Quem gosta de viajar e está fazendo planos para uma próxima aventura já pode preparar o bolso. Isso porque, segundo especialistas e empresas do setor, o preço das passagens aéreas deve continuar alto no curto e médio prazos, aponta o Valor. As consequências da pandemia, além do efeito da guerra entre Rússia e Ucrânia, devem manter elevado o custo do petróleo, pressionando os gastos das companhias aéreas. De acordo com a Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), o valor do combustível teve avanço de 64,3% entre janeiro e agosto deste ano.

Nos últimos 12 meses, os bilhetes aéreos no Brasil acumularam alta de 47,35%, segundo dados do IPCA-15 de setembro. Em junho deste ano, a subida em 12 meses atingiu 123%, aponta a Folha de S. Paulo. A demanda, que tem crescido consideravelmente, tem mantido os aviões cheios (ocupações acima de 80%) e incentivado a abertura de novas rotas por parte das empresas aéreas, aquecendo a malha.

Para o verão, estão previstas 519 rotas, número superior ao do mesmo período de 2019, ano pré-pandemia. Assim, este cenário mostra que trata-se de uma situação ainda não resolvida. Afinal, o crescimento da malha traz otimismo, mas o preço das passagens ainda assusta e pode frear o movimento de retomada.

No setor, a grande dúvida que fica é: quanto tempo a demanda reprimida vai sustentar o mercado? Levantamento feito pelo Kayak aponta que o preço médio, ajustado pela inflação para uma viagem de ida e volta entre São Paulo e Rio de Janeiro está 11,59% mais alto hoje (R$ 640,00), do que no pré-pandemia. Da capital paulista para Brasília, o avanço no preço é de 30,79%, atingindo R$ 794,00, enquanto de São Paulo para Porto Alegre a alta é de 42,27%, chegando a R$ 1.063,00.

Passagens Aéreas - Preços_cidades

Impacto na hotelaria

Em entrevista ao Hotelier News, Pedro Cypriano, especialista em investimentos hoteleiros, explicou que, em mercados sensíveis a preço, o aumento das passagens sempre resultará em diminuição da demanda, ao menos na visão macro. Por outro lado, ele destaca que os segmentos não são impactados da mesma forma.

“Entre os imunes ao aumento das tarifas aéreas, estão os destinos regionais, com acesso rodoviário, tanto para o segmento de lazer, quanto o de eventos e negócios. É o caso dos resorts regionais e o de hotéis urbanos com acesso predominante de carro. Para os resorts, haverá até uma demanda adicional em razão do aéreo mais caro”, avalia.

O executivo também diz que os produtos nacionais de lazer de classe média, em que a alternativa mais clara é o internacional, também não são tão afetados pela alta dos preços. Isso porque, apesar do aumento das tarifas nacionais, enquanto o dólar estiver valorizado, parte das viagens de brasileiros ao exterior continuará sendo redirecionada ao mercado doméstico.

Na contramão deste movimento, Cypriano salienta que o aéreo caro liga o alerta para alguns destinos com representatividade alta do aéreo como meio de transporte. “Podemos elencar, neste sentido, o corporativo de grandes cidades e destinos de lazer mais sensíveis a preço, e com perfil de demanda focado essencialmente em empreendimentos domésticos”, acrescenta.

“Em resumo, vejo ainda boas perspectivas para o lazer em produtos com valor agregado e para o corporativo regional. E sou mais cauteloso com destinos urbanos de demanda sensível a preço e dependentes do aéreo. Por isso, 2023 promete ser um ano de oportunidades para alguns e desafios para outros”, finaliza.

Outros dados

O avanço nos preços também se reflete nos números da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). No acumulado dos sete primeiros meses do ano, o valor médio real da tarifa ficou em R$ 606,42, aumento de 20,8% contra 2019 e maior nível desde 2012. Já em setembro, dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que as passagens aéreas foram um dos itens que mais sustentaram a inflação.

Voltando a falar de um dos principais fatores de custo do setor, o preço do combustível de aviação, tem sido cortado pela Petrobras. Porém, a Abear tem dito que a alta volatilidade do câmbio e, consequentemente do valor do petróleo, impedem projeções sobre a queda no valor das passagens. Se anteriormente o combustível representava 25% dos custos das empresas, hoje responde por mais de 40%.

“A procura por passagens aéreas vem antes de alguns sinais de retomada da economia. E essa demanda tem vindo com força. Por vezes, as empresas não têm condições de retomar rapidamente a oferta de serviços. Isso implica em uma série de desafios, como trazer de volta aviões que haviam sido devolvidos ou estavam em estado de preservação, além de recontratar profissionais, que precisarão passar por treinamentos, explica Ricardo Catanant, diretor da Anac, em entrevista à Folha.

(*) Crédito da foto: iStock

(*) Crédito do infográfico: Divulgação/Kayak