48%, respectivamente, na comparação anual. Para ver o documento completo entregue pela empresa na SEC, clique aqui.

A depender de quanto a empresa levantar no IPO e a velocidade da retomada do mercado de viagens, o Airbnb pode ter um horizonte azul à frente. Em dezembro será possível ter uma melhor noção dessa caminhada.

(*) Crédito da foto: InstagramFOTOGRAFIN/Pixabay