O ano de 2024 tende a ser positivo, mas impõe aos hoteleiros alguns desafios. Um dos principais é a dificuldade de elevar a receita organicamente. Isso porque a diária média subirá em menor proporção em relação aos anos anteriores. Nesse sentido, uma oportunidade de elevação da tarifa é a renovação dos ativos hoteleiros, já que um hotel reformado pode, sim, cobrar mais caro. Assim, os empreendimentos têm um prazo para fazer isso: até o fim da vigência do Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos), que desonera o setor de tributos federais.

Em entrevista ao Hotelier News, Pedro Cypriano, managing partner da Noctua Advisory, conta que hoje existe potencial claro de melhor desempenho no setor hoteleiro e o Perse é um grande facilitador para que isso aconteça, porque faz com que os hotéis tenham capacidade de caixa mais forte do que teriam em situações normais.

Perse - Pedro_Cypriano

“É preciso cautela”, diz Cypriano

“Quando olhamos para o mercado brasileiro, vemos uma hotelaria que envelheceu, com boa parte dos ativos antigos. Uma reforma, nesse momento, é um diferencial competitivo relevante e um argumento de destaque. Tanto é que as propriedades que conseguem fazer essa estratégia estão com uma perspectiva de crescimento de receita acima de 30%. Por outro lado, não é um número mágico e nem todo mundo vai chegar nisso”, explica.

“O negócio hoteleiro requer investimentos robustos. A maior parte dos hotéis que estão em operação no Brasil tem mais de 20 anos, ou seja, há uma forte necessidade de se fazer reformas estruturais, colocando mais dinheiro para tornar os ativos mais modernos, com um aspecto mais jovial. Nesse cenário, o Perse é um grande aliado, porque com mais dinheiro entrando, melhor é o fluxo de caixa, a capacidade de remuneração dos colaboradores, além da perspectiva do governo de geração de impostos. É um caminho importante, que sugerimos que seja avaliado”, acrescenta Cypriano.

Por outro lado, o executivo ressalta que a ajuda do Perse não é uma garantia de retorno financeiro aos hotéis, e que é preciso analisar cada caso individualmente. “Além do Perse, outra possibilidade é a utilização do Fungetur (Fundo Geral do Turismo) para viabilizar um excedente de caixa para reformas. Estamos falando de taxas de um dígito e, com perspectivas de queda da Selic, temos um custo mais baixo do capital”, analisa.

Cypriano observa que é difícil visualizar como será o cenário da hotelaria do Brasil quando o Perse acabar. Por outro lado, ele aponta que, com o benefício tributário saindo da mesa, as renovações dependerão do cenário econômico, limitando os hotéis.

“Vai acontecer o que sempre aconteceu: os empreendimentos irão recompor os fundos de reserva. Em momentos de maré favorável, todo mundo olha para a frente. Me refiro a uma economia que cresce, com perspectiva de valorização do negócio. Como a economia não deve crescer tanto em 2024, as reformas serão um acelerador de desempenho para os hotéis, permitindo que a gente saia da curva de crescimento orgânico do setor e acelere os resultados”, conclui Cypriano.

Benefício vs necessidade

Mateus Cabau, que administra o Comfort Santos por meio da MBC Hotelaria, foi categórico sobre a questão. “O momento para investir no hotel é quando ele precisa”, enfatiza. Segundo ele, a vantagem do Perse é permitir melhores resultados financeiros, mas o que define o aporte é o quanto o ativo hoteleiro está “cansado”, o quanto a concorrência está obtendo melhor desempenho, e quais as estratégias para alavancar receita e diária média.

Perse - Mateus_Cabau

Cabau comenta relação do Perse com reformas

“O Perse é só um benefício fiscal que pode elevar os resultados financeiros, garante uma performance um terço melhor, e acaba funcionando mais como uma ferramenta para amenizar essa difícil discussão. Pensando na hotelaria patrimonial, de grupos de pequenos investidores, o que vai definir se as reformas devem ou não ser feitas é o quanto de gordura o mercado permite ganhar com esses investimentos”, diz Cabau.

Como orientação, o executivo aponta que é vital que os hotéis pensem suas estratégias e analisem as chances de se beneficiar. “Em muitos produtos, essas reformas são feitas apenas para não perder diária média. O mercado não permite crescer, e o Perse não é uma fórmula que serve para todo mundo. Há produtos que conseguem investir porque têm mercado”, complementa.

Para Cabau, não há um senso de obrigatoriedade para os hotéis realizarem reformas por conta do Perse. “É só a música que o mercado quer ouvir. Se fosse fácil, todo hotel faria reformas. É caso a caso, com observação de desempenho, de concorrência, mensurando as oportunidades reais”, acrescenta.

“Hoje, com esse recurso, é menos difícil, obviamente. Mas essa manutenção do ativo hoteleiro precisa acontecer independentemente disso. O Perse não deve ser uma razão compulsória. Tem mais a ver com necessidade do que com benefício”, finaliza.

(*) Crédito da capa: Divulgação/Aviva

(**) Crédito das fotos: Arquivo Pessoal