Antônio lembra bem o contato inicial. Era o dia 10 de maio de 1999 e, não fazia muito tempo, saíra Pernambuco para tentar a sorte grande em São Paulo. “Era normal naquela época. Não tinha emprego na minha cidade ou nas redondezas, só trabalho pesado mesmo, que não era meu objetivo. Então, todo mundo queria ir para São Paulo ou Rio de Janeiro”, revela. Sedento pela primeira oportunidade, chegou na capital paulista sem nenhuma opção em vista, mas ela não demorou a aparecer – e veio duplamente! “Com uma semana na cidade consegui duas entrevistas: uma em uma metalúrgica e outra no Maksoud Plaza.”

O hotel o impressionou imediatamente, ainda mais para um sujeito que nunca tinha pisado dentro de um em suas duas décadas de vida. “Deixei meu currículo, fiz uma breve entrevista e saí correndo para a outra na metalúrgica. Honestamente, gostei igualmente das duas conversas, mas o hotel acabou me chamando primeiro. Eu queria mesmo era trabalhar, estava ansioso por isso. Então, ir para o Maksoud Plaza foi uma escolha fácil”, relembra.

Vinte e dois anos depois, Antônio César Freitas Albuquerque não se arrepende. Na verdade, abraçou com tanto afinco a primeira oportunidade que apareceu que ela segue sendo a única até hoje. Está vendo a foto aí de cima? Pois bem, o atual assistente de governança do Maksoud Plaza já adentrou o P3 da Alameda Ribeirão Preto incontáveis vezes ao longo desse período e, embora tenha aparecido chances, sempre voltou no outro dia.

“Nesses 22 anos, trabalhei com várias camareiras. Muitas delas, quando saíam, convidavam-me para ir com elas para outros hotéis. Nunca aceitei. O Maksoud Plaza nunca desistiu de mim, sempre me deu oportunidades. Então, não poderia desistir também”, afirma Antônio, que admite que o cinco estrelas paulistano o influenciou bastante. “Meu plano inicial era ficar um ano em São Paulo e voltar. As coisas foram acontecendo e mudei de ideia, mas nada foi fácil”, completa.

E não foi mesmo. Contratado para a área de limpeza, o pernambucano ficou quatro anos na mesma função até receber a primeira promoção. “Ali pelos anos 2000, tinha muita concorrência, era muita gente na limpeza, e essa situação inicialmente reforçou um pouco meu desejo de voltar para minha terra, mas, como falei, eu também não desisti – e é por isso que estou aqui até hoje”, avalia Antônio, que tem uma certeza sobre tudo isso que passou. “Faria tudo novamente igualzinho.”

Maksoud Plaza: a casa nordestina

Repare novamente na foto que abre essa reportagem. Sim, ao lado de Antônio (à esquerda) está Paulo Roberto Melo, personagem da reportagem de estreia do especial do Hotelier News sobre o Maksoud Plaza. Eles não estão à toa nessa foto juntos. As vidas de ambos guardam várias similaridades.

Pernambucanos de Vicência, saíram ainda jovens para tentar a vida em São Paulo e, uma vez na cidade, encontraram uma morada profissionais para a vida toda. Juntos, acumulam quase 50 anos de dedicação ao cinco estrelas paulistano. Agora, por mais incrível que possa parecer, e embora sejam de uma cidade pequena, Antônio e Paulo Roberto não se conheciam até se esbarrarem no Maksoud Plaza.

Maksoud Plaza - especial 2_Antônio e Paulo Roberto

De Vicência para São Paulo: Antônio e Paulo Roberto juntos no Maksoud

 

“O Paulo me viu e ficou encucado. Mesmo que a gente não se conhecesse, ele já tinha visto meu rosto antes. Coisas de cidade pequena”, relembra. “Ele se aproximou e me falou: ‘conheço você de algum lugar’.” Começou aí uma identificação imediata entre os dois. “Agora, vou falar que nem precisava de uma recepção assim. É todo mundo muito unido e acolhedor e que chega é bem recebido. E faço questão de retribuir esse acolhimento, incluindo os muitos haitianos que atualmente trabalham aqui”, comenta.

Antônio é casado há quase 20 anos com Maria da Conceição, que conheceu em Vicência. Mais velho, o primeiro já morava e trabalhava em São Paulo quando engataram o namoro. “Fui em minhas primeiras férias para casa e começamos a namorar. Ela se animou para ir para São Paulo, mas teve que esperar um ano para que isso acontecesse. A mãe dela a considerava muito jovem, mas em 2001 ela veio comigo”, relembra.

Da relação dos dois nasceu João Victor, atualmente com 15 anos. Hoje, em tempos de pandemia, o garoto pouco sai de casa, tendo aulas online. “É um menino tranquilo, caseiro e do bem. Gosta de coisas da idade dele, como jogar videogame e ficar na internet, mas ele nos ajuda muito. Eu e minha esposa ficamos o dia todo fora e é ele quem cuida da casa. É muito organizado e se vira para aprender as coisas. Acho que puxou o pai”, brinca Antônio.

Hoje, a rotina de Antônio começa às 5h. Pouco depois, leva a esposa Maria da Conceição de carro até a estação de metrô do Jabaquara, bairro onde moram há 15 anos. “Ela trabalha como agente de saúde e pega cedo no serviço. Após deixá-la, volto para casa, tomo café e já me preparo para sair. Às 8h e pouca já estou no hotel”, descreve.

Ao chegar, busca se atualizar sobre as pendências e sai logo na sequência para uma ronda. “Coordeno o trabalho das camareiras e da limpeza. Então, é essencial dar essa volta pelo hotel para entender as prioridades do dia. Vou nos andares, nas salas de eventos, entro nos quartos…Em pouco tempo já sei o que é preciso ser feito”, conta.

O futuro garantido

No ano passado, contudo, sua rotina foi totalmente alterada pela pandemia. Ao lado de outros 30 colaboradores, Antônio ia todo dia para “tomar conta do hotel”. “Era estranho chegar e ver tudo vazio. Menos de um mês antes o hotel estava com 100%, lotado de gente. É como falava para o resto da equipe: isso é temporário e não só no Maksoud. Toda hotelaria está passando por isso.”

Hoje, o hotel vive outro momento – e com certeza melhor do que esse do ano passado. Os efeitos da pandemia ainda se fazem presentes, mas o movimento voltou. “O hotel reduziu a oferta de quartos e, antes da segunda onda, estávamos batendo a meta. Seguimos trabalhando duro e tenho muita fé de que o mercado vai voltar”, afirma.

Sua fé também segue inabalável no Maksoud Plaza. Ali é sua segunda casa, é o local onde passou boa parte da sua vida. “Foi aqui que comecei minha história e aprendi tudo que sei. Como falei no começo: nem sabia o que era um hotel. Reconhecimento não me falta e é isso que me motiva para continuar”, diz Antônio, que tem como plano principal comprar a tão sonhada casa própria. “Quero deixar minha família bem, né? Acho que todo mundo sonha com isso. Depois, é aposentar e curtir o restante da vida. Agora, isso está ainda tão longe…”

Enquanto isso, Antônio faz o que sabe melhor: trabalhar duro pela única empresa que se dedicou a vida toda. E ele faz com tranquilidade, porque nenhum dos dois desistiu do outro!

Maksoud Plaza - especial 2_Antônio e família

Antônio trabalha duro para garantir uma vida melhor para Maria Conceição e João Victor

 

(*) Crédito das fotos: Vinicius Medeiros/Hotelier News

(**) Crédito das fotos pessoais: Arquivo pessoal