“Vivemos um período de alta temporada constante”, foi uma das frases mais ouvidas pela reportagem do Hotelier News ao longo de 2022. Com a pandemia ficando no retrovisor, o retorno à sazonalidade é iminente em 2023. Com desempenho mais reconhecíveis e indicadores voltando à estabilidade, o setor precisa rever suas estratégias para o próximo ano.

O último relatório do FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil) aponta que a diária média e RevPar ganharam força em novembro — superando os índices para o mesmo período em 2019. No mês passado, a diária média avançou 38,1%, enquanto o RevPar cresceu 36,4% frente ao ano pré-pandemia. Por outro lado, a ocupação recuou 1,2% na mesma base comparativa.

De janeiro e novembro, a diária média e RevPar avançaram frente a 2019, com altas de 19,8% e 19,7%, respectivamente. Já a ocupação apresentou uma pequena retração de 0,1%. Diante deste cenário, o que a hotelaria pode esperar de 2023?

Karen Akiko Mariano, gerente de Consultoria da HotelInvest, passou os últimos meses rodando o país para levantar dados de performance do setor. A profissional afirma que, em praças como São Paulo, os últimos meses foram de quebra de barreiras em diária média. “Alguns picos, como a Fórmula 1, levaram a praça a diárias astronômicas, o que é muito bom. O setor perdeu o medo de subir as tarifas. É importante continuar com um RM (Revenue Management) efetivo para otimizar receitas. Se a demanda aumentar, a diária tem que acompanhar. E esse movimento deve continuar no próximo ano”.

A gerente ressalta que a expectativa de alguns gestores é de incremento na diária média real de até 3% além da inflação, com ocupação similar ou superior a 2022. “É fato que em 2023 teremos um reequilíbrio entre corporativo e lazer, mas acreditamos que o turismo doméstico continuará aquecido devido às incertezas econômicas internacionais e ao câmbio elevado”.

sazonalidade - karen akiko mariano

Setor perdeu o medo de subir tarifa, diz Karen

Sem receita de bolo

Cada ano é um ano, isso é verdade. Porém, acreditar que 2023 será muito próximo ao que vivemos em 2022 é um palpite arriscado. Rodolfo Oliveira, CEO da XD Advisor, pontua que cada região possui suas particularidades, podendo sentir o retorno à sazonalidade de maneiras distintas. “As praças sofrerão pela ausência de nichos diferentes. No Rio de Janeiro, por exemplo, o Rock in Rio fará falta. Falando do Brasil, a instabilidade política e econômica gera muitas dúvidas sobre como o governo atuará com incentivos aos empresários”.

O executivo avalia que a demanda reprimida da pandemia ainda existe, sendo este um legado positivo da crise. Por outro lado, Oliveira acredita que o turismo de negócios ganhará mais força. “Temos alguns empreendimentos em que o business center voltou a receber uma demanda considerável de eventos de médio porte. Vamos ter uma concentração menor do lazer, mas com o bleisure se mantendo como tendência”.

Para os negócios da XR Advisor, o CEO espera manter os resultados positivos de 2022, com atenção para a inflação. “A incerteza não é mais a pandemia. Quem sobreviveu foram os melhores produtos, enquanto outros se tornaram franquias. Foi tempo de rever processos e olhar para dentro. Agora, esperamos aumento no mix de clientes”.

No Grupo Tauá de Hotéis, o otimismo se mantém. Felipe Castro, diretor de Operações da rede mineira, relembra os resultados positivos de 2022 para embasar suas projeções para 2023. “Tivemos um ano espetacular, com um primeiro semestre muito melhor que 2019. Observamos um aumento expressivo em receita e GOP. Entendemos que a demanda do lazer tende a regredir, mas os eventos devem suprir essa falta”.

Ainda sobre os eventos, Castro revela que o segundo semestre foi aquecido para o Tauá, mas que o primeiro semestre de 2023 tende a ser melhor. “Temos uma receita projetada para acontecer e espero que o novo governo traga a estabilidade que tanto precisamos após um ano complexo”.

Estabilidade e previsibilidade foram as palavras escolhidas por Hiram Della Croce, diretor de Operações da Wyndham Hotels & Resorts para o Brasil e Bolívia, para descrever 2023. “Vivemos os últimos dois anos em um cenário atípico. No próximo ano, entraremos em um ciclo de estabilidade, mas sem perder a atenção para os custos e distribuição”.

Para manter os bons números, a Wyndham aposta na base robusta de membros do Wyndham Rewards — clube de fidelidade da rede. “É um caminho para reduzir os custos com distribuição”, complementa o diretor.

sazonalidade - rodolfo vieira

Questione o modelo de negócios, aponta Oliveira

Pontos de atenção

Perante um mercado recuperado, porém ainda fragilizado, a hotelaria não pode se deixar cair na zona de conforto. Retenção de talentos, controle de custos e atenção quanto a manutenção dos ativos foram alguns pontos nevrálgicos citados pelos profissionais.

“Mão de obra é um problema crônico da hotelaria. A retenção de talentos impacta a prestação de serviços. Temos que voltar às origens como formadores de profissionais para passar 2023 de forma mais tranquila”, avalia Della Croce.

A redução do quadro de funcionários também foi apontada por Karen, que salienta que, mesmo com as novas contratações, o setor ainda opera com equipes mais enxutas. “E este cenário deve se manter nos próximos anos. Colocando diferentes categorias no bolo, a média de funcionários por UH no Brasil era de 0.3%, passando para 0.17%”.

A gerente da HotelInvest destaca ainda a manutenção dos ativos como um fator diferencial para 2023. “Tem sido um dos pontos mais comentados. Pela falta de receita em 2020 e 2021, muitos hotéis acabaram negligenciando esse departamento. E sabemos que este é um ponto de competitividade, principalmente quando falamos de um ano com mais sazonalidade”.

Questionar o modelo de negócios para obter resultados é uma das dicas do CEO da XR Advisor. “Meu ativo precisa de uma operadora? De franquia? De RM? Como está minha estrutura? Boas práticas de precificação e distribuição levam resultados para a indústria como um todo. Aprendemos a nos preparar para instabilidades e investir em inteligência faz parte desse processo”.

Castro reforça que as diárias já ultrapassaram os níveis pré-pandêmicos, mas alerta para o fato de que o indicador pode não crescer com a mesma rapidez em 2023. “A tarifa deve estabilizar nos parâmetros do passado, com avanço de 7% ao ano. Também ficamos mais atentos quanto ao controle de despesas, o que será mantido, ainda mais com a ameaça de recessão. De resto, é o que todo mundo já sabe: gestão de receita e foco na experiência do cliente”.

As análises, previsões e opiniões são infinitas. Em linhas gerais, a hotelaria precisa se apegar às lições trazidas pela crise, mas sabendo que 2023 será um novo ano, com um governo diferente, um comportamento de consumo próprio e demandas mais divididas.

Não existem fórmulas, mas sim aprendizados. Os hotéis precisam saber quem é o seu público, mas sem se apegar a apenas um nicho de mercado. Variedade será uma das palavras-chave para o próximo ano, sempre apoiada em inteligências para decisões assertivas, principalmente em tempos de instabilidade. No mais, 2023 está batendo à porta e resta apenas abraçar todas as oportunidades que o futuro reserva.

(*) Crédito da capa: martenbjork/Unsplash

(**) Crédito das fotos: Divulgação