Um dos motivos para o desperdício do potencial turístico do Brasil é a falta de um planejamento contínuo e integrado da esfera pública. Agora, qual a visão de alguns setores da indústria de viagens sobre o assunto? Mais ainda, como evoluir como mercado? Na semana passada, durante um coquetel realizado pela Resorts Brasil em São Paulo, a reportagem do Hotelier News conversou com lideranças da entidade para entender o nível atual de representatividade do segmento no governo, bem como as perspectivas para os próximos quatro anos.

Partindo de uma avaliação sobre a pandemia, Sérgio Souza, vice-presidente da Resorts Brasil, relembra que o setor passou por maus bocados. “Embora desconhecesse o setor, o ex-ministro do turismo Marcelo Álvaro Antônio não era soberbo e estava disposto a aprender. Na pandemia, que se caracterizou por um ‘cada por si’ na economia, ele trabalhou para garantir linhas de crédito, isenção de impostos e atender às nossas demandas no Ministério da Fazenda”, relembra.

Apesar das dificuldades, Souza destaca que a pandemia uniu as principais entidades da indústria de viagens, que sempre lutaram por seus próprios interesses. “Organizamos uma frente ampla, que foi o G20. Ainda que agora já estejamos defendendo nossos próprios interesses novamente, ganhamos a certeza de que qualquer espirro que ameace nossa indústria faz o G20 se formar em menos de 24h”, brinca. “Ou seja, aprendemos que temos o potencial de movimentar o turismo como um todo”, continua.

Perspectivas

Antes de abordar as perspectivas para o próximo governo, Marcelo Picka, presidente da Resorts Brasil, reitera que a associação não tem partido. “O que precisamos é um sistema econômico forte e o país crescendo para que as pessoas continuem viajando”, afirma. “Não temos bola de cristal para saber o futuro, mas esperamos que o Brasil siga num ritmo no qual o cenário econômico deixe de interferir tanto na demanda turística”, comentou.

Resorts Brasil - pandemia e o futuro

Souza, Ana e Picka: dados também para o ESG

“A chegada de turistas movimenta muitos setores, de supermercados a motoristas de aplicativo. Somos um grande gerador de receitas e de empregos. Portanto, esperamos que o sejamos reconhecidos como tal e que a pasta de turismo tenha a importância que deveria ter em qualquer governo”, completa.

Souza pondera, contudo, que o momento atual tem gerado incertezas, mas mais do viés político do que qualquer outra coisa. Segundo ele, o grupo de transição federal não está cooperando como o estadual. “Isso abre uma dificuldade muito grande para qualquer movimento. As necessidades do turismo envolvem diversas questões macro que interessam à toda cadeia”, acrescentou.

“Não há fomento significativo de linha de crédito, bem como promoção institucional via governo, e é disso que precisamos. Ou seja, são coisas básicas que a esfera pública precisa fazer, pois de resto a iniciativa privada corre atrás”, opina Souza.

Ainda assim, Souza aponta que houve evolução nos últimos anos e que a pandemia e o G20 mostraram que a indústria de viagens ganhou mais voz. “Ainda que não tenhamos uma bancada forte como o agronegócio, temos pessoas que entendem nossas necessidades. Desenvolvemos um protagonismo que impede de sermos ignorados”, conclui.

Futuro é ESG

A evolução da coleta e uso de dados, que gera inteligência de mercado, também foi abordada no encontro. “Quando tínhamos apenas o Quatro Rodas e precisávamos saber a ocupação dos hotéis concorrentes, sentávamos em frente à fachada contando o número de janelas acesas”, brinca Picka. “Hoje, os membros da nossa associação nos enviam dados diariamente. No entanto, ainda há muito o que evoluir se compararmos com outros mercados, como os Estados Unidos”, complementa.

Ana Biselli Aidar, presidente executiva da Resorts Brasil, levou a questão de dados para a agenda ESG. “Precisamos evoluir muito e ter indicadores ESG que permitam comparações eficientes. Para isso, é necessária a percepção de que não importa em que estágio um empreendimento se encontra em relação ao desenvolvimento de práticas sustentáveis, é preciso começar”, indica Ana.

“Se o hotel está dando um passo à frente nessa questão, já está no caminho certo. Esperamos apenas que todos evoluam o nível de maturidade sobre a agenda. É isso que buscamos estimular em nossos associados”, finaliza Ana.

(*) Crédito da capa: Lucas Barbosa/Hotelier News

(**) Crédito da foto: Divulgação/Resorts Brasil