Pesquisa realizada pela Samba Digital, subsidiária da Sambatech, mostra que 45,7% das companhias brasileiras de tecnologia e inovação aplicam estratégias de transformação digital. Por outro lado, 30,5% ainda pensam formas de implementação e uma parcela muito pequena (1,9%) não traçam planejamento nesta linha. É possível, com base nestes dados, traçar um paralelo com a hotelaria? Existem formas de operadoras e empreendimentos independentes serem mais disruptivos em seus processos?

Ainda de acordo com o estudo, os índices sobre investimentos em transformação digital também são promissores. Para empresas dos segmentos destacados, 62,5% pretendem disponibilizar entre 10% e 30% do faturamento de 2021 para isso. Uma fatia menor, de 16,3%, devem investir entre 30% e 50% no mesmo período. Novamente, a menor parte das entrevistadas (9,6%) não destinará alguma quantia para essa área.

As informações citadas acima balizam o quanto investir em transformação digital é importante para qualquer segmento se desenvolver, inclusive a hotelaria. Para entender melhor como acontece essa aplicação, existe a necessidade, primeiro, de entender sobre cultura de inovação. A explicação é de Hugo Tadeu, professor de Inovação & Digital na Fundação Dom Cabral e especialista em Transformação Digital, entrevistado pela reportagem do Hotelier News.

Antes de tudo, ele cita que o crescimento de proatividade e inovação tem relação direta com a aplicação das tecnologias no cotidiano das empresas. Por conta disso, então, a utilização desse tipo de processo deveria ser entendida como meio de incremento aos resultados dos hotéis. Ele ilustra isso com um dado interessante.

“Todo ano, a fundação faz uma pesquisa com cerca de 100 presidentes de companhias brasileiras. Nela, os questionamos são sobre predisposição para cultura de inovação, tolerância ao erro, falhas e diversidade técnica nos time, entre outras questões. Na escala de zero a 10, 3,2 da empresas pensam assim. Nos Estados Unidos, a titulo de comparação, o índice é de 8,8”, cita.

Para explicar isso, o professor faz uma analogia com termos da religião: enquanto o Brasil ainda é “católico”, ou seja, alguém manda e o operador apenas acata a decisão, os EUA atuam diferente. Eles são “protestantes”, pensando no projeto desde os níveis menores e o executam, já que o ambiente é mais favorável para inovação.

Cultura de inovação

A cultura de inovação, novamente, na visão do professor, precisa estar alinhada aos planos internos da empresa para implementar a transformação digital. Sendo assim, esse termo diz respeito aos hábitos e padrões desenvolvidos para promover com criatividade, gerar ideias e espalhar conhecimento. Esse processo acontece em vários âmbitos e pode ser aplicado em métodos, serviços, produtos e negociações.

É importante entender que a cultura de inovação não está associada à tecnologia em si. Essa impressão parcialmente errada da expressão é passada em razão de estarmos na quinta onda da inovação, com redes digitais, softwares e novas mídias. O que, de fato, compreende este advento é qualquer situação que proporcione melhora, benefício e ganhos ao hotel que aplique, seja criando ou alterando alguma coisa.

Dentre os fatores incluídos para criar a cultura de inovação, então, estão:

  • Longevidade e atualizações constantes, reciclando conhecimentos
  • Sintonia com o hóspede, pensando em experiência
  • Agilidade e eficiência, com funcionários bem alinhados
  • Diversidade e inclusão de heterogêneos
  • Estímulo aos colaboradores, com experimentos de criatividade e dando voz às suas ideias

Aplicação da transformação digital

Transformação digital

Tadeu: inovação impacta nos resultados econômicos

Após ler um pouco mais sobre o cultivo da cultura de inovação, fica mais simples aplicar a transformação digital no DNA do hotel. De acordo com Hugo Tadeu, a reinvenção dos negócios, com base em novos dados, é o que motiva essa implementação.

“A regra número um da transformação digital é buscar conhecimento constantemente. Seja inquieto e faça perguntas. É assim que teremos resultados nas empresas. A segunda é que, além de dados e tratamento disso, pessoas são essenciais neste processo”. Para exemplificar isso, Tadeu cita uma tríade: estratégia, execução e resultado (geração de caixa). Esse é o caminho ideal a ser percorrido pelas empresas que aplicam este modelo.

Do conselheiro ao operador, a transformação digital é necessária e importante. Como colocá-la no cotidiano de um hotel? Algumas dicas do professor e especialista ajudaram na criação de um “passo a passo”.

  • Treinamento

É importante que todos na companhia compreendam o que é digital e inovação. O crescimento nessa área depende da captação e entendimento de dados, independente da cadeia a qual o colaborador pertença.

  • Diagnóstico de perfil

Nem todas as pessoas possuem tino para inovação e transformação digital. Saber as características de cada funcionário é o caminho para potencializar o melhor dele.

  • Reforços

Mecanismos para identificar dentro da empresa projetos com a veia inovadora e tecnológica.

  • Espaços nas companhias para teste de ações inovadoras (erro honesto – falha)
  • Acompanhar tendências
  • Investimento em digital (não é barato)
  • Entender e trabalhar em cima da jornada do cliente

“Quem trabalha com tecnologia deveria falar menos das questões tecnológicas e conscientizar presidentes e conselheiros de como a tecnologia paga a conta todos os dias. O debate devia ser de como aplicar transformações que alteram o modelo organizacional das empresas. Isso pode acontecer no mais básico, incluindo a aplicação tecnológica na captação e leitura de dados ou utilização de aplicativos que automatizam algumas decisões e geram eficiência operacional”, complementa e conclui Tadeu.

(*) Crédito da capa: Mario Gogh/Unsplash

(**) Crédito da foto: Arquivo pessoal