HSMAI Strategy Conference é aberta em São Paulo

Futuro do mercado internacional e brasileiro, mudanças de comportamento dos consumidores, estratégias de marketing e vendas, foram alguns dos principais temas abordados no HSMAI Strategy Conference, organizado pela HSMAI Brasil (Hospitality Sales and Marketing Association International). A nona edição do evento, que aconteceu hoje (10) no Hotel Hilton São Paulo Morumbi, reuniu 130 profissionais, entre líderes, hoteleiros e revenue managers.

Dada a largada do encontro, Daniel Hirata, diretor do Hilton SP Morumbi, subiu ao palco, agradeceu a presença de todos e perguntou aos gerentes de Revenue Management se acertaram o orçamento de 2022. Nenhuma resposta positiva. Em linha com isso, Luis Otávio Leal, economista-chefe do Banco Alfa, brincou que também erraremos o orçamento de 2023, dados os inúmeros fatores e a impossibilidade de se considerar todos os futuros possíveis.

Ainda assim, é imprescindível a avaliação do cenário macroeconômico internacional e brasileiro e suas respectivas projeções, para traçar uma estratégia coerente e mais próxima da realidade possível. Dito isso, Leal começou o painel “Contexto Econômico e as Perspectivas para 2023” com um panorama geral do turbulento cenário internacional e finalizou com boas notícias ao Brasil.

Contexto Econômico e as Perspectivas para 2023

Em seguida, Leal deu início aos trabalhos da HSMAI Strategy Conference com sua palestra, traçando um paralelo com 2008. À época, também verificamos o crescimento mundial à beira do abismo, mas estavam todos no mesmo barco, com problemas semelhantes. A crise atual, segundo ele, varia de região para região e de acordo com a realidade de cada mercado. No caso, a China, a Guerra Rússia-Ucrânia e a política monetária dos Estados Unidos são os três elementos que definem o cenário.

“Na última crise, a China foi quem nos salvou, por meio do boom de commodities. Neste cenário, contudo, o país pode vir a se tornar uma pedra no sapato em todos os períodos de tempo futuros”, afirma Leal. “Tolerância Zero para Covid-19 é o problema do curto prazo, crise imobiliária no médio e Taiwan no longo”, lista o economista, que reitera que se o PIB (Produto Interno Bruto) do país crescer 3% ao ano, é muito.

Por conta disso, Leal acredita que a China não será a locomotiva do mundo, como foi nos últimos anos, e que é importante ficar atento à Índia. “Em 2050, mais da metade dos indianos, o que corresponderá a mais de 2 bilhões de pessoas, estarão em idade de trabalhar”, alegou o economista, com base nos gráficos de projeções de crescimento populacional apresentados. “Por conta dessa janela demográfica, é fácil de imaginar que o país venha a ganhar forte relevância por volta da década de 30”.

Quanto aos EUA, o economista acredita que seja impossível o país não entrar em recessão. “Taxa de desemprego em nível mais baixo da história, são 5 milhões de vagas sem alguém para ocupar. Com mais oferta que demanda, o salário deve subir, o que também significa maior inflação – que já está em níveis nunca antes vistos a mais de 40 anos”, comenta Leal. “O mercado financeiro americano também deve cair, mas é impossível de avaliar a reação da bolsa brasileira, visto que houve um descolamento entre eles. Ainda assim, o dólar continuará forte, com baixa importação de commodities”, acrescenta.

Brasil na crista da onda

HSMAI Strategy Conference - Painel_Luis

Leal fala do mercado brasileiro com mais otimismo

Embora o cenário internacional seja ruim, o Brasil não é para principiantes. “Na visão do estrangeiro, nosso país será o principal motor da economia global e estão apostando suas fichas nisso”, alega Leal. “Ainda que não esteja muito otimista para o quarto trimestre, visto que a recente melhora tenha sido fruto de medidas governamentais, as projeções do PIB para os anos seguintes estão bastante elevadas”, continua.

De acordo com o economista, o mercado de trabalho vem se recuperando e a renda real continua crescendo. “A poupança da população brasileira também cresce, o que é estranho, já que o endividamento das famílias voltou a crescer. O comprometimento médio da renda das famílias com a dívida está em 29,4% da renda, próximo do patamar perigoso de 30%.”

Quanto aos juros, o economista espera que voltem a cair a partir de agosto de 2023, ou até antes, dependendo da política fiscal desempenhada pelo próximo governo.


HSMAI Strategy Conference: sua vulnerabilidade é sua maior mensagem

O penúltimo painel do dia ficou por conta de Thiago Bruno, retratista, diretor da TBStudios, mentor e palestrante gago. Para ele, todos os tópicos abordados nas demais palestras são inúteis se não forjamos boas conexões. “Quando estamos tão focados em inovação, crescimento, metaverso e não sei o que mais, esquecemos de nos conectar. Precisamos honrar quem está próximo: família, equipe, etc. Quem foi a ponte pra você chegar até aqui?”, questiona Bruno.

Na avaliação do painelista, network vale muito mais do que dinheiro. “É menos uma questão de verba e sim de boa vontade. É mudar as cadeiras e ter a disposição de ir atrás”, alega Bruno. “Não é lençol, a qualidade do fio de algodão do travesseiro, são as pessoas. Essa é a chave que tem que virar. Se você não considera isso, ficará para trás”, acrescenta.

“Qual é a atuação de vocês sobre inclusão de LGBTQIA+, mulheres e minorias étnicas?” perguntou Bruno aos participantes. “Se não pensar nisso, o hóspede trocará você pelo concorrente. Digo isso porque se estou num lugar onde não me sinto representado, deixo o espaço e vou para onde me sinto acolhido”, continua.

Mensagem humanizada faz diferença

Bruno explica que é importante ser verdadeiro na mensagem transmitida pela marca. “Estamos a todo momento tentando criar uma fachada, maquiando a realidade. Gastamos muito tempo tentando ser aceitos, não devemos ser aquilo que não somos só para nos enquadrarmos. Não é à toa que as pessoas estão tendo burnout, uma hora tudo isso passa a ser insustentável e o corpo começa a apresentar sintomas.

HSMAI Strategy Conference - Palestra_Thiago

Bruno: abordagem deve ser de acolhimento

Em suma, Bruno explica, em sua fala na HSMAI Strategy Conference, que não se trata de orçamento, mas de se desenvolver como líder, ter empatia e enxergar que por trás de cada funcionário ou hóspede, existem pessoas com problemas reais. “Para isso, é necessário olhar para si e sobrepor suas vulnerabilidades, transformando-as em sua mensagem. São elas que carregam o verdadeiro valor”, infere Bruno.

“Investimos muito tempo em mudar o outro, mas a primeira mudança precisa ser em nós. A sua mensagem vai promover a transformação que você espera para o mundo. Portanto, não negligencie o envio dela”, continua Bruno. “Essa é minha vida, eu passei por cima da minha gagueira. Então eu acho que é o momento de se resolver isso. Seja com terapia, macumba, spa, o que for, não negligencie. Afinal, não é sobre você, mas sobre nós” finaliza.


Visão de Negócios e Estratégias Comerciais para 2023

Dando continuidade à programação da HSMAI Strategy Conference, com apoio de outros três líderes hoteleiros, Ricardo Souza, Senior Business Development Manager Latam da OTA Insight, trouxe à conversa o que os hotéis devem esperar para 2023. Segundo eles, o mais importante aspecto da demanda hoteleira atual é o fato de estar bastante aquecida e antecipada, não só no segmento de lazer, mas também no corporativo.

“Essa antecipação é muito importante. Ainda que devemos ter preocupação com o curto prazo, essa antecipação é muito importante e precisamos avaliar o longo prazo”, comenta Daniel Feitosa, da Climber RMS. “Para isso é necessário estudar como se deu os resultados passados, pois o futuro será fruto das medidas tomadas no presente”.

Dito isso, é importante ressaltar que comparações anuais ainda não são um parâmetro suficiente para avaliar o desempenho dos hotéis. “Isso se confirma ainda mais quando verificamos que houve uma grande mudança no comportamento dos hóspedes desde o começo deste ano para cá”, complementa Marcus Simões, da Hotelbeds.

Perspectivas

A previsão dos painelistas é de que a demanda internacional só deverá começar a se recuperar de fato em 2024. Isso quer dizer que em 2023 o mercado deve ser guiado pela demanda doméstica. No entanto, Souza destaca que é importante se planejar com antecedência, pois quanto antes agir, melhor para transformar essa demanda em maior rentabilidade.

Considerando isso, é essencial que a diária média continue a crescer em 2024. “Aqueles empreendimentos que estão atrasados nisso, precisam avaliar melhor o mercado: a régua subiu, o patamar é outro”, indica Simões. “Será um período de alta demanda? Então seu preço deve estar adequado a essa falta de disponibilidade”, completa.

Retomando sua fala, Souza diz que a maioria dos empreendimentos vem conseguindo capitalizar muito bem sobre a demanda, se comparado a anos anteriores. “Não se trata de oferecer um preço mais alto, mas o preço justo em relação ao serviço e experiências oferecidos pelo hotel. É uma proporção de valor, mas que, em muitos casos, os hotéis não sabem comunicar isso aos potenciais hóspedes e reajustar seus preços”, explica.

Desafios

Entre os principais desafios da hotelaria em 2022 foi o preço do setor aéreo, segundo Ana Carolina Fusquine, da Pmweb. “Isso deve se estender para 2023 e portanto, os destinos de lazer precisam ensinar o viajante a reservar com antecedência. Para isso, o hotel pode assumir o protagonismo do mercado para poder trazer essa demanda de forma direta”, alega Ana Carolina.

Por fim, os painelistas compilaram as principais dicas, como conhecer o comportamento dos consumidores para poder direcionar ofertas e estratégias que garantam maior conversão, oferecer contato personalizado, tomar protagonismo do mercado, capitalizar em momentos de alta demanda e trabalhar com departamentos alinhados a partir de análises conjuntas, para não haver quebra de coerência. “Se isso não for feito, seu concorrente fará no seu lugar”, reitera Souza.


Como sua marca contribuiu para o aumento de receita

Neste momento da HSMAI Strategy Conference, os painelistas Gabryel Strauch, fundador e CEO da Pipah Comunicação; Marcelo Flores, fundador e diretor da BusinessLand Entertainement; e Márcio Flores, CEO da BR Mall Entretenimento, apresentaram ideias de como otimizar e rentabilizar novas oportunidades de negócios depois do baque da pandemia. O painel foi mediado pela Priscila Dommit, diretora de Vendas e Marketing do Royal Palm Hotels & Resorts.

Com o crescimento acelerado e o mercado evoluindo, os três palestrantes acreditam que associações, parcerias ou colabs são ótimas oportunidades de gerar receitas. Ao apresentar algumas associações inusitadas, como Bubballo com Boticário, Havaianas com Mondelez e Rochinha com Palmeiras, ficou claro que não existe algo como um segmento fechado – como costumam classificar a hotelaria. “Nossa ideia aqui é fazer vocês pensarem fora da caixa”, reforça Strauch.

São várias oportunidades que associações podem gerar, segundo os painelistas. Entre elas, o crescimento na receita, união de embaixadores de marca, aumento na relevância e até redução de custos, visto que são duas empresas realizando uma única campanha. “É uma área que tem o potencial de forjar conexões poderosas que gerem valor tanto para a empresa quanto para os hóspedes”, afirma Marcelo.

Ainda assim, Marcelo sabe que a maior parte dos hotéis se interessam, mas não tem braço para gerenciar essas relações. “As marcas tendem a buscar muito mais por plataformas do que ações individuais. É por isso que desenvolvemos uma dinâmica que une os principais empreendimentos e marcas em uma única plataforma. Dessa forma, podem comunicar com facilidade seus resultados, posicionamentos, reflexões e, por fim, construir experiências”, afirma. “Cada vez mais as marcas não querem apenas fazer conexões B2B, mas também com o consumidor final, tornando o relacionamento em B2B2C”, acrescenta.

Segundo ele, os resultados dessas associações vão muito além do financeiro. “Acredito que as marcas servem para criar conexões emocionais fortes. Elas sabem que só podem investir naquilo que acreditam ser bom. Não é namoro é casamento, portanto é necessário fazer o melhor para dar certo, de forma que a relação gere valor”, recomenda.

Outros insights

Já Márcio trouxe o ponto de que para inovar, é necessário muita resiliência. Por meio de uma série de exemplos de seus acordos e parcerias, o CEO da BR Mall Entertainment explicou que é um processo doloroso, mas que sempre vale a pena.

Em um dos exemplos, quando planejou um evento de drive-in no Allianz Parque durante a pandemia, teve tantos imprevistos e problemas que praticamente teve prejuízo. “Mesmo assim, se eu não tivesse feito nada, não teria gerado nada, muito menos garantido a continuidade da parceria e os futuros projetos”, reforça Márcio.

Ainda de acordo com ele, o processo de inovação mexe com a estrutura da empresa. “Se não há uma equipe preparada para isso, não há inovação. Então, é importante trazer pessoas para o time que tenham uma agenda de inovação. É preciso saber onde quer chegar e não ter medo de perder o emprego, pois será necessário ser ousado”, continua o executivo.

Na sua concepção, é muito difícil encontrar patrocinadores já que é necessário entender o que o mercado está procurando. “Entretanto, é necessário primeiro conhecer e se relacionar com o consumidor para conseguir atender suas expectativas. Se o produto não combinar com o público, a marca não vai querer participar. Portanto, é imprescindível a dedicação para desenvolver uma cultura de compreensão do cliente”, finaliza.

(*) Crédito da foto: Peter Kutuchian/Hotelier News