A questão dos aeroportos cariocas segue gerando discussões nos governos federal e fluminense, informa a Folha de S. Paulo. Enquanto o atual governo estuda a permanência da concessionária do RIOgaleão, o Santos Dumont registra volume de passageiros nunca antes visto. Apesar da capacidade anual ser estimada em 9,9 milhões de passageiros, o aeroporto encerrou 2022 com mais de 10,17 milhões de viajantes no total. Enquanto isso, o Galeão sofre para elevar o volume de turistas e atração de novas rotas.

O patamar de volume de passageiros atingido pelo Santos Dumont no ano passado supera qualquer resultado desde o início da série histórica da Infraero, em 2012. Enquanto isso, o Galeão contou com apenas 5,7 milhões de viajantes em 2022, segundo a Anac. O número responde por apenas 41,8% dos 13,7 milhões registrados em 2019, ano pré-pandemia. O resultado é especialmente novo para o terminal, visto que, ao longo da década passada, o aeroporto internacional chegou a receber mais de 16 milhões de turistas por ano.

Desde 2004, o Galeão sempre superou, com folga, o fluxo de passageiros do Santos Dumont. Essa realidade durou até o começo da pandemia, quando o terminal doméstico passou a registrar saltos nunca antes vistos no volume de visitantes. 

Se há impasse na aviação, o turismo (ainda bem) pouco vem sentindo. A hotelaria do Rio de Janeiro, por exemplo, teve um dos melhores desempenhos do país no ano passado. Segundo dados do FOHB, os hotéis cariocas superaram os níveis de performance pré-pandemia, fechando o ano com altas nos três principais indicadores do setor. Frente a 2019, por exemplo, a ocupação cresceu 2,5%, enquanto a diária média e RevPar avançaram 31,8% (mais do que corrigindo inflação no período) e 35,1%, respectivamente.

Diante disso, uma solução para os aeroportos da cidade, mitigando o atual desequilíbrio entre os terminais, tem potencial de melhorar ainda mais os resultados das unidades hoteleiras locais, avaliam especialistas.

Soluções

Para uma boa solução, é necessário entender a raiz do problema. Esta, contudo, divide opiniões. Em entrevista ao jornalista Leonardo Vieceli, da Folha de São Paulo, Chicão Bulhões acredita que o problema está na desproporcionalidade dos terminais e, portanto, é necessário uma maior “coordenação” entre eles. Segundo o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico do Rio, a prefeitura defende que voos no aeroporto doméstico fiquem restritos à conexão com Brasília e a trechos dentro de um raio de 500 quilômetros, abrangendo São Paulo. 

Santos Dumont - desequilíbrio entre terminais

No Galeão, fluxo de passageiros caiu muito

“O Santos Dumont está acima da sua capacidade de passageiros”, pontua Bulhões. “Se esse problema de regulação não for resolvido, vai ter uma concessão disfuncional de qualquer maneira no Galeão”, acrescenta.

Para Marcus Quintella, diretor do centro de estudos FGV Transportes, o inchaço do Santos Dumont não é o motivo do esvaziamento do aeroporto internacional. Em sua visão, o Galeão foi afetado por problemas estruturais do Rio, como as turbulências econômicas dos últimos anos e a violência urbana. “Um aeroporto não gera passageiros. O que gera é a cidade. É a economia da região”, afirma.

Já Delmo Pinho, ex-secretário estadual de Transportes e assessor da presidência da Fecomércio RJ, considera que o problema se encontra no acesso ao Galeão, que é feito por vias como a Linha Vermelha, local frequente de engarrafamentos e casos de violência urbana. “Se você quiser que uma pessoa saia de um aeroporto central e vá para o outro, que é muito bom, mas está mais distante, o trajeto tem de ser confortável. Ela precisa se sentir segura”, explica.

Enquanto isso, o Ministério de Portos e Aeroportos afirma que o caminho natural para o futuro do aeroporto internacional é realizar a relicitação. “De qualquer maneira, o ministério está empenhado em encontrar a melhor solução para a ampliação das operações do Galeão, seja ele administrado pela atual ou por uma nova concessionária”, informa a pasta.

(*) Crédito da capa: Eduardo Anizelli/Folhapress

(**) Crédito da foto: Divulgação/RIOgaleão