O ano de 2022 se encerrou com a hotelaria de rede no país retomando os níveis pré-pandemia, apontam dados da última edição do InFOHB, divulgados ontem (24). Na visão do FOHB, que produz a pesquisa, o balanço foi positivo, mas será que o setor consegue manter o ritmo em 2023? Para saber as perspectivas do mercado, conversamos novamente com Orlando Souza, presidente executivo da entidade, e Paulo Mélega, vice-presidente de Operações da Atrio Hotel Management e membro da diretoria da entidade.

No geral, os dois executivos veem espaço para melhora nos indicadores do setor, mas admitem que há desafios à frente – e em diferentes frentes. Um deles é o cenário político e econômico brasileiro e internacional. No primeiro caso, por exemplo, Souza alerta que ainda pairam incertezas sobre a manutenção do Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos).

FOHB - perspectivas 2023 - Orlando Souza

Souza: é preciso seguir notícias do Perse

Entre outras coisas, o programa zerou a alíquota de IRPJ (Imposto de Renda da Pessoa Jurídica), CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), PIS/Pasep e Cofins das empresas contempladas, o que foi determinante na recomposição do caixa dos hotéis no ano passado. Além disso, o Perse perdoou parte da dívida com a União, possibilitando ainda parcelamentos “suaves” dois débitos restantes.

“Uma boa sinalização sobre a manutenção foi a recente inclusão das empresas aéreas, mas ainda é difícil saber o que vai acontecer. Além disso, é importante lembrar que pode haver uma Reforma Tributária no meio do caminho”, comenta Souza, acrescentando que a isenção de impostos que constam nas MPs (Medida Provisória) referentes ao programa, e sancionadas pelo governo anterior, é válida até 2026.

“Nosso papel é mostrar para o novo governo a importância do Perse para o setor, e é o que vamos buscar. Recomendo ao hoteleiro ficar atento a esses desdobramentos para não ser pego de surpresa”, completa o presidente executivo do FOHB.

Já na parte econômica, inegavelmente há desafios domésticos e internacionais. O cenário global de inflação e juros altos deve redundar em baixo crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) mundo afora, incluindo no Brasil. “Como a demanda acompanha o desempenho do PIB, estamos apostando que a continuidade do crescimento do setor vai se dar mais pela alta da diária média”, alerta Mélega. “Na Atrio, por exemplo, orçamos elevação de um dígito na ocupação, enquanto miramos expansão de dois dígitos nas tarifas”, completa o executivo, que faz um alerta.

“Um bom legado do ano passado é que a hotelaria entendeu que não dá para esperar a demanda subir muito para elevar os preços. Agora, se a demanda não vier como projetado, o hoteleiro não pode cair na tentação de baixar as tarifas. Ao tomar essa medida, vai abandonar toda a conquista dos últimos meses”, comenta o vice-presidente da Atrio, destacando ainda que, mesmo em menor intensidade frente a 2022, a pressão de custos vai continuar.

“Importante lembrar que a diária média vai abrir o ano distorcida, com uma base de comparação baixa frente ao ano passado, já que a variante Ômicron afetou os resultados no primeiro trimestre de 2022. Então, isso não pode iludir o mercado. O ano de 2023 precisa manter o patamar de alta de dois dígitos no indicador”, completa Mélega. “Ainda assim, há praças com potencial de expansão da ocupação. Um bom exemplo é São Paulo, que vai ter um ano inteiro livre de medidas de restrição e com agenda cheia de eventos”, acrescenta o presidente do FOHB.

Pontos positivos

FOHB - perspectivas 2023 - Paulo Mélega

Mélega: alta de dois dígitos na diária é meta do setor

Depois dos importantes alertas sobre os desafios de 2023, vem a parte boa. Tanto Souza, quanto Mélega, veem pontos positivos que podem ser aproveitados pelo mercado. Exemplos: o ano não terá Copa do Mundo e eleições, o que sempre impacta o volume de viagens. Em paralelo, e na comparação com 2022, haverá muito mais feriados prolongados, o que estimula a demanda.

“Além disso, pelo que apontam as principais pesquisas econômicas, a pressão inflacionária será menor do que no ano passado. Isso não quer dizer que os hoteleiros devem relaxar. Como costumo dizer, custo é que nem unha. É preciso cortar sempre”, brinca Mélega.

“Considerando o que evoluiu de 2021 para cá, e levando em conta que a base de hotéis do país tende a ficar relativamente igual frente a 2022, dá acreditar que o movimento cresça um pouco mais na hotelaria. Teremos um ano completo com mais eventos, mais corporativo…”, acrescenta o presidente executivo do FOHB.

Para finalizar, segue abaixo um resumo de pontos de atenção para os hoteleiros em 2023 a partir das conversas com Souza e Mélega:

  • Diária média: hoteleiro não pode cair na tentação de baixar tarifa se a demanda não corresponder.
  • Perse: há incertezas sobre a continuidade do programa. Hoteleiro precisa acompanhar o noticiário para não ser pego de surpresa.
  • Margens: a busca pela eficiência não pode cessar. Pandemia foi um legado importante neste sentido e acelerou a transformação digital dos hotéis, mas ainda há um trabalho de ganho de margens a ser feito.
  • Distribuição: tem relação com o item acima. Hoteleiro precisa desenhar uma estratégia muito bem ajustada, com mix adequado entre os canais, para – no mínimo – preservar as margens do negócio.
  • Mão de obra: como se sabe, há um apagão de mão de obra e o setor vem se mexendo neste sentido, apostando na qualificação. Houve avanços no ano passado, mas essa questão não pode ser nunca negligenciada.
  • Qualidade: também tem relação com o item acima, pois envolve diretamente os times. Hoteleiro precisa entender que maior qualidade ajuda a vender mais e com preço mais alto. Fundamental retomar os investimentos neste ponto, que foram deixados um pouco de lado em função do caixa debilitado durante a pandemia.
  • Corporativo: setor precisa continuar nas conversas com as empresas para transformar os acordos corporativos, migrando de um modelo de valores fixos para variáveis.

(*) Crédito da capa: Pixabay

(**) Crédito das fotos: Divulgação/FOHB e Atrio Hotel Management