O primeiro encontro foi no início do ano. Feição cansada e um quê de desanimado, apesar de simpático e receptivo. Henry Maksoud Neto sentou na cadeira e começou a falar, na maioria das vezes de peito aberto. Da convivência com o avô ao trabalho no hotel, passando pelas tentativas de reerguê-lo, os efeitos deletérios da pandemia nos negócios e o consequente processo de recuperação judicial, o neto do fundador do Maksoud Plaza conversou por mais de uma hora com a reportagem do Hotelier News. Ao fim da conversa, parecia rejuvenescido e aliviado.

Há bons motivos para essa melhora de humor, impressão confirmada nesta semana, quando o encontro foi repetido para a realização da foto acima. Passada as fases Vermelha e Emergencial, o Maksoud Plaza tem projetos viáveis e já em execução para gerar mais receitas. Em paralelo, o movimento começa a melhorar, o que ficou perceptível para a reportagem do Hotelier News nas últimas semanas, quando passou a visitar o hotel com mais frequência em função dessa série de reportagens, que acaba hoje (29).

De fato, junho será um mês importante para o futuro do Maksoud Plaza. Na semana que vem, uma assembleia aprovará (ou não) o plano previsto na recuperação judicial da empresa, anunciada ano passado. “Torcendo para ser aprovado para que possamos avançar com a recuperação e começar a pagar nossos credores”, diz Henry, presidente do cinco estrelas paulistano.

Mais do que recuperar o hotel neste momento, em face do estrago proporcionado pela pandemia, o executivo tem realmente o desafio de reorganizar os passivos fiscal e trabalhista. “Excluindo os problemas da holding, o hotel é totalmente viável. Prova disso é o ano de 2018, quando atingimos um faturamento recorde”, explica Henry, que desde os 15 anos tem sua vida ligada ao único negócio da família Maksoud que sobreviveu ao tempo – e também à crise do conglomerado construído pelo avô.

Para ele, a recuperação judicial foi uma pílula azeda, mas que se mostrou uma solução acertada, ainda mais diante dos efeitos da pandemia. “Lá para agosto do ano passado me apresentaram a proposta da recuperação judicial. De cara, pensei que aceitá-la seria estampar que minha condução do negócio era ruim, mas não é nada disso. Na verdade, você ganha tempo para reorganizar seu passivo, que, no meu caso, nem fui eu quem deixou”, explica. “Claro, é um processo complicado e difícil, mas que sugiro que empresas com passivos muito grandes como o nosso considerem a possibilidade.”

Bem, se o sucesso do plano de recuperação é vital para os próximos 40 anos do Maksoud Plaza, entender como se chegou até essa situação é também relevante. Abaixo, vamos contar a versão do Henry da história.

Passado, presente e futuro

Filho de pais separados, Henry foi criado pelos avós paternos. “Meu avô me levava para tudo quando é lado, desde pequeno”, relembra. Desse convívio, trabalhar na empresa familiar era um caminho óbvio, e lá foi ele dar os primeiros passos como ajudante de cozinha no Maksoud Plaza, aos 15 anos. “Mais velho, resolvi estudar economia e, quando me formei, fui trabalhar no mercado financeiro.” Por dois anos, trabalhou no banco de investimento Merrill Lynch, período que ouviu algumas “provocações” do avô. “Ele me dizia: não construí isso tudo para ver você engordar a barriga do banqueiro.”

Então, em 1999, voltou ao hotel, assumindo a área de Project Manager. À época, o braço de construção civil da Hidroservice já vivia dificuldades e o hotel se firmava como único operacional da holding. “Voltei para captar recursos para o projeto dos hotéis de Manaus e Bauru, mas não tivemos sucesso. Acabei assumindo a diretoria de Operações, tornando-me o número dois do hotel. Meu pai já tinha saído do dia a dia do negócio em 1998”, conta.

Os anos 2000, entretanto, foram de intensas dificuldades, com a hotelaria paulistana vivendo situação similar. “A partir de 2010, com a melhora do ambiente econômico no país, houve uma evolução, mas em 2014 meu avô faleceu”, relembra. Começa aí uma disputa familiar intensa entre os Maksoud, que ganhou manchetes na imprensa. “Deixa isso de lado mesmo”, pediu na entrevista, solicitação aceita.

 

Maksoud Plaza - futuro e presente_Henry Maksoud Neto_interna

“Para muita gente, glamour era algo piegas, ligado à geração dos pais e a desperdício. Então, enxerguei isso: não adianta mais tentar reviver os anos do Sinatra. Isso não existe mais. Na verdade, o mundo hoje quer produtos e serviços de qualidade a um preço justo.”

Henry Maksoud Neto, presidente do Maksoud Plaza

 

Fato é que o jovem executivo se viu sem o líder histórico da empresa ao seu lado e, de certa forma, sem rumo. “Não tínhamos um planejamento de longo prazo. Então, fui correr atrás disso”, relembra Henry. Enquanto o plano não ficava pronto, o executivo buscou algumas soluções para adaptar o Maksoud Plaza aos anos 2000.

“Duas gerações viveram o Maksoud Plaza: a dos meus pais, que aproveitou o período de auge, e a minha, que guarda também alguma memória afetiva. Era preciso atrair os mais jovens. Então, remodelamos o 150, criamos o PanAm Club e o Frank Bar, focado em alta coquetelaria, numa tentativa de fazer com que essas três gerações passassem a frequentar o hotel”, comenta.

Henry se diz ciente de que o glamour do Maksoud Plaza ficou para trás. Mais ainda, ele mostra certo desejo em se desvencilhar desse estereótipo. “Via no mundo um movimento contrário. Para muita gente, glamour era algo piegas, ligado à geração dos pais e a desperdício. Então, enxerguei isso: não adianta mais tentar reviver os anos do Sinatra. Isso não existe mais. Na verdade, o mundo hoje quer produtos e serviços de qualidade a um preço justo”, lembra.

“Para mim, o Maksoud Plaza é uma plataforma de serviços, que por um acaso tem também hospedagem. Hoje, temos aqui galeria de arte, salão de beleza, cafeteria, spa, estacionamento e conveniência. Acho que esse é o caminho, ou seja, fazer com que as pessoas usem retroalimentando suas experiências. Acho que um coworking, por exemplo, faria muito sentido”, comenta.

Em paralelo, Henry foi preparando a transição no modelo de gestão, que ficou evidente durante os estudos para o planejamento de longo prazo que encomendara. “Fizemos um estudo exploratório com os funcionários. Uma das perguntas que fizemos a eles era: se a empresa fosse representada por uma pessoa, quais características ela teria?”

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Representação do idoso deu lugar ao jovem líder no hotel

A imagem apresentada pelos colaboradores foi a de um idoso, forte e centralizador. “Ou seja, meu avô. Pensei: isso não é legal e passei a direcionar o plano buscando uma visão diferente para a empresa, até porque sou obcecado por governança”, comenta. Então, o hotel criou canais de comunicação diretas com os funcionários, numa tentativa de horizontalizar a gestão. “No passado, tínhamos sete níveis hierárquicos, número que reduzi para quatro. Passei a abrir a porta da minha sala aos colaboradores. Criamos uma cultura em que ele pode opinar e falar.”

Em 2018, Henry repetiu o estudo exploratório para ouvir os funcionários. A mesma pergunta foi feita, mas a resposta já foi outra. “O resultado foi um homem de 40 anos, que está lutando pelo seu negócio. Fiquei orgulhoso e, de fato, temos um time unido aqui”, diz o executivo, fato que pode ser medido pelas entrevistas feitas com Paulo Roberto e Antônio, que têm juntos quase 50 anos de trajetória profissional dedicada ao Maksoud Plaza.

A casa parecia organizada e, pelo menos, uma visão de futuro foi existia no horizonte, mas as dívidas nunca deixaram se existir. Por fim, a pandemia chegou para dificultar ainda mais o cenário. Então, o desânimo de Henry na primeira entrevista era absolutamente compreensível. A aprovação do plano de recuperação e a execução do planejamento criado por Bruno Guimarães podem colocar o hotel na direção de se tornar a plataforma de serviços que Henry tanto idealiza. A ideia não parece ruim. Vamos acompanhar as cenas dos próximos capítulos.

(*) Crédito da capa: Vinicius Medeiros/Hotelier News