Os problemas da Gramado Parks, que teve pedido de recuperação judicial reconhecido em abril, ganharam novo capítulo. Em assembleia ocorrida no dia 3 de maio, parte dos credores da empresa gaúcha de turismo e hospitalidade aprovou a cobrança do vencimento antecipado de dívidas pela falta de pagamento de juros previstos em contrato. Os débitos, segundo notícia veiculada no Estadão, somam R$ 571 milhões.

O encontro da semana passada reuniu investidores que compraram um conjunto de CRIs (Certificado de Recebíveis Imobiliários) emitido pela Fortsec em favor da Gramado Parks. A securitizadora, por sua vez, afirmou que há cerca de um mês vem tentando um entendimento com a empresa gaúcha para o acerto das dívidas. Vale destacar que um acordo havia sido firmado entre as partes para suspender temporariamente a cobrança dos débitos.

Como não houve evolução nas conversas desde então, os credores chancelaram na assembleia da semana passada (veja ata completa aqui) a cobrança da dívida e a execução das garantias, que envolvem cessão fiduciária de recebíveis, alienação fiduciária de participação societária e fianças, entre outras coisas.

Gramado Parks - credores pedem execução de dívida

Buona Vitta é um dos resorts da Gramado Parks

Cronologia

Os problemas da Gramado Parks começaram na pandemia e pioraram com a alta da Selic. Isso porque, nas emissões dos CRIs, as empresas do grupo cederam à Fortsec a receita de vendas das frações para pagamento dos credores, enquanto o restante seria direcionado para o caixa. Todavia, os juros altos, queda de vendas e crise econômica afetaram o faturamento da empresa gaúcha.

Entre as empresas do grupo que entraram em recuperação judicial estão: a GPV, de venda de multipropriedades; a ARC Rio, de gestão de rodas-gigantes; e a BPQ, do setor de administração de parques.

Já a dívida de R$ 571 milhões que se tornou alvo da execução vem de CRIs emitidos por outras projetos da holding que ficaram fora do processo de recuperação judicial. São elas: a Gramado Parks Investimentos e Intermediações (GVI), a GTR Hotéis, a Gramado Parks Investimentos e Intermediações (GPK II) e as sociedades de propósito específico (SPEs) dos empreendimentos Gramado Buona Vitta Resort e Aquan Prime Foz.

Em nota enviada ao Estadão, a Gramado Parks afirma que está viabilizando o pagamento de dívidas de todos os credores visando à preservação de suas atividades. O grupo disse ainda que o endividamento foi gerado por uma série de fatores, sendo o principal deles uma estrutura de financiamento com sua principal credora, a Fortesec.

O texto salienta também que os produtos da Gramado Parks, como hotéis e parques, seguem operando normalmente, sem mudanças para clientes e parceiros. Segundo a empresa, a prioridade é a preservação dos ativos, empregos e interesse dos clientes, colaboradores, fornecedores e investidores.

Conflito de interesses?

Entre os credores que aprovaram a execução da dívida contra a Gramado Parks estão os fundos Devant Recebíveis Imobiliários, Hectare e Versalhes. Os três são geridos por empresas do Grupo RTSC, que também era controladora da Fortsec até alguns dias atrás, informa o Estadão.

Em fato relevante emitido no dia 1º de maio (acesse aqui), a RTSC informou que transferiu para Juliana Mello Esteves Pereira e Rodrigo Luiz Camargo Ribeiro, no dia 28 de abril, a totalidade das ações do capital social da securitizadora.

Em matéria publicada pelo Hotelier News no início de abril, e que utilizava como base reportagens do Uol e do Infomoney, foi levantada a possibilidade de haver conflito de interesses do Grupo RTSC no caso relacionado à inadimplência da Gramado Parks. Isso porque a holding financeira atuava nas diferentes pontas da modelagem de capital que viabilizou os projetos da companhia gaúcha: estruturação do CRI (Fortsec), comprador dos títulos de dívida (Serra Verde) e gestor do fundo que adquiriu os papéis (R Capital).

Vale ressaltar que não há ilegalidade na prática, mas a hipótese de conflito de interesses não passou desapercebida na assembleia de credores realizada na semana passada, e citada no início do texto, como mostra a ata do encontro (veja imagem abaixo).

Gramado Parks - credores pedem execução de dívida - interna

O texto dá a entender que uma eventual caracterização de conflito de interesses foi superada e, mais ainda, esta inexistia. A justificativa era de que o controle acionário da Fortsec mudara de mãos, agora sem a participação do Grupo RTSC. Alguns fatos, contudo, chamam atenção. Primeiro, a transferência das ações ocorreu poucos dias antes da realização da assembleia. Segundo, pelo que indica o fato relevante, essa alteração no capital aconteceu sem aparentemente ter envolvido uma contrapartida financeira para a RTSC.

Uma explicação para a segunda questão talvez seja o fato de que Juliana Mello e Rodrigo Ribeiro são sócios, juntamente com Marco Jorge (CEO do Grupo RTSC), na Banni Participações, como mostra o Transparência.cc (veja link).

Procurada pela reportagem para esclarecer se os três seguem sócios nas outras duas empresas e se eles entendem que o conflito de interesses efetivamente inexiste mesmo eles sendo sócios em outros negócios, a assessoria do Grupo RTSC não retornou até o fechamento dessa publicação.

(*) Crédito da foto: Divulgação/Gramado Parks