Procedimentos jurídicos tendem a ser processos demorados e altamente burocráticos. A hotelaria, como um setor complexo e permeado por documentações, vem buscando automatizar suas atividades com o intuito de elevar a produtividade das equipes, aumentar sua rentabilidade e direcionar esforços para iniciativas estratégicas. As legaltechs ou lawtechs são exemplos de startups que devem entrar no radar dos hotéis, pois apresentam soluções que beneficiam o departamento jurídico por meio de serviços e tecnologia.

As empresas oferecem inovação para processos jurídicos, podendo apresentar ferramentas em diferentes frentes de atuação. Algumas delas dispõem de softwares específicos, bancos de dados e buscadores inteligentes que facilitam a vida das empresas, advogados e demais partes envolvidas nos trâmites. Um exemplo é a digitalização de documentos, que auxiliam no dia a dia dos escritórios de advocacia.

O universo das startups vem crescendo exponencialmente no Brasil, com empresas pensando em inovações para diferentes nichos e mercados. No setor jurídico, as legaltechs estão cada vez mais presentes nas rotinas de tribunais, escritórios de advocacia e departamentos jurídicos de empresas de todos os tipos de atuação.

Em 2017, nasceu a AB2L (Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs), que na época reunia 20 startups. Cinco anos depois, o número de associadas cresceu 3.000%. Só em 2021, foi registrado um salto de 527 para 610 empresas sob o guarda-chuva da entidade. O boom da categoria se deu pelo fato de que as soluções apresentadas podem ser aplicadas em praticamente todos os segmentos de mercado.

Para ficar de olho

Após listar ESGTechs que podem ser de grande valia no setor hoteleiro, o Hotelier News traz startups do setor jurídico para ficar no radar dos empreendimentos.

Mediar360

Pensada como uma solução para negociações e conflitos, a startup fundada por Andrea Maia nasceu no meio digital. Advogada de formação, a executiva trouxe sua ampla bagagem atuando no departamento jurídico de grandes empresas para fundar a legaltech.

“Percebi um grande desgaste por parte das empresas em processos jurídicos. Além de ser um departamento complexo, demanda também altos custos. Durante minha trajetória, passei a atuar com negociações e, em determinado momento, descobri a mediação”, revela a CEO da Mediar360.

Como forma de evitar o início de longos processos judiciais, a mediação é uma forma de negociação entre as partes envolvidas, auxiliando as duas pontas. “Muita gente não conhece a mediação como uma opção e acaba pulando para o processo jurídico, que muitas vezes dura anos para ser concluído”, explica Andrea.

Com total confidencialidade de informações dos envolvidos, a Mediar360 atua com um time de mediadores em reuniões privadas. A empresa faz um mapa do conflito e qual o meio mais adequado de resolução.

Fundada em 2013, a legaltech cresceu até desenvolver sua própria ferramenta. A tecnologia entrou no jogo como uma forma de atender ao grande volume de conflitos, mas sem perder a confidencialidade que os processos pedem.

“Criamos a startup com uma plataforma de mediação com o objetivo de evitar processos jurídicos de forma mais rápida e barata. A pandemia impulsionou a Mediar360 com o advento das reuniões virtuais e negociações online. Na época, fizemos muitos trabalhos para o turismo, pois o setor sofreu uma série de cancelamentos e remarcações”, pontua a executiva.

Atualmente, cerca de 90% das mediações são realizadas pela plataforma, mas a startup também oferece o serviço presencial, se for do desejo do cliente. “Atuamos com projetos desenhados para cada caso. É importante ressaltar que as mediações são acompanhadas por advogados de ambas as partes”, salienta.

E não só de conflitos vive a mediação. O serviço também pode ser contratado para alinhamento de expectativas em fechamento de contratos. “Quando duas marcas se unem, é preciso realizar um alinhamento de culturas, por exemplo. Também atuamos internamente em empresas, auxiliando com técnicas de comunicação”.

Juit

Fundada em 2018 por Deoclides Neto, a Juit abrange outra frente de atuação. A legaltech oferece soluções de pesquisa jurídica, com foco em escritórios de advocacia e departamentos jurídicos de empresas. Pautada em dados e IA (Inteligência Artificial), a startup trabalha com jurimetria — ou seja — métricas de previsibilidade jurídica.

“O Judiciário brasileiro é um dos mais complexos do mundo. São mais de 90 tribunais e fica difícil saber quando uma matéria será julgada. Esta é uma dúvida que perturba muitos advogados que tocam processos ou atuam como consultivos para empresas”, diz Neto.

De acordo com o CEO, a Juit nasceu para responder perguntas relacionadas à previsibilidade de processos. No mercado brasileiro, já existiam empresas que oferecem o serviço, mas os resultados levavam cerca de seis meses para sair, além dos altos custos.

Também advogado de formação e apaixonado por tecnologia, Neto se enveredou no universo das métricas, o que trouxe o insight de levar o conceito para o meio jurídico. Após algumas rodadas de investimento anjo, a Juit ganhou corpo.

A previsibilidade oferecida pela legaltech projeta as chances de sucesso em processos, chances de indenização, entre outros dados relevantes. A startup possui uma plataforma própria, responsável por 96% da receita da empresa. A ferramenta coleta dados dos órgãos judiciários e entidades autárquicas para alimentar o sistema e fornecer previsões assertivas.

A IA por trás da plataforma classifica as decisões judiciais, com algoritmos que aplicam etiquetas e categorizam o sistema. “Detectamos a legislação citada no processo, o juiz envolvido, assuntos que permeiam o trâmite, entre outras informações”, explica o CEO.

O serviço da Juit funciona por assinatura e o fundador garante que não há tempo mínimo de contratação. Cerca de 90% da base de clientes da startup é composta por escritórios de advocacia, que consultam os dados já com uma visão analítica. “Hoje, passamos de 20 mil usuários, porém contamos com 50 clientes. Alguns escritórios de advocacia possuem 400 usuários cadastrados”, computa o executivo.

Cancelamentos, cobranças duplicadas e comercialização de pacotes de férias são algumas das principais buscas relacionadas ao turismo dentro da plataforma da Juit. Na ferramenta, os advogados podem consultar a probabilidade de êxito dos clientes no processo de acordo com as características da situação antes de entrar em tribunal.

A startup ainda possui consultoria humanizada, visto que muitos clientes chegam com demandas complexas que exigem um olhar mais aprofundado. “Já aconteceu de customizarmos um algoritmo para detectar informações específicas de um caso ou de determinada indústria”.

Linte

Legaltech fundada e idealizada por Gabriel Senra, a Linte nasceu em 2015 com a proposta de automação de documentos. A startup foi pensada para facilitar a vida dos advogados, mas a solução pode ser implementada em outros segmentos.

“Com nossa ferramenta, é possível gastar menos tempo com atividades operacionais e produzir documentos jurídicos com qualidade, velocidade e sem erros humanos. Ao longo dos anos, percebemos que poderíamos expandir a solução não apenas para advogados, mas também para empresas”, elucida Senra.

O CLM (Contract Lifecycle Management) é o carro-chefe da legaltech, ferramenta que atua na gestão de processos e contratos. Desde 2020, a Linte se dedica a auxiliar os times jurídicos para que os documentos sejam produzidos, negociados e assinados de forma automatizada.

“Várias equipes de marketing, compras e real estate utilizam a Linte para lidar com contratos de forma mais eficiente e com menos erros. Nosso produto é em nuvem, disponível para a gestão dos documentos sem burocracia”, pontua o CEO.

Quanto à redução de custos, Senra explica que o percentual vai depender da maturidade de cada empresa, mas destaca que a diminuição de gastos já chegou a 80% em alguns casos. A empresa conta com 30 colaboradores e atua em seis países, com o CLM traduzido em três idiomas.

O acesso é feito via login e não há cobrança por usuário cadastrado. A ferramenta da Linte ainda possui certificações de segurança e, por lidar com dados sensíveis e confidenciais, está totalmente adequada à LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).

“A hotelaria é um setor que precisa olhar com muito carinho para sua cadeira de fornecedores. É uma oportunidade dos empreendimentos fazerem a gestão de parceiros com menor custo, sem deixar obrigações de lado, atendendo exigências e evitando multas por descumprimentos de cláusulas”, finaliza Senra.

(*) Crédito da capa: reprodução/Legaltech no Brasil