Com o fim da pandemia, levanta-se uma questão importante: a demanda reprimida que ajudou a alimentar o aumento nas viagens à medida que a crise diminuiu finalmente está chegando ao fim? De acordo com análises do Mastercard e BofA (Bank of America), isso depende de fatores como mercado de trabalho, e variação de acordo com o segmento de viagem, destaca o Phocuswire.

Relatório do BofA publicado em 17 de maio mostrou que os gastos com viagens em abril foram apenas 1% maiores em relação ao mesmo período do ano passado, quando a demanda cresceu 27% no recorde anual. Além disso, o levantamento analisou os gastos com cartões em companhias aéreas, hospedagem, cruzeiros e aluguel de carros.

As viagens tiveram desempenho melhor do que as despesas em geral, que caíram 1,2% em comparação com abril de 2022, a primeira leitura negativa ano a ano desde fevereiro do ano anterior. “Neste cenário de moderação geral do consumidor, as viagens continuam sendo um ponto positivo em relação a outros setores”, afirma Anna Zhou, economista do Bank Of America Institute.

A análise mostrou que os meios de hospedagem e viagens domésticas se recuperaram mais rapidamente, com os cruzeiros e viagens internacionais retomando bem mais tarde.

E no Brasil? O cenário é parecido?

A resposta segue sendo…depende. Isso porque o otimismo pode ser barrado por fatores como instabilidade econômica, taxa de juros alta, entre outros pontos. Em levantamento publicado recentemente, a FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo) apontou que o turismo cresceu 30,3% na capital paulista em janeiro, na comparação anual. No ano passado, ainda segundo a entidade, o setor faturou R$ 18,3 bilhões em novembro, alta anual de 32,3%.

A Federação observa que, no primeiro trimestre deste ano, o turismo nacional cresceu 25,4%, ganho de R$ 8,2 bilhões em um ano. Considerando apenas março, o setor teve o melhor resultado desde 2015 e atingiu R$ 18,5 bilhões, alta de 14,6% no comparativo anual. No período, o destaque foi para a área de transporte aéreo, com receita de mais de R$ 6 bilhões, incremento de 29,8% em relação ao mesmo período de 2022.

Ainda em março, o número de passageiros transportados avançou 15,5%, segundo dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Por outro lado, essa não é a única explicação para o bom desempenho do setor. Os altos preços das passagens aéreas estão por trás da alta no faturamento, já que, em média, os consumidores pagaram 50% a mais do que há um ano.

Voltando a falar dos desafios, outro fator que pode frear o otimismo do turismo é o aumento do desemprego, que subiu em 16 unidades da federação no primeiro trimestre, segundo levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ponto que difere as realidades brasileira e norte-americana e que pode reduzir drasticamente o volume de viagens no país.

A incerteza econômica que atinge não só o Brasil pode ter reflexos diretos na hotelaria em 2023, segundo dados do FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil). Por isso, o hoteleiro não deve cair na tentação de abaixar a diária média se a demanda não corresponder, e desenhar estratégias ajustadas de distribuição, com mix adequado entre os canais para, no mínimo, preservar as margens do negócio.

(*) Crédito da foto: veerasantinithi/Pixabay