A demanda turística está retomando gradativamente, com cada vez mais pessoas voltando a viajar. Como resultado deste movimento, de acordo com dados levantados pela CCR Aeroportos por meio do sistema OAG (Official Aviation Guide), a malha aérea prevista para a alta temporada – de dezembro a janeiro – será maior do que em 2019, ano pré-pandemia. Para este verão, haverá ao menos 519 rotas, contra 443 no mesmo período de 2019. O número, com acréscimo de 76 rotas, representa avanço de 17,2%, revela a Folha de S. Paulo.

Por outro lado, o levantamento também mostra que haverá menos decolagens (queda de 3,8%, atingindo 71 mil) e 100 mil assentos a menos, somando 10,9 milhões disponíveis. Isso se explica pelo uso de aeronaves menores e menor frequência de voos em alguns trajetos.

“Vem aí o verão definitivo que vai deixar a pandemia para trás. Saímos do modo de recuperação para falar de crescimento real”, avalia Graziella Delicato, gerente de Negócios da CCR Aeroportos, que opera 17 terminais brasileiros.

Mais rotas regionais

As mudanças no mapa aéreo incluem mais ligações entre as regiões Sul, Sudeste e Nordeste, além de mais rotas regionais, que atendem cidades do interior ou conectam capitais de menor porte. Após a pandemia, houve aumento de demanda por destinos ligados à natureza, como Bonito (MS), e Lençóis Maranhenses, além de outras praias nordestinas.

Além do maior interesse do brasileiro por voos nacionais, a criação de rotas internas também tem uma razão fiscal: alguns estados, como São Paulo e Paraná, oferecem desconto no ICMS sobre o combustível de aviação, em troca de novos serviços aéreos em seus territórios.

Corporativo estimula aumento

O levantamento também aponta a retomada gradual dos voos corporativos, que contribuiu para o aumento da malha aérea. “O turista geralmente procura o voo mais barato. Mas no corporativo, quando o passageiro precisa ir fechar um negócio, ele pega o que tem. É o voo corporativo que dá lucro para a companhia aérea”, explica Cláudio de Carvalho, presidente do Saesp (Sindicato dos Aeroviários de São Paulo).

Para os próximos meses, as companhias aéreas estão com otimismo moderado, dadas as incertezas sobre o desempenho da economia e o preço dos combustíveis. A Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), aponta que o querosene de aviação subiu 64,3% entre janeiro e agosto deste ano no Brasil.

Por outro lado, ainda há espaço para expansões rápidas, quando a demanda surgir. Praticamente todos os aeroportos brasileiros possuem espaço para receber mais voos, sendo Congonhas (SP) a principal exceção. O preço das passagens aéreas, que cresceu consideravelmente nos últimos dois anos, também pode ser uma barreira durante a retomada da demanda. Além disso, as empresas ainda tão lidando com demandas pré-pandemia.

“Muitos passageiros que ficaram com passagens retidas durante a pandemia e não optaram pelo reembolso estão remarcando os bilhetes para agora e as empresas precisam acomodá-los”, destaca Ricardo Catanant, diretor da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).

Carvalho, por sua vez, ressalta que os gastos com pessoal estão menores. “As empresas estão recuperando a malha com menos funcionários. O lema das empresas é mais com menos. Uma das três grandes companhias está com quase 90% da malha que tinha, mas com 33% menos custo de pessoal. Aqueles que foram desligados estão voltando com salário menor”, acrescenta.

Por fim, dados da Abear apontam uma taxa média de 0,5 viagem por habitante por ano no Brasil, quatro vezes menor que nos EUA. “O índice de penetração da aviação é muito baixo, comparado a outros mercados maduros, como o Chile. Era preciso ter mais CPFs viajando”, finaliza Catanant.

(*) Crédito da foto: blende 12/Pixabay