Depois de anos excepcionais, com o lazer puxando a fila na retomada da indústria de viagens no pós-pandemia, 2024 significa uma volta à normalidade. Isso vale tanto para a hotelaria tradicional, quanto para outros segmentos da hospitalidade, caso do mercado de aluguel de curta temporada. Mesmo sem abrir números, Fiamma Zarife conta, em entrevista exclusiva ao Hotelier News, que as perspectivas seguem positivas neste ano, com a demanda em bons níveis para o Airbnb.

“O negócio vai bem e a demanda segue alta, impulsionada por picos durante grandes eventos. Abrimos o ano com um Carnaval em que as buscas na plataforma foram 136% maiores do que no ano anterior”, comenta a diretora geral do Airbnb no Brasil, cargo que assumiu há pouco mais de um ano. “Tivemos uma surpresa super positiva também com a Madonna, com as buscas subindo 1000% no período de 25 e 27 de março. Temos também Rock in Rio com ótimas perspectivas. Agora, nunca sabemos o que vem nesse mundão de Deus após a pandemia, mas nossa visão é otimista.”

Números do Airbnb no Brasil

• Parceiro estratégico: Airbnb tem mais de 5 milhões de proprietários com imóveis dentro da plataforma ao redor do mundo
• Perfil do owner no Brasil: 54% dos anfitriões são mulheres
• Renda extra: 46% dos anfitriões usam a locação dos imóveis para gastos pessoais
• Penetração: em 2023, foram mais de 2.330 cidades visitadas, tornando o ano com a maior distribuição de turismo no Brasil pela plataforma
• Novas praças: mais de 165 cidades receberam seus primeiros hóspedes, sendo quase 80% destinos não urbanos
• Crescimento expressivo: de 2019 para 2023, total de reservas na plataforma duplicou
• Perfil do viajante: 80% das viagens no Brasil são de famílias e grupos
• Carnaval: para check-ins durante o período, houve aumento de 136% nas buscas por acomodações

Madonna

• Alta demanda: entre 25 e 27 de março de 2024, buscas feitas para o final de semana do show no Rio subiram 1000% na comparação anual
• Perfil do público: a faixa etária de 30 a 39 anos é a mais representativa
• Maioria masculina: hóspedes identificados como homens são a maioria para check-ins entre 3 e 5 de maio de 2024
• Mercados emissores: São Paulo, Belo Horizonte e Fortaleza são os locais de origem da maioria dos hóspedes com reservas domésticas confirmadas

Parte do otimismo de Fiamma tem relação com uma mudança de comportamento do consumidor, que tem priorizando as viagens em seus gastos. Ela revela ainda que as viagens domésticas, que ganharam corpo na retomada, seguem fortes no Brasil. “Continuamos vendo, por exemplo, uma demanda considerável para os finais de semana em viagens regionais, em um raio de curta distância, movimento que começou durante a pandemia”, diz a executiva, acrescentando que 80% das reservas no país são viagens em família e em grupo.

Corporativo e lealdade

Sim, o Airbnb é uma plataforma concebida para viagens de lazer, prosperando e se tornando sinônimo de categoria dessa forma. Agora, dentro da indústria de viagens, o mercado corporativo tem importância estratégica para os resultados das grandes redes hoteleiras, gerando um volume expressivo de room nights (muito volume). Neste sentido, como a plataforma de short-term rentals vê esse segmento? Alguma iniciativa específica será criada para atender a esse público? Ou essa tarefa ficaria a cargo de proprietários e operadoras?

“O nosso foco são viagens em família e grupo, e isso é retratado em nossas campanhas de Marketing”, afirma a diretora geral do Airbnb no Brasil, destacando o lançamento da categoria de experiências chamada Icons, realizada ontem (1) globalmente. “Os operadores profissionais podem, de alguma forma, atender a esse público e otimizar a experiência desse viajante corporativo, mas a estratégia atual da empresa para tudo que estamos lançando é focada nas famílais, grupos e millennials”, revela.

Fiamma: ter um bom produto gera lealdade

A fala de Fiamma sobre o Icons e os fortes investimentos na experiência do cliente abrem a porta para outro debate interessante relacionado ao Airbnb. Isso porque, hoje, grandes players da indústria de viagens – de OTAs e redes hoteleiras a empresas aéreas – fazem apostas redobradas em seus programas de fidelidade, ao contrário da empresa, que ainda não tem nenhuma iniciativa de lealdade formal em operação. Essa estratégia seguirá?

“Realmente, o foco do Airbnb é criar essas experiências excepcionais, ter produtos que ofereçam aos nossos hóspedes qualidade, confiabilidade e segurança. Na nossa visão, essa é a melhor maneira para conseguir lealdade. Quando o consumidor tem uma experiência única, quando tudo dá certo, ele volta”, comenta Fiamma.

“Ao longo dos últimos anos, lançamos mais de 400 melhorias na plataforma para aprimorar essa experiência. Então, nosso foco para gerar fidelidade é justamente esse refinamento do nosso produto para garantir que eles retornem”, destaca.

Vale destacar que, em entrevista ao Skift, o CEO e fundador do Airbnb Brian Chesky disse que a empresa analisa a criação de um programa de fidelidade, mas certamente diferente do modelo usado pela maioria dos players da indústria de viagens. “Provavelmente, eventualmente, teremos algo, mas definitivamente não será um programa de pontos. Eu não gosto disso”, disse o executivo à jornalista Sarah Kopit, em uma fala bem alinhada ao que disse Fiamma ao Hotelier News.

“Acho que já disse repetidamente que a melhor maneira de obter lealdade é por meio de pessoas que amam o seu produto. Neste sentido, a melhor coisa que podemos fazer para garantir que as pessoas voltem e oferecer uma excelente estadia”, acrecentou Chesky. “Então, acho que há uma série de coisas que você pode fazer. Número um, o produto precisa ser incrível. Número dois, acho que ele pode também ser mais personalizado. E, claro, podemos conhecer mais nosso cliente. Assim, cada vez que ele nos utiliza, podemos aprender mais a respeito dele. Ou seja, não é necessário um programa de fidelidade para fazer isso”, finaliza.

(*) Crédito das fotos: Sérgio Zacchi/Airbnb