Após bater recorde em abril, o percentual de endividados segue em retração em junho. Os dados da Peic (Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), apurada pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) revelaram que 77,3% das famílias relataram ter dívidas a vencer no mês. Embora apresente queda de 0,1 ponto percentual frente ao mês anterior, o resultado representa alta de 7,6 p.p. na comparação anual.

Já a taxa de inadimplência, que não vê alívio há mais de oito meses, finalmente registrou queda. A proporção de famílias com contas em atraso ficou em 28,5% durante o mês de junho, ao cair 0,2 p.p., primeira queda desde setembro do ano passado. Enquanto isso, o número de pessoas que relatam que não terão condições de pagar as contas atrasadas também retraiu 0,2 p.p. chegando a 10,6%, menor percentual desde fevereiro.

Representando 86,6% dos total de endividados, os devedores à cartões de crédito também tiveram a segunda redução consecutiva, de 1,9 p.p. Para José Roberto Tadros, a queda reflete a evolução positiva do mercado de trabalho. “Com menos restrições impostas pela pandemia e as medidas temporárias de suporte à renda, como saques extraordinários do FGTS, antecipações do 13º salário, INSS e maior valor do Auxílio Brasil, a população precisou apelar menos para os gastos no cartão”, explica o presidente da CNC.

Recortes

Em relação às faixas de renda, ambos os grupos verificaram baixas na proporção de endividados. Segundo os dados da Peic, aqueles com rendimentos acima de dez salários mínimos registraram redução de 0,2 p.p. enquanto os que ganham até dez salários mínimos tiveram retração de 0,1 p.p. Entretanto, no acumulado dos dois últimos meses a queda foi mais intensa entre famílias de menor renda (-0,5 p.p.)

A Peic também divide os resultados por gênero, sendo a proporção de mulheres endividadas é de 80,1%, enquanto a de homens é de 76,5%. De maio para junho, porém, o público feminino apresentou queda de 0,7 p.p. no endividamento, ao mesmo tempo que o masculino verificou alta de 0,3 p.p.

Outro elemento importante avaliado pelo estudo, é o nível de escolaridade dos endividados: cerca de 34% dos que precisaram atrasar contas ou dívidas no mês de junho não concluíram o ensino médio.

Segundo Iziz Ferreira, economista da CNC responsável pela pesquisa, embora o mercado de trabalho esteja absorvendo trabalhadores com menor nível de escolaridade, o achatamento do rendimento médio, por conta da inflação elevada, dificulta a organização do orçamento familiar. “Além disso, o avanço recente da informalidade no emprego é mais um fator que aumenta a volatilidade da renda do trabalho e atrapalha a gestão das finanças pessoais”, completa.

(*) Crédito da foto: stevepb/Pixabay