Vivemos uma revolução verde impulsionada pelo advento das techs. Ao longo dos últimos anos, startups ganharam amplo espaço de mercado em diferentes segmentos. Empresas nascentes entenderam as novas necessidades de determinados nichos da economia, trazendo soluções disruptivas que estão moldando os setores e a forma como consumimos. Entre fintechs, salestechs, healthtechs fashiontechs, um segmento se sobressai: as ESGTechs.

Enquanto o desenvolvimento tecnológico avança, novas empresas aprenderam a surfar nesse mar de possibilidades. Aliando esse movimento ao papel de destaque que as agendas ESG vem cumprindo nas estratégias de grandes companhias, essa nova categoria de startups tem um potencial pujante para serem as protagonistas do mundo corporativo na próxima década.

De acordo com uma pesquisa desenvolvida pela plataforma de inovação aberta Distrito, veiculada pelo Valor, só no Brasil as ESGTechs receberam US$ 532,4 milhões (R$ 2,9 bilhões) em 54 aportes de investidores até setembro do ano passado.

Pensando no ESG dentro do contexto corporativo, as startups direcionam seus investimentos para soluções inovadoras, coletando dados e fornecendo informações valiosas para parceiros que desejam se destacar no mercado como eco-friendly.

Em 2021, o Inside ESG Tech Report, desenvolvido pela Distrito, apontou a existência de 740 ESGTechs no Brasil. Este é o primeiro relatório voltado à categoria realizado pela plataforma. Das startups mapeadas, foram identificados 28 setores de atuação. A maior parte das empresas (36%) possui soluções de cunho social. Já 34,7% trabalham com medidas ambientais e outras 29,1% na área de governança.

Como estamos acompanhando, a hotelaria vem explorando com mais afinco medidas para mitigar os impactos das operações no meio ambiente. Por aqui, já contamos com cases de empreendimentos no caminho para a neutralização de carbono, bem como hotéis que atuam diariamente com a meta de se tornarem cada vez mais sustentáveis. E as ESGTechs podem ser parceiras valiosas para os resultados.

No radar da hotelaria

A seguir, o Hotelier News mapeou três ESGTechs para ficar no radar dos empreendimentos hoteleiros:

Moss Earth

Fundada por Luis Felipe Adaime, profissional do mercado financeiro, a Moss Earth nasceu em 2020 com a missão de combater as mudanças climáticas e preservar a Amazônia via investimentos em crédito de carbono. A empresa se apresenta como um climatech, que utiliza a tecnologia para simplificar e democratizar o acesso às soluções sustentáveis.

A startup atua em diferentes frentes de compensação voltadas para pessoas físicas, jurídicas e NFTs, além de possuir seu próprio token — o MCO2. “Lideramos a transição para a web3 no mercado de carbono com a tokenização de créditos de carbono da floresta amazônica e atuamos em toda a cadeia, inclusive no desenvolvimento de projetos de conservação”, destaca Fernanda Castilho, COO (Chief Operating Officer) da empresa.

Em 2020, a Moss levantou US$ 3,4 milhões em seu Seed Round, com participação de investidores como The Craftory. Em janeiro de 2022, a startup fechou nova rodada de investimento Séries A, liderada por Acre VC e SP Ventures, na qual levantou US$ 10 milhões.

“Nossa principal proposta é combater a crise climática por meio de soluções simples, democráticas e tecnológicas. Nessa linha de simplificar e democratizar o acesso às soluções sustentáveis — entre elas o mercado de crédito de carbono —, a Moss possibilita que companhias de todos os portes e segmentos, além de pessoas físicas, compensem a pegada de carbono de suas atividades de maneira segura e transparente”, acrescenta a executiva.

Por meio de uma calculadora criada pela Moss, o interessado pelo processo de compensação precisa responder algumas perguntas simples sobre o número de colaboradores, regimes de trabalho (remoto ou presencial), despesas com combustível, voos nacionais e internacionais, entre outros itens para receber o cálculo em tempo real. A empresa que finalizar o processo de compensação, recebe um selo que certifica seu compromisso com o meio ambiente. Até o momento, a startup já trabalhou com mais de 300 companhias como Gol, Reserva, iFood, Hering e ClickBus.

BlockC

Com o background de um time com mais de 20 anos de experiência em emissões de carbono, a BlockC foi fundada em 2019 e é fruto de uma longa história de pioneirismo e empreendedorismo no mercado de créditos de carbono, ativos ambientais, desenvolvimento e implementação de projetos de energia renovável.

Idealizada por Adriano Nunes, Carlos de Mathias Martins e Ricardo Esparta, a startup emite certificados usados globalmente por governos, investidores e instituições financeiras que desejam injetar aportes em soluções que contribuam para as mudanças climáticas de acordo com as metas do Acordo de Paris.

A BlockC é participante ativa do Acordo Ambiental de São Paulo, que incentiva empresas do estado a assumirem compromissos voluntários de redução de emissão de gases de efeito estufa. A startup também foi a representante da iniciativa do governo paulista durante a COP 25 (Conferência das Nações Unidas de Madri), em 2019.

A startup também é integradora dos sistemas da AirCarbon Brasil como sócia minoritária, detentora de 20% de participação na empresa local e responsável pela operacionalização da comercialização de ativos ambientais. A BlockC lançou o primeiro marketplace de compra e venda de créditos de carbono do país, marcando o nascimento da Bolsa Verde Rio — projeto da prefeitura carioca para fomentar o mercado voluntário por aqui.

Ainda sem nenhum cliente no setor hoteleiro, a BlockC se prepara para novas rodadas de investimentos nos próximos meses. Em 2021, a startup faturou R$ 2 milhões e a expectativa é que a receita dobre de tamanho em 2022.

“Vejo na hotelaria questões ligadas à estruturação e construção dos projetos, além da operação. Nosso modelo de negócios trabalha com clientes complexos para que os mesmos criem seu próprio ecossistema de parceiros para a gestão de carbono”, explica Adriano Nunes.

Na jornada de descarbonização, a BlockC faz o acompanhamento do processo, com plataforma blockchain que calcula a pegada de carbono dos clientes utilizando dados contábeis, fotos de satélite e protocolos de medição de gases de efeito estufa. A empresa também auxilia no engajamento da cadeia de valor, envolvendo fornecedores e parceiros, além de compartilhar metas de redução de emissões.

“Encontramos na plataforma a maneira mais fácil de compartilhar o conhecimento acumulado de nossa equipe. Nossa missão é pegar uma operação e levá-la ao seu limite de baixo impacto com o nosso acompanhamento da evolução do quadro. Optamos por utilizar o blockchain, pois acreditamos que esse mercado ainda será voluntário por um bom tempo. Logo, os dados são auditados. Atuamos em segmentos como indústria, óleo e gás e serviços”, complementa Nunes.

Pangeia

A Pangeia se posiciona como um ecossistema de negócios sustentáveis e foi uma das primeiras startups financiadas pela CX Investimentos Socioambientais — empresa de serviços financeiros da Conexsus. Em abril deste ano, a startup fechou parceria com a Via Varejo, dona de marcas como Extra.com.br, Casas Bahia.

Criada em 2016 por Gustavo Peixoto, a Pangeia tem iniciativas baseadas no desenvolvimento social, econômico e ambiental. A empresa também atua como marketplace sustentável, com ações de limpeza do meio ambiente, preservação da flora e fauna, reaproveitamento de materiais e incentivo aos produtores locais.

Este ano, a Pangeia lançou uma plataforma de ESGTech em parceria com gigantes da comunicação, a Revolução ESG, que une empresas de diversos segmentos por meio de ações de co-branding e impacto socioambiental em escala.

O marketplace conecta pessoas físicas e jurídicas, com forte atuação no atacado e varejo, reunindo marcas engajadas na preservação ambiental, economia circular e mudanças de hábitos de consumo. A plataforma é estruturada em quatro categorias, que integram um mix de fornecedores que inclui pequenos artesãos, cooperativas, produtores rurais, produtos ecológicos e alianças com povos originários.

(*) Crédito da capa: iStock