Ontem (25), a Gol Linhas Aéreas entrou com um pedido de recuperação judicial nos EUA. A empresa garante que a operação não será prejudicada, mantendo todos os voos e reservas. De acordo com Celso Ferrer, CEO da companhia aérea, a decisão de entrar no chamado Chapter 11 (capítulo da Lei de Falência dos Estados Unidos que trata da reorganização de empresas em dificuldades financeiras) visa “sair com a estrutura de capital correta, posicionando a companhia para o crescimento”. A dívida especulada da empresa pode chegar a R$ 20 bilhões.

De acordo com o documento oficial apresentado à corte norte-americana e obtido pelo jornal O Globo, a Gol deve para mais de 50 mil credores. Entre eles, o banco BNY Mellon (US$ 539,9 milhões), o Comando da Aeronáutica (US$ 222,5 milhões), a Boeing (US$ 15,2 milhões), a Infraero (US$ 15,0 milhões), a fabricante de motores CFM Internacional (US$ 13,5 milhões) e a Concessionária do Aeroporto Internacional de Florianópolis (US$ 11,9 milhões).

O compromisso de financiamento de US$ 950 milhões (R$ 4,6 bilhões), assumido pelo Chapter 11, é feito na modalidade DIP (debtor in possession), indicando que os fundos adquiridos serão utilizados para apoiar as operações da Gol durante o processo de reorganização. “O processo de Chapter 11 já foi muito usado na indústria de aviação, com vários casos de sucesso, como Latam, Avianca, Aeromexico, Delta, United e outras empresas. No nosso caso, o foco da reestruturação está ligado ao fato de muitos dos nossos credores estarem posicionados na lei dos EUA, principalmente os arrendadores de aeronaves”, explica Ferrer.

Para o executivo, apesar de ser difícil prever com exatidão a duração do processo, a expectativa é que não seja tão longo.  “No nosso caso, é difícil precisar quanto deve durar, mas acreditamos que ele dure substancialmente menos que os processos de outras companhias da América Latina, porque não estamos mais na pandemia, quando existiam incertezas em relação ao setor. Temos agora uma demanda e, no caso da Gol, nossa operação é simples”, apontou o CEO.

Hoje (26), dia seguinte ao anúncio de recuperação judicial, as ações da companhia já apresentaram queda na bolsa. Na primeira hora de negociação, os papéis da Gol caíram mais de 14%. Às 13h22, a perda desacelerou para 12,57%, a R$ 5,63 cada ação, apontou a Folha. Às 15h05, a variação era de 13,04% (R$ 5,51).

Causas da crise

Analistas afirmam que a Gol apresenta indicadores operacionais robustos devido à sólida demanda por viagens aéreas no Brasil. No entanto, o fluxo de caixa da empresa tem sido impactado negativamente devido às elevadas despesas com leasing (contrato de aluguel de aeronaves) e juros, prejudicando seu perfil de dívida.

Além disso, a companhia enfrentou desafios relacionados à capacidade devido a atrasos nas entregas de aeronaves da Boeing. O presidente-executivo da empresa destacou que esses contratempos impediram a Gol de expandir no ritmo desejado, aponta o G1.

E a operação?

Conforme apurado pela Folha, de acordo com o professor de Direito do Consumidor da Universidade Prestiteriana Mackenzie, Bruno Boris, a experiência da Latam com pedido de recuperação judicial nos EUA transmite segurança. O profissional aponta que a medida “não afetou os consumidores brasileiros”.

O serviço de milhas da empresa, a Smiles, também segue operando normalmente. Já a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) diz que manterá o padrão de embarque dos voos da companhia em solo brasileiro tanto em segurança quanto em atendimento aos passageiros.

Sobre possíveis riscos ao consumidor, a recomendação é que os clientes priorizem compras de passagens de curto prazo para evitar riscos de problemas futuros. Ferrer afirma que descontos e promoções seguem válidas para os voos da Gol.

Em comunicado, a companhia “honra planejar todas as obrigações com clientes, incluindo reembolsos de passagens, cupons de viagem e pagamentos ou créditos associados a despesas de bagagem ou serviços, em conformidade com políticas da empresa em vigor”.

(*) Crédito da foto: Divulgação/Gol Linhas Aéreas