Hoje (27) é comemorado o Dia Mundial do Turismo. Mas, além de uma data para celebrar, o momento também serve para gerar análises e reflexões sobre quais os próximos passos do setor. Assim, o Hotelier News reuniu um time de nomes de peso para falar sobre diversos pontos relacionados ao segmento.

Em primeiro lugar, cabe lembrar que o uso da tecnologia é uma tendência que veio para ficar no setor. ChatGPT, IA (Inteligência Artificial) generativa, não são mais conceitos distantes e agora passam a compor uma realidade extremamente palpável no turismo. No cenário pós-pandemia, a ascensão considerável dessas soluções vem transformando a indústria de forma latente. Utilizando de algoritmos avançados e aprendizados de máquina, a IA já é capaz de compreender preferências individuais e oferecer recomendações personalizadas, elevando a experiência do viajante.

Turismo - Bruna_Rodrigues_Letsbook

Bruna fala de tecnologia aplicada ao turismo

“A IA não é apenas uma tendência passageira. É uma força transformadora que moldará o futuro do turismo. Atualmente, vemos chatbots e assistentes virtuais aprimorando a experiência do cliente, mas o potencial vai muito além. Acredito que com o tempo, podemos esperar avanços como roteiros de viagem dinâmicos, recomendações contextuais em tempo real e uma personalização ainda mais profunda, garantindo que cada jornada seja verdadeiramente única”, comenta Bruna Ribeiro, marketing de Produto da Letsbook, em entrevista ao Hotelier News.

Em estudo recente, a Travelport apontou que 45% dos entrevistados priorizam reservar uma viagem completa por meio de um único site, que oferece opções de companhias aéreas, hotéis, locadoras de veículos e extras. Especialmente a geração mais jovem de viajantes espera que as agências aprimorem suas estratégias de varejo, com 50% da geração Z preferindo reservar uma viagem completa por meio de um único canal.

Assim, a chave para atender a essas demandas e integrar a IA está no chamado tripé do viajante, com a personalização, fidelização e navegação reconhecida, utilizando a tecnologia a favor do mercado hoteleiro e entregando para o viajante valor agregado a sua compra, além de ter ganho de performance e crescimento para o dono do hotel.

Desafios e estratégias

Não só no Brasil, mas em escala global, o turismo sofreu perdas consideráveis após quase três anos de pandemia e agora trabalha para recuperar os níveis anteriores à crise, enfrentando desafios como o alto preço das passagens aéreas, tributação do setor, entre outros pontos.

Neste sentido, o MTur (Ministério do Turismo) vem desenvolvendo uma série de iniciativas com o objetivo de fomentar a atividade turística no país. Uma delas é o MTur Itinerante, que leva a todo o país as ações da pasta. Isso passa pela disponibilidade de financiamento a empreendimentos turísticos privados com condições vantajosas por meio do Fungetur (Fundo Geral do Turismo) e o incentivo à formalização das atividades a partir do Cadastur (Cadastro Geral de Prestadores de Serviços Turísticos), entre outros benefícios.

Em entrevista ao Hotelier News, Celso Sabino, ministro do Turismo, pontua que a pasta também tem atuado juntamente às empresas aéreas para ampliar a frequência de voos aos destinos nacionais a preços mais baixos, estimulando o brasileiro a viajar pelo país. Assim, o órgão lançou o programa Conheça o Brasil Voando, uma parceria com as companhias para aumentar o turismo doméstico e ampliar a malha aérea.

Além disso, o MTur lançará o Conheça o Brasil: Realiza, uma parceria com o Banco do Brasil para incentivar o consumo de serviços turísticos a partir da oferta de crédito facilitado a clientes do banco. Vale ressaltar que também está sendo desenvolvido o PNDT (Plano Nacional de Desenvolvimento do Turismo), que deverá ser apresentado em breve ao presidente Lula, com ações e metas para os próximos cinco anos.

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Sando defende união de público e privado

Hoje, um dos maiores gargalos do turismo brasileiro é a baixa conectividade. Por isso, o MTur e a Embratur estão trabalhando em medidas para viabilizar a ampliação de conexão. Além disso, a oferta de stopover no setor aéreo também está em pauta. Ou seja, se um voo Lisboa-São Paulo faz escala em Recife, o turista pode descer, aproveitar a capital pernambucana e, depois, retomar a viagem. As entidades estão fortalecendo a promoção do Brasil no exterior e, até agosto, mais de 4 milhões de estrangeiros vieram ao país, o que já supera os 3,6 milhões de todo o ano de 2022.

Além das iniciativas federais de nível nacional, cada estado conta com ações de promoção conduzidas por suas próprias entidades. Em entrevista ao Hotelier News, Toni Sando, presidente da SPCVB (São Paulo Convention & Visitors Bureau), enfatiza que os esforços do poder público devem ser aparados pelo setor privado. “Com a união das empresas a programas governamentais de promoção aos destinos brasileiros, o setor só tem a ganhar”, comenta. “Por aqui, estamos investindo no programa São Paulo para Todos, com participação em diversas feiras internacionais. Já marcamos presença em Barcelona, e o destino está presente em três roadshows em Lisboa, Madri e Santiago”, conclui. 

Vale lembrar que a maior parte dos estrangeiros que visitam o Brasil vem de países vizinhos, como Argentina, Paraguai, Chile e Uruguai. Marcar presença em eventos nesses respectivos destinos é de suma importância para continuar atraindo seus viajantes, aponta o gestor.  

Tributação

Sobre os impactos da Reforma Tributária no turismo, Sabino diz que, logo quando assumiu o cargo de ministro, teve a oportunidade de participar, juntamente com a Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo), de uma reunião no Ministério da Fazenda para discutir a questão.

“O nosso objetivo é, aliado ao trade, construirmos uma proposta que contemple a simplificação de tributos, o equilíbrio fiscal e, ao mesmo tempo, proporcione mais fôlego para as atividades turísticas. Estamos falando de um setor que responde por quase 8% do PIB (Produto Interno Bruto) no país e que é a segunda maior fonte de geração de emprego e renda em todo o Brasil, atrás apenas da construção civil”, diz o ministro.

“Temos como intuito contemplar o setor de turismo na proposta de reforma e evitar que tenhamos o risco de elevação de preços nas diversas cadeias produtivas do mercado turístico, que englobam mais de 50 atividades econômicas. Com uma tributação mais favorável e justa, e que proporcione a redução de custos a empreendedores, vamos conseguir, inclusive, avançar em questões cruciais ao desenvolvimento do turismo nacional, como a redução das passagens aéreas, hospedagens e pacotes como um todo”, completa.

O MTur tem trabalhado no sentido de obter o maior apoio possível de deputados e senadores à realização de investimentos na área, a exemplo de obras na infraestrutura turística. “Como prova dessa disposição, ao longo desses mais de dois meses no cargo, estive nas comissões temáticas de turismo do Congresso Nacional para apresentar planos e, também, estimular que parlamentares façam parte do grande trabalho que estamos desenvolvendo”, acrescenta Sabino.

Outro ponto fortemente discutido pelo trade é a legalização de cassinos como impulsionadores de emprego e renda no setor. Sobre a questão, o ministro afirma que defende o conceito desses estabelecimentos integrados a resorts.

“Os cassinos também podem ser utilizados como uma oportunidade de se desenvolver áreas sem outras alternativas econômicas viáveis. A proposta tem enorme capacidade de incentivar o turismo e a economia do país. Algumas projeções apontam criação de 650 mil vagas de trabalho e arrecadação de aproximadamente R$ 20 bilhões”, conclui Sabino.

Incentivando o turismo de luxo

Em entrevista ao Hotelier News, Simone Scorsato, CEO da BLTA (Brazilian Luxury Travel Association), diz que a promoção do turismo precisa ser pensada de acordo com cada segmento. “Promover o Brasil como destino de uma forma geral, mas para segmentos específicos, requer ações específicas e é um caminho que precisa ser construído”, afirma.

Entre as iniciativas que a executiva aponta como fundamentais, está a revisão do Plano Aquarela, ação de divulgação do Brasil desenvolvida em 2003 pela Embratur com o objetivo de melhorar a promoção turística no exterior, a fim de competir diretamente com grandes destinos turísticos de todo o mundo.

“Fomos a primeira entidade a assinar um acordo de cooperação com a Embratur, unindo esforços nessa promoção. Já percebemos e ajudamos a agência a receber jornalistas, press trips, entre outras iniciativas. Desde o começo do ano, auxiliamos nesse momento como parceiros”, comenta Simone.

Ainda para 2023, está prevista a realização de roadshows da BLTA em parceria com a MTur para divulgar o Brasil. “O intuito aqui é apresentar nossas belezas, nossas culturas, promover a gastronomia, arte e moda. Ao mesmo tempo, a estratégia de promoção do país é calcada em dados de mercado, que vão apontar quais segmentos e estratégias são mais oportunos”, reforça a CEO da entidade.

Simone diz que a BLTA está otimista e que, neste ano, avanços consideráveis no segmento aconteceram e que a partir de 2024, resultados ainda mais evidentes poderão ser celebrados.

(*) Crédito da capa: gabyps/Pixabay

(**) Crédito da foto: Arquivo pessoal

(***) Crédito da foto: Divulgação/Visite São Paulo

*Matéria produzida com contribuição de Yasmin Brussulo