Vinda da Bahia, uma notícia até certo ponto inesperada marcou o comecinho de ano do Grupo Vila Galé. Nada, contudo, que abale a confiança de Gonçalo Rebelo de Almeida em atingir as metas traçadas para 2022. Em paralelo, a rede portuguesa segue acelerando sua expansão, caso da aguardada inauguração de um resort na praia do Carro Quebrado, em Barra de Santo Antônio (AL), confirmada para 22 de junho.

“Olha, fomos surpreendidos, mas outro candidato apareceu e ofereceu muito mais dinheiro do que nós”, revela um resignado Almeida sobre o recente anúncio do resultado da licitação para converter o Palácio Rio Branco, em Salvador, em um hotel. Sim, a expectativa do grupo hoteleiro português, que tem um histórico de duas décadas de investimentos no mercado brasileiro, era grande com o projeto, que iria se tornar a terceira unidade no estado.

A frustração decorre do fato das lideranças da rede lusitana terem tido muitas conversas e tratativas com a prefeitura de Salvador em relação à conversão do imóvel, erguido em 1549. Tanto é que chegou a entregar um projeto de retrofit para o edifício histórico, o que, aliás, é uma das expertises da empresa.

Em Portugal, por exemplo, a cadeia hoteleira executou conversões similares, casos dos belíssimos empreendimentos em Paço dos Arcos e Braga. “Não se pode ganhar todas, mas pelo menos eles vão usar parte do nosso projeto”, acrescenta Almeida, entre uma tragada e outra em seu cigarro eletrônico.

Vila Galé - Palacio Rio Branco

Grupo paulista ganhou licitação do Palácio Rio Branco

O executivo, por sinal, acabou de ser nomeado CEO do Vila Galé na convenção realizada no início deste mês, em Portugal. Um reconhecimento e tanto para alguém que chegou ainda jovem ao Brasil acompanhando seu pai, Jorge Rebelo de Almeida, no desenvolvimento dos hotéis por aqui. Agora, com a cabeleira já grisalha, comandará os próximos passos do grupo – e já nos antecipou algumas informações.

“Estamos a começar as obras em três propriedades portuguesas. Uma fica nos Açores, outra em Tomar, que será a conversão de um antigo convento, e a terceira no Alentejo. A última, na verdade, é um hotel temático que será erguido dentro do terreno de outro empreendimento nosso”, informa Almeida. “A ideia é inaugurar todos eles no ano que vem”, completa.

Em relação ao mercado brasileiro, as obras no novo resort chegam à reta final, enquanto outros projetos seguem em prospecção. “Não há obra que chegue ao final que não seja sofrido, mas continuamos com nossa programação de abertura. Temos reserva para entrar no final de junho e início de julho, não tem para onde correr”, brincou. “Já o projeto dentro do Instituto Inhotim, as conversas seguem em estágio inicial, mas é algo que nos interessa”, acrescenta.

Como um dos principais players de lazer no país, é impossível não conversar com Almeida e tocar no assunto multipropriedade, que vem colaborando decisivamente para a expansão do segmento no Brasil. “Nós já analisamos alguns modelos e também já nos propuseram, mas queremos manter nossa marca ligada à hotelaria tradicional”, comentou.

“Multipropriedade tem um retorno de investimento mais rápido para o desenvolvedor. Ele vai, vende as frações, constrói, tem retorno e já parte para outra. Nós ficamos por muitos anos, amarrados à comunidade local, com preocupação socioambiental. Gostamos de ficar por muito tempo. Para nós, negócio hoteleiro é um negócio para a vida”, completa.

Performance

Segundo Rebelo, 2021 se encerrou com os empreendimentos no Brasil com boa performance e caixa equilibrado, principalmente os produtos de lazer. “Se comparamos nossas duas realidades, o Brasil foi melhor. A receita de 2021 no país ficou 15% abaixo da pré-pandemia. Em Portugal, foi 50% menos”, destaca. “O Brasil continua com muitas viagens internas, mas não retomamos o fluxo de brasileiros nos hotéis de Portugal, o que tem relevância para nós, mas atribuo ao câmbio e, claro, à pandemia. Obviamente, estou muito mais tranquilo com o que ocorre por aí do que na Europa.”

Na avaliação de Almeida, fevereiro deste ano teve bom desempenho, embora pudesse ter sido melhor. “Creio que a suspensão do Carnaval teve algum impacto, mas, de qualquer forma, essa data funciona melhor quando é no início de fevereiro. Já janeiro, teve performance melhor do que os níveis pré-pandemia”, comenta.

“Notamos uma recuperação mais rápida nos resorts, obviamente. O corporativo ainda não retomou à normalidade, até porque os eventos ainda não voltaram com força. No Rio, que tem demanda mista, está indo bem. Então, encaramos com otimismo o ano de 2022, no qual temos tudo para atingir o orçamento e superar os níveis pré-pandemia”, finaliza.

(*) Crédito da capa: Divulgação/Vila Galé

(**) Crédito da foto: rogerioconrado/Pixabay