Uma nova era. Sem meias palavras, é isso que representa a transformação que a implantação da rede 5G pode representar para o mercado de telecomunicações. Obviamente, esse avanço vai se estender para todos os demais setores da economia, que poderão enfim tatear oportunidades digitais ainda não previstas. Mais rápida, mais estável, mais confiável, mais sustentável… a quantidade de benefícios que a nova geração de redes móveis trará é tão ampla que, de fato, pode-se alardear a curta frase que abre o texto sem grandes cerimônias.

O 5G vem atender principalmente ao exponencial crescimento na movimentação de dados que trafegam nas diferentes redes de celulares mundo afora. E, ao fazer isso, provavelmente acelerará a transformação digital das organizações de forma ainda não vista até aqui. “Uma boa comparação é com o lançamento do iPhone e o ecossistema de apps que veio junto dele. No inicio, foram criados aplicativos de pouco uso prático, algo natural porque o mercado ainda experimentava as múltiplas possibilidades”, explica Augusto Rocha, vice-presidente de Vendas e Marketing da Pmweb.

“Com o 5G será algo relativamente parecido. Com essa tecnologia, várias aplicações que ainda não passam pela nossa cabeça vão se tornar realidade. Certo é que o celular ganhará ainda mais relevância no cotidiano do consumidor, que passará a fazer absolutamente tudo pelo smartphone“, acrescenta Rocha. “Já para as empresas, as possibilidades também são animadoras, com a IoT (Internet das Coisas, na sigla em inglês) ganhando espaço definitivo na operação, assim como a Inteligência Artificial”, completa.

Agora, sozinho o 5G não faz milagre. Segundo Carlos Roseiro, diretor de Soluções Integradas Huawei, os investimentos das empresas na nova rede móvel precisarão ser acompanhados de outros. “Em paralelo, as empresas terão que colocar recursos em outras tecnologias, como armazenamento em nuvem, machine learning e Inteligência Artificial, para poder usufruir plenamente do que o 5G ofertará. Do contrário, será como ter uma Ferrari sem poder acelerar muito”, explica.

5G: entenda melhor

Quinta geração das redes móveis, o 5G é um grande salto evolutivo em relação à tecnologia usada atualmente. Um exemplo prático: seu celular provavelmente terá uma velocidade bem maior do que o wifi atual da sua casa. Com isso, uma playlist de uma hora no Spotfy, que demora cerca de 7 minutos para ser baixada no 3G e 20 segundos no 4G, passará a ter download concluído em apenas 0,6 segundos.

As diferenças mais visíveis entre as duas gerações mais recentes estão, além da velocidade já citada, na latência e no número de conexões por quilômetro quadrado. Ambas não são muito percebidas pelos usuários finais, mas são diferenciais importantes. O primeiro significa a capacidade de resposta das redes móveis a cada solicitação de conexão. No segundo caso, espera-se que 5G consiga suportar simultaneamente mais de 1 milhão de aparelhos por km².

5G - impacto na hotelaria_infográficoAté o final de 2020, segundo informações da Huawei, 52 países já usavam o 5G, com um total de 118 redes de operadoras móveis em funcionamento. Coreia do Sul, China, França, Bélgica, Alemanha, Reino Unido, Finlândia, EAU (Emirados Árabes Unidos), Arábia Saudita e Austrália são alguns exemplos. No Brasil, o edital com as regras que vão balizar o leilão da nova tecnologia já foram divulgados pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Pelo que ficou definido, quem vencer tem que garantir a utilização em grandes cidades a partir de 31 de julho de 2022.

A expectativa do mercado de telecomunicações é que a frequência de 3,5 GHz seja a mais cobiçada pela operadoras, pois é mais usada no mundo, disponibilizando conexão rápida para o consumidor final. “O esforço de investimento das operadoras será considerável. Na Coreia do Sul, demorou dois anos para ter 20% da população conectada no 5G. No entanto, em apenas um ano atingiram 90% de cobertura. Para a realidade brasileira, deve demorar um pouco mais”, acredita Roseiro, que faz uma observação interessante.

“No passado, a cobertura andava atrás das pessoas. Agora, vai também atrás das máquinas”, afirma. O que isso significa? Bem, se os consumidores poderão usufruir de muitos benefícios, as organizações têm potencial de mudar por completo suas operações e processos, digitalizando-os. “Se a pandemia já acelerou a transformação digital das empresas, o 5G será um indutor ainda maior, porque as possibilidades são muito grandes”, complementa Rocha, da Pmweb.

5G, inovação e hotelaria

De fato, a área operacional dos hotéis tendem a ser os maiores beneficiários da nova tecnologia, isso porque áreas como Vendas, Distribuição e Marketing já abraçaram o online há mais tempo. Do back office ao front office, muitas transformações estão por vir, avalia Marcelo Salomão, diretor de TI Accor América do Sul. Para ele, um exemplo atual (e já adotado) é o Accor Key.

“Isso é só a ponta do iceberg. Esse é um exemplo de como ocorrerão mudanças nos balcões de recepção. Indo mais além, o formato atual de atendimento ao hóspede vai se alterar e temos que ter ferramentas para que o nosso staff possa interagir com esse cliente”, diz Salomão. Ele acrescenta que, em setembro do ano passado, a rede francesa criou um grupo de trabalho voltado para o desenvolvimento de avanços tecnológicos globais, principalmente soluções low touch.

“Outro dia conversava com minha par para o mercado da China, onde o 5G é uma realidade. Ela diz que a nova tecnologia mudou a forma como as pessoas consomem na internet, de vídeos a compra de supermercado e viagens. Então, o relacionamento do público com os provedores de serviços e insumos será diferente”, comenta. “Estamos criando uma célula de desenvolvimento na China para desenvolver novas soluções e replicar isso em outros países. Na Europa já existem inovações que esperamos, em breve, trazer para cá”, completa.


5G - impacto na hotelaria_quadro de frequências

5G em números

  • Devem consumir até 90% menos energia que as redes 4G atuais.
  • Tempo de conexão (latência) entre aparelhos móveis deve ser inferior a 5 milissegundos.
  • Latência é de 30 milissegundos nas redes 4G.
  • Total de aparelhos conectados por área deve ser 50 a 100 vezes superior a atual.
  • Número pode chegar a 1 milhão por km², dizem especialistas.

 


Realidade virtual, realidade aumentada, melhor gestão de estoque do A&B (Alimentos & Bebidas), robôs autônomos de segurança e de room service são, na visão de Roseiro, aplicações que devem se disseminar na hotelaria. “Acredito que a busca pela melhor experiência do cliente vá guiar os investimentos. Ainda assim, é na eficiência da operação que o setor vai se beneficiar mais, embora, em um primeiro momento, os investimentos tendam a ser altos”, observa o diretor da Hauwei.

Diante dos altos custos, qualquer hoteleiro deve pensar: como pensar em 5G em um momento de crise profunda no setor? “Adequar a infraestrutura interna será um desafio e uma necessidade, mas sempre de acordo com as demandas de cada região. Hoje, a hotelaria não suporta um banho de loja em tecnologia no hotel inteiro”, pondera Salomão. “Nós, enquanto operadoras, temos que suprir o investidor de informação para saber o que é melhor para atender às demandas dos hóspedes. Fazendo de maneira inteligente, haverá payback traduzido em satisfação e fidelização dos clientes.”

Rocha concorda com a opinião de Salomão, mas argumenta que, como em todo processo de inovação que ganha escala, os primeiros a aderirem às novas tecnologias (normalmente os maiores players, que têm capital para aportar recursos) levam vantagem competitiva. “Fica aqui uma provocação: tem gente interessado mesmo em inovar na hotelaria? É isso que o setor precisa se perguntar.”

“Veja o exemplo da Magazine Luiza: não tinha o maior e-commerce e muito menos o maior número de lojas físicas, mas, ao mesmo tempo, era o que mais experimentava. Em suma, mostrava-se mais preocupada com a mudança. Neste sentido, desenvolver uma cultura de inovação é fundamental para qualquer organização. Dá para começar pequeno, fazer testes para saber o que efetivamente vai impactar a experiência do hóspede de verdade”, finaliza.

(*) Crédito da capa: ADMC/Pixabay

(**) Crédito da foto/quadro: mohamed_hassan/Pixabay