“O mundo dá voltas” é uma expressão que pode ser aplicada em diferentes contextos, mas, no universo profissional, é bom levar a sério. Em um segmento com elevada rotatividade como a hotelaria, manter boas relações profissionais com ex-chefes e parceiros pode ser a linha tênue entre conseguir boas oportunidades no futuro ou ter um desenvolvimento mais lento da carreira.

Trazendo ao panorama atual, em que muitos profissionais perderam seus empregos por conta da pandemia, nutrir bons contatos aumenta consideravelmente as chances de recolocação no mercado de trabalho. Aquele gerente geral que você trabalhou no passado pode ser a ponte para uma indicação ou possível contratação.

Pode parecer óbvio, mas grande parte da cadeia produtiva ainda esquece do elevado índice de turnover do setor. Mais ainda, independentemente de contratos assinados, as relações profissionais continuam. Muito além do networking, criar relacionamentos genuínos faz parte de uma carreira bem sucedida.

“Grande parte das indústrias são pequenas como a nossa, não só a hotelaria. É preciso construir boas relações profissionais para ser lembrado e semear possibilidades para o futuro. Ser uma pessoa que atua seguindo valores, com respeito ao próximo, consegue nutrir uma relação sustentável e cumpre com os compromissos já é um passo importante para estabelecer uma boa reputação”, pontua Tricia Neves, sócia da Mapie.

Especialista em gestão de pessoas, ela explica que negócios são baseados em relacionamentos. De nada adianta a empresa ou o profissional ter um bom plano de marketing ou um currículo invejável se a reputação não for bem conceituada. “O seu trabalho hoje é o que constrói sua reputação no futuro. E você vai colher os frutos, sejam eles bons ou ruins”.

relações profissionais - tricia neves

Reputação é fator relevante, diz Tricia

Estabelecendo conexões

É natural que muitas pessoas recorram a contatos profissionais para tentar uma recolocação ou novas oportunidades de emprego. Entretanto, a prática demanda certa “etiqueta”. Logo, manter conexões desprovidas de interesse é fator fundamental nas regras de um bom relacionamento.

“Tem uma máxima que diz que quem não é visto não é lembrado. Profissionalmente, é importante ser cuidadoso com sua rede de relacionamentos, pois ela é um bem, um valor que você construiu ao longo do caminho”, acrescenta Tricia.

Segundo Shana Wajntraub, CEO e fundadora da Eleve Consulting, cerca de 70% do sucesso de recolocação profissional vem do networking. “É um setor pequeno, no qual todos se conhecem. Manter uma rede de relacionamentos é um diferencial competitivo. E não apenas para novas oportunidades profissionais, mas também para se manter antenado, buscar referências ou ajuda para algum problema”, explica.

Então, por onde começar? Iniciar uma relação pode até parecer fácil, difícil mesmo é mantê-la. Neste aspecto, as redes sociais cumprem um papel valioso. “Plataformas como o LinkedIn nos ajudam a acompanhar as pessoas de longe, saber onde estão trabalhando e o que estão fazendo. Comentar, mandar mensagem e interagir nas postagens ajudam a manter um vínculo”, complementa Shana.

Fora das redes, o mecanismo é outro. Tricia salienta que, no caso de empresas, é de bom tom trabalhar com gifts, cartões em datas comemorativas, entre outras iniciativas. E para a pessoa física? “Faça movimentos verdadeiros e genuínos, de preferência fora de datas comemorativas. Se conecte, seja verdadeiro”, diz a sócia da Mapie.

Eventos também são um bom caminho, assim como cafés ou almoços. “Ou o que a intimidade permitir. É importante demonstrar interesse pela pessoa para além do profissional e se manter antenado sobre assuntos da sua área”, salienta Shana.

relações profissionais - shana wajntraub

Redes sociais têm papel importante, avalia Shana

A base da confiança

Você pode até ter uma lista de contatos robusta em seu perfil do LinkedIn ou ser figurinha carimbada em feiras e eventos. No entanto, sem confiança, nenhum relacionamento se sustenta. Assim como qualquer outro tipo de relação, ela é o alicerce que garante a estabilidade das conexões.

De acordo com Tamara Martinez Schumacher, docente do curso técnico em RH do Senac-RS, ética e transparência são predicados fundamentais nas relações. “Precisamos ser justos com o que fazemos, mesmo que possa não ser totalmente favorável a nós mesmos. Sermos corretos. Relacionamento interpessoal é a palavra-chave para construir ambientes saudáveis e colaborativos. Manter essas relações é essencial para não cair no esquecimento”, acredita.

Tricia pontua que confiança se molda com intimidade. E isso não significa conhecer a família ou saber o nome do cachorro do seu ex-chefe. “Trata-se de acessar a verdadeira pessoa que aquele profissional é. E isso se constrói no dia a dia, nas pequenas coisas. Por exemplo: como ajo quando você precisa de ajuda? E no comportamento dia a dia ou mesmo nas tomadas de decisão? É importante saber quais memórias que as pessoas têm sobre mim e que elas são um ativo de muito valor.”

Nos últimos anos, as relações profissionais passaram a ser mais horizontais, o que facilita a construção da confiança entre líderes e colaboradores. Com maior proximidade, ambas as partes conseguem estabelecer afinidades e promover um conhecimento mais profundo uma sobre a outra.

“A confiança tem dois pilares: competência e valores. É preciso entregar resultado, mas com ética. Não ser aquela pessoa que faz intriga no ambiente de trabalho, que é correta e nutre bons relacionamentos. Isso gera vínculos por meio de uma boa comunicação e busca por sinergia. Expor-se, posicionar-se e ocupar sua cadeira também são posturas relevantes”, ressalta Shana.

E muito se engana quem pensa que apenas colaboradores precisam estar atentos às reputações. Da mesma forma que funcionários são analisados, lideranças também precisam trabalhar com ética para construir uma boa base de contatos. “Os líderes precisam ter consciência que estão construindo uma reputação com seus times. Um liderado, no futuro, pode indicar seu ex-chefe para uma função de liderança em outra empresa”, conclui Tricia.

(*) Crédito da capa: Pixabay

(**) Crédito das fotos: Divulgação