Abrindo o calendário de eventos do turismo em 2023, o Lacte 18 retorna ao WTC Events Center, em São Paulo, para trazer uma série de conteúdos ao mercado. Promovida pela Alagev (Associação Latino Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas), a iniciativa teve recorde de inscritos este ano, chegando a 13 mil pessoas.

Celebrando também os 20 anos da associação, o Lacte 13 teve recordes de parcerias com entidades. “Reforçamos nosso propósito de capacitar o setor. Este é um momento de agradecer por tudo que vocês fazem pelo segmento de viagens e eventos corporativos. O WTC é um espaço muito querido e hoje retornamos de maneira grandiosa”, inicia Giovana Jannuzzelli, diretora executiva da Alagev.

Convidado ao palco, Fernando Guinato, diretor do WTC, enaltece a importância do Lacte para o trade turístico. “O Lacte é uma referência e acompanhamos a evolução dos eventos e suas transformações. Hoje não apenas vendemos espaços, mas também tecnologia e o Lacte entendeu isso muito bem”. O executivo ainda revela a data da iniciativa em 2024, marcada para os dias 25 e 26 de fevereiro.

Por fim, Juliana Patti, presidente da Alagev, ressalta a importância das parcerias com organizações atuantes no turismo. “Reforçamos nossa aproximação com entidades como Fecomercio e Resorts Brasil, por exemplo, que estamos realizando um trabalho mais intenso”, complementa.

Vale destacar que o Lacte 18 é um evento lixo zero, com diferentes ativações voltadas ao ESG. A organização prezou pelo uso da tecnologia, distribuição de copos e a extinção de panfletos durante sua realização. A Alagev também trouxe ao debate a questão racial dentro de suas comunidades, com o intuito de promover maior diversidade.


Viagens corporativas faturaram R$ 94 bilhões em 2022

Iniciando oficialmente as rodadas de conteúdos do Lacte 18, Guilherme Dietze — consultor econômico da FecomercioSP — compartilhou indicadores de estudos em parceria entre a entidade e a Alagev. A pesquisa traz a relação entre as projeções econômicas e os resultados do segmento de viagens corporativas.

No acumulado de janeiro a novembro de 2022, o setor de viagens corporativas movimentou R$ 86,6 bilhões. Apenas em novembro, o montante foi de R$ 9,5 bilhões. Para o balanço anual, o faturamento foi de R$ 94 bilhões — o que representa incremento de 82% frente ao ano anterior.

A receita representa gastos das empresas com transporte aéreo, rodoviário, meios de hospedagens, alimentação, locação de veículos, agências e operadoras. “Estamos falando de um mercado bilionário. No histórico recente, 2022 está próximo do que tínhamos antes da pandemia e estamos voltando com tudo. O crescimento é fruto do retorno da demanda e aquecimento das cotas de consumidores”, avalia Dietze.

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2023 será o ano do turismo, diz Dietze

O setor aéreo, por exemplo, cresceu 28% em 2022, enquanto os meios de hospedagens subiram 45% em relação a 2021. Contudo, o executivo salienta que as empresas estão viajando com custos mais elevados. “A inflação do turismo está em torno de 23%, muito acima dos 6% da inflação nacional. Os gastos dessas empresas estão muito maiores”.

Por fim, Dietze trouxe algumas reflexões e desafios do setor de turismo em 2023:

  • Base comparativa frágil;
  • Centros de eventos e destinos sem data para o primeiro semestre;
  • Inflação sem surpresas;
  • Preços altos, porém estáveis;
  • Câmbio estável;
  • Realocação de recursos;
  • Redução das tarifas aéreas;
  • Ampliação da malha;
  • Fim dos créditos de cancelamentos e reembolsos.

Desafios

  • Escassez de mão de obra;
  • Custos elevados na cadeia;
  • Restrição de empresas prestadoras de serviços;
  • Encontros virtuais;
  • Juros altos;
  • Inflação persistente.

Os impactos da distribuição hoteleira na jornada do viajante

Saindo do salão principal, o Foyer 3 do WTC Evenst Center recebeu o minilab que reuniu hoteleiros, fornecedores e convidados para discutir os impactos da distribuição dentro da jornada de compra do viajante.

O debate contou com a presença de Ilka Padula (Wyndham Hotels & Resorts); Renato Cunha (Windsor Hotels); Douglas Lopes (Atlantica); Tadeu Cunha (BeFly) e Hugo Souza (B2B).

“Quando falamos com clientes corporativos também estamos falando de intermediários, que são as ferramentas que ajudam esses hóspedes a chegarem até nós. A disponibilidade precisa estar correta, assim como as categorias e inventários de apartamentos”, inicia Ilka. “O caminho até o hotel passa por várias etapas e hoje existem uma série de sistemas para que o consumidor fique conosco”, completa a executiva.

Gerente de Vendas da Windsor, Cunha relembrou as conexões diretas e indiretas que a hotelaria atua. “Muitos clientes corporativos chegam até nós via OTAs, operadoras e metabuscadores”.

Para Souza, o diferencial é como o hotel vai gerenciar o valor. “Precisamos entender quais canais temos e conhecer a jornada do viajante corporativo, que não começa quando o hóspede chega. Existe dentro desse custo o que o distribuidor agrega de valor ao consumidor final”.

distribuição hoteleira

Debate aconteceu no Foyer 3

Tadeu pontua que a distribuição nos dias atuais não pode mais ser pensada como no passado. “Antes, tudo era concentrado apenas de um lado. Hoje não é mais assim. Os custos precisam ser distribuídos em pedaços. Os canais mudam de valor a todo momento e seria loucura ter um preço final sem sistemas”.

Gerente de Receitas da Atlantica, Lopes explica que os valores das tarifas não variam, mesmo com as diferenças entre as fixas e dinâmicas. “O que muda são as margens de contribuição que cada uma traz para o hotel, pois as mensalidades variam de plataforma para plataforma, mas o custo em si, não. A distribuição hoteleira é complexa e tem muitos caminhos que são fáceis de entender, porque o difícil é compreender quem está intermediando”.


Transformação digital: o que impede avanços significativos?

Na plenária de conteúdos do Lacte 18, Fabricia Garcia — agile expert da Raia Drogasil — contribuiu com um olhar de fora do segmento turístico. Setor considerado atrasado tecnologicamente falando, o turismo vem buscando sua transformação digital, mas ainda longe do ideal.

Com uma dinâmica diferente, a profissional trouxe mais perguntas do que respostas para o público. Durante sua palestra, Fabricia compartilhou alguns questionamentos para que os presentes se reunissem em grupos de quatro ou cinco pessoas para refletir a respeito. A primeira delas foi “o que é transformação digital?”.

Algumas respostas escolhidas foram: melhora da tecnologia, inovações, revolução, agilidade, mudança de mentalidade, modernização de empresas, entre outras opções e ideias. “Quando falamos em transformação digital, a primeira coisa que vem à nossa cabeça é um software ou uma nova ferramenta, pois fomos condicionados a isso”, inicia Fabricia.

Fazendo uma linha do tempo, a executiva relembrou como a humanidade evoluiu ao longo dos séculos e, consequentemente, sua forma de pensar. “Vivemos por séculos com uma visão centrada no divino. Sempre buscamos uma explicação para o mundo ao nosso redor a partir de uma perspectiva teocentrista”, acrescenta.

Passando pelas revoluções industriais e o advento de novas tecnologias, a palestrante ressalta que a transformação digital veio a partir dessas evoluções. “Essas revoluções foram ocorrendo em virtude da necessidade da sociedade que demandou essas transformações. Não foi o business, mas a vida das pessoas”.

Em seguida, ela debateu qual deveria ser o alvo da transformação digital nos dias atuais. “Deveríamos ter focado esse processo nas pessoas, com viés social. Não pensamos na experiência das pessoas, pois elas que entregam os resultados para os negócios”, avalia. “São para elas que devemos transformar”.

(*) Crédito das fotos: Nayara Matteis/Hotelier News