Em meio ao impasse pelo possível fim do Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos), o turismo nacional registrou crescimento de 7,8% em 2023, totalizando faturamento de R$ 189,4 bilhões e ficando abaixo da projeção para o ano, que apontava alta de 11,5%. Só em dezembro, o incremento foi de R$ 18,1 bilhões nesse montante, tornando esse o melhor resultado para o mês desde o início da pandemia, em 2020. O valor foi 1,1% maior do que o registrado em dezembro do ano anterior, aponta a FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo).

Para a entidade, a expectativa é de que a melhora nas condições econômicas das famílias brasileiras, por meio da redução da taxa de juros, e os impactos dos programas do governo para estimular o turismo tenham efeitos positivos nos próximos meses, mantendo a curva ascendente do setor. Além disso, a FecomercioSP defende a manutenção do Perse, alegando que o programa tem papel relevante para o resultado atual. Também há um consenso entre especialistas e observadores de que a medida contribuiu significativamente para manter investimentos das empresas, renegociar dívidas e gerar novos postos de trabalho após o período pandêmico.

No desempenho atual, o saldo positivo foi puxado, principalmente, por atividades como locação de meios de transporte (alta de 18,3%). Em seguida, aparecem alojamento (17,4%) e companhias aéreas (12,7%), somando R$ 48 bilhões ao longo do ano, consolidando o resultado recorde. Em 2023, o único segmento que perdeu força foi o de viagens rodoviárias, com queda de 4%.

No caso das atividades de alojamento, o dado corrobora com a pesquisa do FOHB (Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil), que mostrou aumento de 4% na procura por hospedagens em hotéis pelo país na comparação com 2022. O ticket médio também subiu, registrando incremento de 22,5% em 2023, puxando as receitas para cima. O resultado de 2023 deve ser lido considerando o fato de que os preços médios do turismo subiram 12% em 12 meses, muito graças à alta expectativa nos preços das passagens aéreas. Essa variação está 4,5% acima da média nacional.

Dezembro em alta

O segmento de alojamento também contribuiu com a alta do turismo em dezembro, crescendo 15,7% na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Isso se explica, segundo a FecomercioSP, pela demanda das famílias no último mês do ano passado, já que reuniam mais condições financeiras para viajar e é o período de alta temporada do segmento de lazer. Não à toa o faturamento do transporte aéreo seguiu esse movimento, crescendo 4,4%.

Em dezembro, dois segmentos registraram queda em relação ao mesmo período do ano anterior: transporte rodoviário (-19,9%) e agências de viagens (-3,8%). Já as agências de veículos melhoraram o desempenho (10,8%), consolidando o ano positivo, assim como no segmento de de alimentação, com restaurantes e bares (8%).

No recorte geográfico, três estados do Norte apresentaram altas significativas de receita em dezembro: Acre (12,9%), Rondônia (12,1%) e Amapá (11,1%). A lista é encabeçada pelo Piauí (17,5%), e Sergipe também faz parte do ranking, com 10,7%, formando uma dupla entre Norte e Nordeste na composição dos resultados. Das 27 unidades federativas brasileiras, 20 tiveram saldo positivo no mês. Os resultados foram puxados por diferentes fatores, como aumento na demanda hoteleira ou nas locações de veículos.

Na contramão dessa tendência, aparecem São Paulo (-2,6%), Rio de Janeiro (-7,4%), Rio Grande do Sul (-1,4%) e Ceará (-1,5%). Ainda assim, permanecem somando mais da metade (54%) do faturamento do turismo nacional.

(*) Crédito da foto: cnaudalutti/Unsplash