Depois de quase três anos em crise devido aos efeitos da pandemia, pode-se finalmente dizer que a hotelaria retornou à normalidade. Isso significa afirmar que o setor voltou a ser diretamente influenciado pelo desempenho da economia. Portanto, hoteleiro, é hora de ficar atento ao noticiário econômico, que tem trazido boas e más notícias. A XP Asset, por exemplo, já revisou para baixo sua projeção para o PIB (Produto Interno Bruto) de 2,4% para 2,1%, aponta o Valor Econômico.

Se antes a expectativa era de crescimento da atividade econômica no segundo trimestre era de 0,7% em relação ao primeiro, agora a gestora espera queda de 0,2%. Um dos fatores que podem contribuir para essa desaceleração são as enchentes que atingem o Rio Grande do Sul, estado com o quarto maior PIB do Brasil. Nesse cenário, a hotelaria também está se movimentando para reverter a situação.

“E a impressão que eu tenho, hoje, é que o impacto pode ser ainda mais negativo do que nossas contas sugerem”, diz Fernando Genta, economista-chefe da XP Asset. Isso porque a estimativa leva em consideração mais o efeito das enchentes na economia gaúcha. Por exemplo: tendo em vista que ajuste anual do salário mínimo já foi dado, a alta nos preços de alimentos, por problemas com as safras no RS, pode levar a uma corrosão do poder de compra das famílias e, portanto, afetar o consumo no PIB.

Em um primeiro exercício, Fernando Fenolio, economista-chefe da Wealth High Governance, estima que o impacto negativo no estado pode variar de 0,02% no PIB nacional, se houver recuperação total da capacidade industrial gaúcha e 25% de perda da colheita local remanescente, a 0,34%, se a perda da colheita que resta for integral e a recuperação da indústria não passar 25%.

Nos cálculos preliminares da 4intelligence, o desastre pode fazer o crescimento do PIB gaúcho chegar a apenas 0,5% este ano, de 5,5% projetados anteriormente. Considerando que o estado representa cerca de 6,5% da economia nacional, a estimativa é de que as enchentes reduzam em 0,2 ponto percentual a expansão do PIB do Brasil em 2024. Assim, a projeção oficial da 4i de alta de 1,9% do PIB do Brasil este ano pode ir a 1,7%.

Outras instituições, como Bradesco e Banco Pine, apresentaram cálculos semelhantes, com as enchentes tendo influência negativa direta na atividade econômica brasileiro.

Inflação

Uma das “más notícias” da economia, mencionadas no início da matéria, é a alta da inflação. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acelerou 0,38% em abril, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Essa é a segunda alta consecutiva do índice, que cresceu 0,16% em março, aponta a Folha de São Paulo.

Remédios, alimentos e gasolina pressionaram a inflação em abril, que ficou acima da mediana das projeções do mercado financeiro. Analistas consultados pela Bloomberg projetavam variação de 0,35%. Apesar do resultado no período, a taxa de 0,38% é a menor para o mês em três anos, desde 2021. À época, o IPCA havia subido 0,31%.

No acumulado de 12 meses, a inflação brasileira perdeu força. O índice desacelerou a 3,69% em abril, menor patamar desde o registrado em julho do ano passado (3,16%). Ainda assim, o resultado também ficou acima das projeções nesse recorte, que era de 3,66%, segundo a Bloomberg. A inflação estava em 3,93% nos 12 meses até março.

Em abril, sete dos nove grupos de produtos e serviços do IPCA tiveram alta de preços. Saúde e cuidados pessoais (1,16%) e alimentação e bebidas (0,70%) registraram os maiores impactos no índice mensal (0,15% cada). Em saúde e cuidados pessoais (1,16%), a principal pressão veio dos produtos farmacêuticos (2,84%). O aumento de preços ocorreu após a autorização de 4,50% nos medicamentos a partir de 31 de março.

André Almeida, gerente da pesquisa do IPCA, diz que, de modo geral, os alimentos ainda são impactados por choques climáticos do início deste ano. Eventos como ondas de calor e chuvas intensas afetaram a oferta de mercadorias em regiões produtoras. Mesmo com a alta, o indicador não está descontrolado como em 2022, mas  pode ficar fora da meta, impactando a hotelaria diretamente.

“Tudo isso acabou prejudicando a produção de diversos alimentos, principalmente daqueles mais sensíveis ao clima. Isso acaba se refletindo nos preços”, afirma. Há também o temor de que a enchente no Rio Grande do Sul afete estoques, com repasses para os preços. Isso porque o estado é responsável por 70% da produção de arroz no Brasil.

Visando controlar melhor a inflação, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central reduziu o ritmo de corte da Selic e o indicador teve queda de apenas 0,25%, ficando em 10,50% ao ano. De modo geral, esse cenário determinará o 2024 da hotelaria brasileira.

(*) Crédito da foto: Pixabay