Com o avanço da vacinação e os indicadores apresentando sinais otimistas de recuperação, chegou a hora de olhar para o futuro. Desde o início da pandemia, muitas tendências para o novo normal foram especuladas e debatidas. Para comemorar seus 25 anos de operações no país, a JLL promoveu uma live para discutir sobre o que esperar dos próximos 25 anos da hotelaria no Brasil.

A transmissão reuniu Ricardo Mader e Pedro Freire, diretores de Valuation and Advisory Services da JLL, Alexandre Solleiro, CEO do BHG (Brazil Hospitality Group), e Orlando de Souza, presidente do FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil). A conversa ainda teve mediação de Thays Aldrighe, também da JLL.

Para esquentar o bate-papo, os convidados compartilharam suas visões e principais lições absorvidas com a pandemia. Mader ressalta que as novas maneiras de operar os ativos e o uso da tecnologia na gestão e experiência serão legados que se perpetuarão mesmo após o fim da crise.

“O setor aprendeu a trabalhar em momentos de recessão e a fazer a administração de custos. A crise foi importante para entender os impactos das despesas fixas, saber controlá-las e ter planejamento. Daqui pra frente, donos de hotéis e operadoras entenderão que não se pode ter gordura e sim maximizar os lucros. Somos um segmento de serviços e é preciso ter equilíbrio entre receitas e despesas”, pontua Mader.

Freire acrescenta que os projetos arquitetônicos e design hoteleiro também passarão por mudanças nos próximos anos. O executivo acredita que novas possibilidades de usos de espaços devem abrir oportunidades para os hoteleiros. “Os empreendimentos têm que ser mais flexíveis para atender às novas demandas. Um exemplo é a capacidade para eventos híbridos e presenciais, espaços multifuncionais, room offices e fitness room. Outro ponto é a procura por ambientes ao ar livre e mais arejados”.

Antes da pandemia, o mercado brasileiro sofria com certo excesso de oferta em alguns destinos. Dentre os poucos pontos positivos da crise, Solleiro afirma que o período deve regular o número de hotéis nessas cidades. “O excesso é setorial e acontece em determinados lugares. Não é uma questão nacional. O Rio de Janeiro, por exemplo, teve um crescimento anormal por conta da Copa do Mundo e Olimpíadas. Entretanto, a pandemia causou o fechamento de muitas unidades, o que deve regular essa oferta. Por outro lado, acredito que o mercado ainda tem muito o que crescer”.

O presidente do FOHB avalia a crise como positiva para a união do trade turístico, que ganhou força com a junção de demandas em comum no último ano. “O setor sempre foi muito fragmentado e cada um lutava por causas próprias. Essa pulverização tornava o segmento fragilizado. Como a pandemia atingiu a todos, o inimigo em comum fez com que as pessoas se unissem. Esta é uma lição positiva, ainda que existam demandas específicas”.

JLL: recuperação de diária média

Ainda que as ocupações estejam ganhando corpo, a diária média não segue o mesmo padrão. Solleiro ressalta que a questão precisa ser olhada com urgência pela hotelaria. “O nível tarifário brasileiro ainda não chegou aos índices pré-pandemia, como já vimos em mercados como os EUA e Europa. É uma decisão que precisa ser tomada rapidamente, pois os hotéis e serviços não perderam qualidade nem valor. Os empreendimentos já entenderam que vender mais barato não vai atrair mais hóspedes”.

O CEO da BHG complementa dizendo que devido às quedas de preço, algumas categorias acabaram se misturando, o que causou uma perda de referência. “Quando olhamos para a pirâmide, ela não está deformada. Entretanto, houve um achatamento de preços de cima pra baixo. É preciso ter um posicionamento mais claro de mercado”.

E, se a hotelaria deve chegar aos níveis pré-pandemia apenas em 2023, segundo estudo divulgado pela JLL, hoteleiros precisam identificar diferenciais competitivos e se adaptar ao novo momento. “A experiência que vamos viver durante algum tempo será, de certa forma, inusitada. Até mesmo neurótica. Ninguém sai de uma pandemia de uma vez, achando que está tudo bem. E neste cenário precisaremos capacitar equipes para este novo momento de convivência”, avalia Souza.

Tais comportamentos reforçam a fala de Freire, que acrescenta que entre os pontos mais relevantes de decisão de compra de hotéis estão a higiene e preocupação com a limpeza. “Antes, os fatores decisivos eram preço e localização. Cada hotel precisa atender a expectativa de seu público, mas neste momento de transição, estes são os critérios”, diz.

(*) Crédito da foto: reprodução da internet